Conheça o app que ajuda no planejamento de projetos de restauração desse bioma
Em 27 de maio, o Brasil comemora o Dia Nacional da Mata Atlântica, criado por Decreto Presidencial em 1999. A escolha foi feita em memória a 27 de maio de 1560, quando padre José de Anchieta assinou a “Carta de São Vicente”, na qual descreveu a biodiversidade das florestas tropicais. A data tem servido para instituições conscientizarem as pessoas sobre a importância de proteger, preservar e recuperar esse importante bioma, que teve 93% de sua área devastada.
Pesquisadores da Embrapa Agrobiologia (RJ) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) desenvolveram o aplicativo Restaura Mata Atlântica com o objetivo de subsidiar técnicos e produtores rurais para conciliar o planejamento ambiental à atividade agrícola para que possam produzir, conservar ou restaurar esse bioma. O app pode ser usado em ambientes on-line ou off-line, é gratuito e está disponível para download na loja de aplicativos Google Play.
A ferramenta reúne informações sobre as principais espécies florestais nativas do bioma, como o nome científico, o nome popular e onde ocorre. “Além de dados botânicos, buscamos inserir características funcionais das espécies, como sua capacidade de fixação biológica de nitrogênio, a atratividade que exerce sobre a fauna silvestre e a oferta de produtos florestais madeireiros e não madeireiros”, relata o pesquisador da Embrapa Luiz Fernando Duarte de Moraes, um dos idealizadores do app.
Para obter as informações, o usuário pode optar e utilizar o botão “Busca catálogo” ou “Busca por estado”. Para cada opção, é possível criar filtros considerando espécies fixadoras de nitrogênio, biomas, uso econômico, tipos de solo e ocorrência. Além disso, é possível saber se a espécie é ameaçada de extinção, criar uma lista de espécies “favoritas” e ainda compartilhar as informações.
Segundo Moraes, o app permite o planejamento ambiental e econômico dos projetos de restauração, contribuindo para o uso racional dos recursos naturais. “O ponto de partida é a relação entre a biodiversidade e o funcionamento de ecossistemas”, diz o pesquisador. Ele explica que a escolha adequada das espécies, baseada em suas características ecológicas, fitotécnicas e potencial econômico, contribui para aumentar a probabilidade do sucesso dos projetos de restauração florestal.
A falta de evidentes retornos econômicos e produtivos pela restauração das áreas de preservação permanente e de reserva legal dificulta sua adoção pelo produtor rural, mesmo em situações em que é necessária a reparação de danos ambientais. Devido aos altos custos de implantação e manutenção, muitos proprietários rurais entendem a prática de restauração como uma concorrente em área de produção, além de representar um gasto a mais na propriedade.
“Por isso, eles têm dificuldades em visualizar a contribuição dessa prática para a conservação dos recursos naturais e a provisão de serviços ambientais, importantes também para a produção agropecuária, como a disponibilidade de água”, explica o cientista. Com o aplicativo, o produtor, ou o técnico, pode escolher as espécies que mais se adequam à sua realidade e que também possam lhe trazer algum retorno econômico.
Ciência Cidadã
Por ser uma base extensa, os idealizadores explicam que não será incomum encontrar lacunas de informação para algumas espécies. “O que parece fragilidade é justamente uma grande oportunidade de exercermos o princípio da Ciência Cidadã, baseada na participação voluntária de todo cidadão interessado em compartilhar seu conhecimento para o bem da coletividade”, explica o pesquisador.
A concepção dos idealizadores é de um produto de construção contínua e coletiva, em que o usuário pode colaborar a qualquer momento. “Quem dispuser de alguma informação que queira compartilhar para enriquecer nossa lista de espécies vai encontrar a orientação no próprio aplicativo”, avisa Moraes.
Apesar de 276 espécies ser considerado um acervo robusto, o Restaura nasce com a possibilidade de expansão e pode agregar dados adicionais sobre novas espécies ou mesmo ser expandido e apresentar informações de outros biomas brasileiros. Além disso, segundo o professor da UFFRJ Sérgio Serra, o app é facilmente atualizável. “Entre as possíveis melhorias estão a adição de imagens das plantas e a oferta de interfaces mais inclusivas para usuários portadores de necessidades especiais”, informa o professor.
O bioma
Com uma biodiversidade oito vezes maior que a da Amazônia, a Mata Atlântica é considerada um dos 25 hotspots de biodiversidade do mundo, áreas que perderam pelo menos 70% de sua cobertura vegetal original, mas que, juntas, abrigam 60% de todas as espécies terrestres do planeta (veja infográfico).
Preservar a Mata Atlântica significa, entre outras coisas, proteger uma das mais ricas biodiversidades do mundo. Além disso, os especialistas ressaltam que a preservação desse bioma favorece a estabilização e a regulação do clima das maiores cidades do País, garante o fornecimento de água para mais da metade da população brasileira e conserva o solo e milhares de espécies de vida animal e vegetal.
Referência
Elaborado por estudantes vencedores de um Hackaton Acadêmico, o app teve como material de referência publicações sobre as espécies vegetais nativas da Mata Atlântica produzidas em estudos liderados pelo pesquisador da Embrapa e sua equipe. Uma das maiores dificuldades dos desenvolvedores foi a gestão desses dados científicos.
Fruto de uma parceria entre a Embrapa e a UFRRJ, o Restaura foi desenvolvido por uma equipe multidisciplinar formada por estudantes dos cursos de Agronomia (Pedro Vieira) e Sistemas de Informação (Renan Miranda, Gabriel Rizzo e Felipe Klinger) da Universidade, tendo como mentores o professor Serra e o pesquisador Moraes.
“A parceria permitiu não apenas a criação de um produto inovador e robusto, mas principalmente a formação de profissionais com novas habilidades e competências para encarar os novos desafios da sustentabilidade e da agricultura 4.0”, informa o professor.