Produto mais completo desenvolvido em laboratório de nanotecnologia da Embrapa, em parceria com a Produquímica, Microactive é revestido por película formada por micronutrientes em grande concentração e recobre os grânulos dos macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio, conhecidos pela sigla NPK
Um fertilizante mais poderoso, desenvolvido por pesquisadores brasileiros, traz ao País uma tecnologia pioneira, que vem proporcionando ótimos resultados aos agricultores. Com ele, o produtor rural consegue elevar a produtividade da fazenda, reduzindo custos e até as aplicações de produtos semelhantes em campo.
Formado por uma película composta por micronutrientes em grande concentração, esse produto inovador – batizado de Microactive – recobre, de maneira homogênea, os grânulos dos macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio, que são conhecidos pela sigla NPK.
Para chegar ao resultado final, foi necessário o envolvimento de cientistas durante quatro anos, que atuam nos estudos desenvolvidos há uma década, no Laboratório Nacional de Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio (LNNA). Esse espaço faz parte da Unidade de Instrumentação (SP) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que, por sua vez, lidera a Rede AgroNano.
Parceria privada
De acordo com a estatal, “a pesquisa é um exemplo bem sucedido de inovação aberta que envolveu a empresa do setor produtivo Produquímica/Compass Minerals, maior fabricante nacional de micronutrientes, para quem a formulação foi licenciada em 2017”.
Líder da Rede AgroNano, o pesquisador e engenheiro de materiais Caue Ribeiro de Oliveira ressalta que o produto desenvolvido tem a função de recobrir a superfície do grão, que será usado para levar, em conjunto, outro fertilizante.
“Tinha de ser uma capa de alta aderência na superfície, que não se desprendesse quando fosse aplicada. Não poderia sair”, conta o especialista, destacando que o resultado foi um produto altamente concentrado em micronutrientes, que pode ser aplicado diretamente em fertilizantes NPK, sem a necessidade de aditivos.
Oliveira relata que, além dessa adesão eficiente, a formulação teve de contar com uma quantidade próxima ou adequada, o que corresponde à proporção de duas partes de micronutriente para cada uma de macronutriente. Dessa maneira, a planta recebeu todos os elementos de que precisa, de forma balanceada.
Maior desafio
“Esse foi o maior desafio da pesquisa: colocar um nutriente em cima do outro, sem perder a adesão ao longo do tempo, que conseguisse manter a proporção correta, ser de fácil aplicação e ainda que fosse homogêneo. Juntos, desenvolvemos uma fórmula com componentes amigáveis, que não agride o meio ambiente”, garante o engenheiro de materiais.
O especialista afirma que “a complexidade da equação se deve, sobretudo, ao fato de o produtor ter de aplicar o fertilizante na lavoura em grande quantidade, dependendo do tamanho da plantação”.
“Agora, a dosagem inicial deve ser a mesma, sempre, até o final da aplicação. A pesquisa, portanto, consistiu basicamente em encontrar essa formulação: o correto balanço dos componentes e fazer os ajustes”, diz Oliveira.
Rota alternativa
Desenvolvida no âmbito da Rede AgroNano, composta por mais de 150 pesquisadores e com o apoio da Rede FertBrasil, a pesquisa teve início em 2013, a pedido da Produquímica, mas focada no desenvolvimento de uma suspensão de nanopartículas de óxido de zinco (ZnO) como rota tecnológica alternativa para recobrimento de fertilizantes comerciais.
Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Produquímica, Ithamar Prada salienta que a proximidade com o campo permite trazer ideias para o desenvolvimento de tecnologias voltadas às necessidades atuais.
“Em um esforço conjunto de mais de três anos, a parceria entre a Embrapa e a Produquímica desenvolveu um conceito moderno e eficiente de fornecimento de micronutrientes para aplicação via solo: a linha MicroAtive”, comemora.
Exigências do mercado
Para atender às exigências de mercado, no entanto, a pesquisa seguiu outra direção, que culminou no desenvolvimento da formulação atual. A nova tecnologia chegou pouco mais de um ano depois da Instrução Normativa nº 46 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que dispõe sobre regras para uso de fertilizantes minerais destinados à agricultura.
Datada em 22 de novembro de 2016, a Instrução Normativa nº 46 requer soluções referentes à homogeneidade de aplicação de micronutrientes e garantia de composição.
