Especialista explica porque é impossível utilizar esses produtos na criação de aves
A suposição de quem não conhece a atividade é que, hoje, os frangos são muito mais pesados devido ao uso de hormônios estrogênicos, a exemplo do que acontece com bovinos. Esta conclusão é totalmente errada, uma vez que esses hormônios não ajudam na conversão alimentar nem melhoram a deposição de gordura em aves. As argumentações são de Alfredo Navarro de Andrade, engenheiro agrônomo com mestrado e doutorado pela Universidade de Purdue.
Segundo ele, primeiro, é necessário definir o que são os hormônios. “Por definição, hormônios são substâncias regulatórias produzidas em um órgão (glândula) e transportadas pela corrente sanguínea para órgãos ou tecidos específicos promovendo uma ação”, afirma e reforça: “Os hormônios nunca foram usados em frango, portanto, não se pode falar em frangos produzidos com hormônios.”
Para ilustrar, o especialista cita alguns exemplos de hormônios – crescimento (somatropina), prolactina, insulina, vasopressina (ADH), oxitocina, aldosterona, tiroxina, FSH, LH, testoterona, estradiol (alfa, beta, gama etc), progesterona e muitos outros.
Andrade menciona uma razão para não se utilizar hormônio do crescimento e esteroides anabolizantes em frangos: “Hormônio do crescimento em frangos de corte não funciona, por uma razão fisiológica. Este hormônio em aves é produzido em picos de poucos nanogramas a cada 60/90 minutos, ou seja, não seria possível reproduzir esse tipo de administração em granjas de frangos de corte”, explica. “É inimaginável milhares de frangos com uma cânula na veia da asa ligada a um frasquinho em um suporte com uma ampola com hormônio do crescimento.”
Com relação aos esteróides anabolizantes, Andrade afirma que o prazo de criação é tão curto que não haveria tempo útil para demonstrar qualquer efeito, além do fato de que também teria que ser administrado por injeção ou por meio de implantes.
Uso proibido
“Faz-se importante esclarecer que o hormônio usado em bovinos, o DES (aliás, proibido), é à base de estrogênio (hormônio feminino), pois, além de acalmar o animal, melhora o desenvolvimento dos traseiros, parte mais valorizada da carcaça, e aumenta a marmorização”, argumenta.
Caso fosse utilizada a testosterona, o veterinário afirma que o novilho desenvolveria características de touro (traseiro pequeno e peito forte, como exemplo, o miúra). “É para evitar esse problema que os machos são castrados”, observa e acrescenta que, “à luz dos conhecimentos científicos atuais, não vislumbramos qualquer condição de os produtores de frangos poderem utilizar hormônio do crescimento e esteroides anabolizantes em frango”.
Promotores de crescimento
De acordo com Andrade, o que existe, de fato, na criação de frangos, é o uso de antibióticos, de forma constante, como promotores de crescimento. “O uso de antibióticos que não são absorvidos ou pouco absorvidos pela mucosa intestinal é feito sob condições especiais, em doses pequenas (subterapêuticas), e não devem ser usados na terapêutica humana”, informa.
O veterinário acrescenta que esse uso é feito para proporcionar uma melhor flora bacteriana intestinal, eliminando algumas bactérias que são nocivas e causam danos à mucosa, resultando em uma diminuição da absorção de nutrientes. Ele relata que o início dessa prática aconteceu no fim da década de 1950, quando pesquisadores, em uma Universidade do Texas, estudavam a produção inicial de vitamina B12 por fermentação.
No estágio inicial dos procedimentos de purificação da Vitamina B12 produzida, eles descobriram que, quanto mais pura era a B12, havia uma correspondente piora na conversão alimentar dos frangos.
“Analisando com mais cuidado, descobriram que o processo de purificação compreendia a total eliminação de contaminação do produto final pelo meio de cultura. Investigando o meio de cultura após a extração da Vitamina B12, verificaram que, junto com a vitamina, a fermentação também produzia um pouco de antibiótico e que este era o responsável por parte dos benefícios da adição de Vitamina B12 à ração”, conta.
O veterinário afirma que atualmente existe a preocupação de que o uso indiscriminado de antibióticos como promotores de crescimento possa resultar no aparecimento de bactérias resistentes a alguns antibióticos e até ocasionar problemas para a saúde humana. “Na União Europeia seu uso como promotor de crescimento está proibido, mas é de conhecimento que o uso terapêutico cresceu, de tal forma, que a situação de sanidade dos plantéis não se justifica”, comenta.
Segundo Andrade, atualmente já existem alternativas ao uso de antibióticos como promotores de crescimento, como probióticos, prebióticos, fitoterápicos, óleos essenciais e enzimas. “Seu uso depende do criador, do mercado ao qual o produto se destina e do grau de conhecimento do produtor quanto às diversas alternativas”, ressalta e arremata: “podemos garantir que os frangos do Brasil têm, senão a melhor, uma das melhores qualidades em termos de segurança alimentar, basta verificar quais os países que compram os frangos brasileiros”.