Mais de mil cafeicultores da região da Serra da Canastra terão produto e trabalho ainda mais valorizados com a Denominação de Origem (DO)
A região conhecida pela qualidade dos queijos artesanais – iguaria que recebeu, em 2008, o título de Patrimônio Cultural Imaterial do país, e a IG de Indicação de Procedência (IP), em 2012 -, agora também ganha destaque na cafeicultura. O registro na modalidade Denominação de Origem (DO) acaba de ser conquistado pelos cafeicultores da Serra da Canastra, localizada entre o Oeste e Sul de Minas Gerais.
“Com esse reconhecimento poderemos ampliar nossos negócios e agregar mais valor aos produtos. Vamos seguir os protocolos definidos e buscar um maior equilíbrio dos processos de manejo, cumprindo os requisitos ambientais, sociais e trabalhistas” afirma engenheiro agrônomo e produtor José Carlos Bacili, presidente da Associação dos Cafeicultores da Canastra (Acanastra).
Ele destaca que “como resultado, os consumidores continuarão desfrutando da qualidade dos nossos produtos e os cafeicultores poderão aprimorar seus modelos de produção”.
Melhoria da qualidade
Bacili ressalta que o desenvolvimento da cafeicultura na região é fruto do trabalho intenso da Associação dos Cafeicultores da Canastra em parceria com o Sebrae Minas, que viabiliza diversas ações para promover a identidade do território e implementar práticas para a melhoria contínua da qualidade do produto e para a disseminação de práticas sustentáveis na atividade.
Segundo o presidente da Acanastra, entre as iniciativas está a realização de um estudo técnico que identificou as características do território, métodos de cultivo, colheita e pós-colheita utilizados pelos produtores locais, e os atributos específicos do café produzido na região.
“No caso da Canastra, os cafés apresentam, predominantemente, aroma e sabor de mel, frutas amarelas, tropicais e cítricas, chocolate ao leite com nuances de castanha, limão-cravo e laranja, com doçura alta e notas de açúcar mascavo e cana de açúcar, em equilíbrio com a acidez elevada e predominantemente cítrica”, relata o agrônomo.
Diferencial competitivo
O produtor conta que, devido a essas características únicas, em 2022, a Acanastra, com apoio do Sebrae Minas, deu entrada ao pedido de registro de IG no INPI. “Para dar embasamento à solicitação, além do estudo técnico, o Caderno de Especificações Técnicas da DO foi construído e a governança local foi estruturada, através do fortalecimento da associação de produtores e da formação do Conselho Regulador da DO”, informa.
O presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva explica que, assim como aconteceu com o queijo, a conquista da Indicação Geográfica garante a qualidade e a autenticidade dos cafés produzidos nos 10 municípios que compõem essa região. “Isso não apenas valoriza a cultura e a tradição local, mas também agrega valor à produção, impulsiona o desenvolvimento econômico do território e fortalece a reputação da Canastra. Esse reconhecimento cria mais um diferencial competitivo para o Café da Canastra no mercado”, afirma
Marca território
Ele acentua que a IG é mais uma conquista dos cafeicultores da região. “Em junho de 2023, a Associação dos Cafeicultores da Canastra e o Sebrae Minas lançaram a marca território ‘Café da Canastra’, uma estratégia de promoção e posicionamento do produto no mercado para fortalecer a união dos produtores e a identidade do território”, avalia.
De acordo com o profissional, a nova marca expressa os valores, crenças e atitudes dos produtores, garantindo a competitividade do café da região. “A criação dessa estratégia de branding também dá suporte aos planos estratégico, operacional e tático que serão direcionados para o desenvolvimento da governança, marketing, estruturação do sistema de origem controlada, engajamento dos produtores e empresas e disseminação de conhecimentos e implantação de novas tecnologias”, afirma.
Regiões beneficiadas
Além da Canastra, outras sete regiões em Minas Gerais foram beneficiadas com o trabalho do Sebrae Minas no desenvolvimento local em torno da cafeicultura. São elas: Cerrado Mineiro, Matas de Minas, Mantiqueira de Minas, Chapada de Minas, Região Vulcânica, Campo das Vertentes e Sudoeste de Minas.
O presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas sublinha que “o fascínio pelo aroma e sabor do café mineiro torna Minas Gerais o maior produtor do grão no país”.
Ele revela que, em 2022, o estado produziu 22 milhões de sacas de 60 quilos, em uma área de 1,3 milhão de hectares, cerca de 54% da área total de produção cafeeira do Brasil, de acordo com a Embrapa.
“Além disso, historicamente, Minas valoriza suas regiões produtoras, o que é evidenciado pelo trabalho do Sebrae Minas na construção da estratégia de origem desenvolvida de norte a sul do estado”, justifica.
Café da Canastra
Silva relata que são 10 municípios beneficiados com a Denominação de Origem, mil e cem produtores de café, 21.500 empregos diretos e indiretos, 750 mil sacas produzidas por ano, além de 33.223 ha de área plantada – Piumhi (16.228 ha) e São Roque de Minas (5.888 há), juntas, somam mais de 60% da área de café.