Coordenadora da pesquisa na Embrapa Instrumentação, a doutora em Química Elaine Cristina Paris explica que foram utilizados vários componentes minerais e aditivos na composição do produto. O trabalho envolveu grupos de pesquisadores do LNNA e da unidade da Produquímica, em Suzano (SP), que já desenvolvia micronutrientes com quantidades destinadas a diferentes tipos de culturas.
“Conseguimos desenvolver uma suspensão estável para os fertilizantes, que a empresa já desenvolvia na forma sólida, em pó, com a qual não é possível fazer recobrimento direto”, conta Elaine.
Novas demandas
Para o executivo da Produquímica, a demanda por novas formas de fornecimento de micronutrientes via solo foi motivada por alterações ocorridas no campo. Ele comenta que, com o incremento do plantio direto, a aplicação de calcário em superfície altera as condições de acidez do solo na camada superficial. E essa situação também teria modificado a forma de aplicar os fertilizantes no solo.
“A aplicação via sulco de semeadura mudou, na maior parte das fazendas, para uma aplicação a lanço. Isso faz com que precisemos de produtos que tenham melhor solubilidade e que, principalmente, promovam melhor distribuição espacial”, diz Prada.
Menos custos, mais produtividade
Elaine aponta outras vantagens para a nova tecnologia: a formulação pode reduzir o número de aplicações de fertilizantes, impactando diretamente nos custos da produção agrícola, além de ter o potencial de fornecer as condições ideais de nutrição para as plantas.
“A formulação pode aumentar a produtividade, uma vez que o fornecimento de macro e micronutrientes, de modo simultâneo, permite às plantas produzirem próximo ao seu potencial genético”, defende a doutora em Química.
Para a pesquisadora Maria Alice Martins, integrante do grupo de pesquisa da Embrapa Instrumentação, o desenvolvimento da formulação, considerado um grande desafio, serviu como estímulo para a criação de um novo produto, com demanda direta do mercado e aplicação concreta.
“A pesquisa ainda ofereceu a oportunidade de realização de ensaios em campo, com lavouras, permitindo ao produtor experimentar na prática uma tecnologia desenvolvida e testada em laboratório com equipamentos sofisticados, como a microscopia eletrônica de varredura, utilizada para observar a característica morfológica da formulação”, ressalta Maria Alice, mestre em Engenharia Química e também doutora em Química.
Inovação
“Um dos principais pilares da Produquímica é a inovação. A empresa investe significativamente todos os anos em desenvolvimento de projetos próprios, mas também trabalha em parceria com instituições de pesquisa de renome no Brasil e no mundo. Para nós, é um orgulho ter compartilhado do desenvolvimento da Tecnologia MicroActive em parceria com a Embrapa, uma empresa de pesquisa que tanto admiramos”, comenta Ithamar Prada, diretor de P&D da companhia.
Novidades como essa são sempre bem vindas, considerando que o mercado de fertilizantes no Brasil consumiu mais de 34 milhões de toneladas em todo o ano de 2017, conforme dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). O País, que ocupa o quarto lugar como maior consumidor desse insumo no mundo, ainda precisa importar 75% do total utilizado.
Saiba o que são macro e micronutrientesFertilizantes são adubos sintéticos ou naturais, que disponibilizam nutrientes vitais para o bom desenvolvimento das plantas, sendo classificados segundo as quantidades exigidas por elas e em duas categorias. Os macronutrientes compreendem o nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), enxofre (S), magnésio (Mg) e cálcio (Ca). Já os micronutrientes são o boro (B), cobre (Cu), manganês (Mn), zinco (Zn), molibdênio (Mo), ferro (Fe) e cloro (Cl). Pesquisador líder da Rede AgroNano, da Rede AgroNano, o engenheiro de materiais Caue Ribeiro de Oliveira salienta que “o fertilizante está para a planta assim como as vitaminas estão para o organismo humano”. “Se o indivíduo não tiver determinadas vitaminas, ele não vai conseguir acessar o nutriente. O que muda é a forma com que esse nutriente é levado para a planta. Ela precisa na realidade do íon metálico, do zinco, por exemplo. Sem ele, a planta não acessará o macronutriente, mesmo que ele esteja presente no solo”, explica o cientista. |