Produção uniforme de frutos e baixa produtividade são os principais desafios dos agricultores do sudeste do Estado
O plantio de açaí em terra firme está ganhando adeptos nas regiões sul e sudeste do Pará. Um deles é o agricultor Paulo Renê da Silva, que já tem 15 mil plantas em seu lote, localizado no assentamento 26 de Março, no município de Marabá Sudeste Paraense. “Apostamos nesse tipo de manejo do açaí, para ter produção na entressafra”, afirma o agricultor.
O manejo adequado da palmeira nas áreas de terra firme ainda é um desafio aos produtores da região. Um dos gargalos apontados é a baixa produtividade dos açaizais. “A formação dos cachos é um dos principais problemas dessa área”, diz Silva. Já no açaizal do agricultor Francisco Barbosa, os frutos secam antes mesmo de amadurecerem. “Além de secos, não dão polpa e se bater junto com frutos bons muda o gosto da polpa”, conta o agricultor.
Área de açaizeiro de terra firme em assentamento no sudeste do Pará. Crédito: Embrapa/Divulgação
O pesquisador da Embrapa João Tomé de Farias Neto, especialista no cultivo do açaí em terra firme, afirma que esses problemas podem ter diversas causas e os agricultores precisam atentar para a irrigação e a adubação adequadas.
“Não se produz açaí em terra firme sem irrigação. Aliado a isso, uma adubação adequada é fundamental”, explica o pesquisador. Na fase produtiva, o açaizeiro extrai mais potássio do solo, por isso, é preciso intensificar a oferta desse nutriente à planta, segundo especialista.
Faria Neto acredita que o problema dos frutos secos decorre também da necessidade de adubação com micronutrientes, como o mineral boro. E ainda da aplicação de calcário, “que além de corrigir o solo, fornece magnésio”, acrescenta.
Polinização
Outra questão relacionada à produção de frutos é a polinização. A pesquisadora Márcia Maués, da Embrapa Amazônia Oriental, explica que o açaizeiro é uma palmeira de polinização cruzada e precisa de agentes polinizadores para fazer a transferência do pólen entre as touceiras e assim promover a frutificação dos cachos.
Manejo exige irrigação e a adubação adequadas. Crédito: Vinicius Braga
“Nós já sabemos que o açaizeiro tem uma mega diversidade de polinizadores, com mais de 100 espécies de insetos, mas as abelhas nativas são as mais abundantes e frequentes”, explica a pesquisadora.
Márcia ressalta ainda que muitas dessas abelhas não podem ser manejadas, então é fundamental manter ou restaurar a vegetação nativa próxima aos plantios. “São as áreas de floresta primária ou capoeira que fornecem abrigo e alimento aos polinizadores para a agricultura e é muito importante conciliar estratégias de criação de abelhas e de manutenção da vegetação nas propriedades”, comenta.
Produção
Em 2020, o Brasil produziu cerca de 1,7 milhão de toneladas de frutos nas áreas de várzea (manejo de açaizais nativos) e em terra firme (plantio), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Estado do Pará é o maior produtor nacional, com cerca de um milhão e 540 mil toneladas (IBGE/2021).
Na ilustração, os resultados da BRS Pará, desenvolvida pela Embrapa. Crédito: Portal do Açaí/Embrapa
Cultivares
A Embrapa Amazônia Oriental já lançou duas cultivares de açaizeiro para terra firme, a BRS Pará e a BRS Pai d’Égua. O diferencial das variedades é a maior produtividade e a distribuição equilibrada da produção anual, um passo importante para superar a sazonalidade da produção de frutos. “Com irrigação e adubação adequadas, a BRS Pai d’Égua produz 46% no período da entressafra (de janeiro a junho) e 54% na safra (de julho a dezembro)”, afirma o pesquisador Faria Neto.
O trabalho de monitoramento da adoção da BRS Pai d’Égua mostra a ampliação dessa tecnologia no Brasil. A Embrapa estima que, em menos de três anos, desde o seu lançamento em 2019, a BRS Pai d’Égua está presente em 9.964 hectares no país. Os estados que lideram o ranking da aquisição de sementes e mudas dessa variedade são Pará, Amazonas, Maranhão e Bahia.
