Agricultores familiares comemoram resultados programas em qualidade e retorno financeiro
A produtora rural Ivanete Aparecida dos Santos e o marido Adelson, assentados do Projeto de Assentamento Buriti da Conquista, em Paracatu (MG), participam do projeto Mais Leite Coopervap, desenvolvido pela Cooperativa Agropecuária do Vale do Paracatu em parceria com a Embrapa Cerrados, e tem muito que comemorar.
“Estamos no meio de pequenos e médios produtores de leite. Tiramos em média 100 litros de leite por dia. Temos vizinhos que tiram mais do que isso. Mas, o que a gente recebe, após abater a ração do gado, sal mineral e outros gastos, muitas vezes é mais do que esse vizinho”, festeja Ivanete. “Aprendemos com os técnicos e pesquisadores que o planejamento na propriedade rural é fundamental e isso está fazendo muita diferença no nosso dia a dia”, diz ela.
O casal é uma das cem famílias que participam do projeto Mais Leite Coopervap, realizado no âmbito do Programa Mais Leite Saudável, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em 2019, quando entraram no projeto, Ivanete e Adelson produziam 45 litros de leite/dia. “Ano passado chegamos a 180 litros e, seguindo as orientações que recebemos, a qualidade do leite também aumentou muito. Isso faz com que a gente ganhe mais”, diz a produtora.
O casal possui 20 vacas, na propriedade de 42 hectares, e tem como atividades principais a bovinocultura de leite, ao lado da fruticultura e da criação de galinhas. A agrônoma Ana Luiza Caldas, uma das técnicas que acompanha mensalmente os produtores, conta que eles sempre foram muito receptivos e se mostraram desde o início abertos a novos desafios.
“Encontramos aqui produtores dispostos a aderir às novas práticas e a adaptar tecnologias. Hoje eles fazem o monitoramento das despesas, conforme orientamos, bem como o controle reprodutivo dos animais. Essas informações passaram a ser sistematizadas e a gente analisa tudo junto”, afirma.
De acordo com Ana Luiza, o principal gargalo enfrentado nos últimos dois anos foi produzir na propriedade a comida que os animais precisavam. “Os produtores já adotavam a prática de integração lavoura pecuária, mas, era necessário fazer alguns ajustes. Montamos um teste com alternativas tecnológicas na propriedade para que eles pudessem fazer comparativos e decidir que caminho seguir”, relata.
Nesses testes, segundo a agrônoma, a produtividade do milho para silagem foi de 28,8 toneladas/ha no sistema tradicional e 46,8 toneladas/ha, no sistema de cultivo com novas tecnologias.
Outro exemplo
O produtor Ricardo Couto resolveu seguir o caminho do pai, Benedito Eugênio. Também assentados do PA Buriti e participantes do projeto Mais Leite Coopervap, eles viram a produção diária de leite passar de 60 para 200 litros por dia. “O projeto abriu as nossas portas para a tecnologia. Temos hoje assistência de veterinários e agrônomos de graça na nossa propriedade e os resultados são notórios”, comemora.
“Recebemos orientações relacionadas à correção do solo, ao modo de cuidar dos animais, à hora de fazer o trato das vacas. Essa assistência técnica foi uma luz que clareou a gente. Os técnicos são constantes e dedicados e só tenho a agradecer o empenho deles para que a gente continue melhorando”, afirmou o produtor Benedito Eugênio.
Uma das profissionais que acompanha a propriedade é a veterinária Andra Ribeiro. “Apresentamos algumas propostas de técnicas, como o uso do milheto como planta de cobertura do solo. Nesse período, eles conseguiram também melhorar a estrutura do curral e instalar a ordenha mecânica”, conta Andra. “Essas mudanças, associadas a outras, produziram impactos positivos, como o aumento da produtividade da silagem, da natalidade e da qualidade do leite.”
Resultados relevantes
De acordo com o pesquisador José Humberto Xavier, as melhorias nos sistemas produtivos, sobretudo em relação à alimentação do rebanho e à qualidade do leite, propiciaram importantes resultados para os agricultores nos dois primeiros anos agrícolas. “No diagnóstico inicial do projeto, a produção média do grupo de 100 agricultores era de 58 litros/dia. No ano seguinte, passou para 84 litros/dia e no ano agrícola 2020/2021 foi de 113 litros/dia”, informa.
Esse resultado, segundo ele, foi relacionado a três aspectos: aumento da média de produção por vaca, incremento do rebanho e melhoria da taxa de natalidade, o que significa mais vacas em produção. De acordo com o pesquisador, ao mesmo tempo, houve ainda melhoria na qualidade do leite produzido, principalmente em relação à contagem bacteriana total (CBT), que reduziu 50% (quanto menor o valor da CBT, melhor a qualidade do leite).
“Estabelecimentos com produção média diária acima de 100 litros/dia alcançaram renda agrícola por membro da família duas vezes superior aos estabelecimentos com produção diária média inferior a 60 litros/dia”, informa Xavier.
Força dos assentamentos
A região Noroeste de Minas Gerais produz diariamente cerca de 1,5 milhões de litros de leite em mais de 10 mil estabelecimentos, sendo que 80% deles são familiares e contribuem com cerca de 60% do total produzido. O peso dos agricultores familiares para a Coopervap é ainda maior: 87% do leite vem desse grupo, sendo 60% de assentamentos rurais, como o PA Buriti. Além disso, quase 50% da renda bruta da agricultura familiar regional tem origem na pecuária leiteira.
De acordo com o presidente da Coopervap, Valdir de Oliveira, produtores que não fazem parte diretamente do projeto também estão sendo impactados de forma positiva por ele. “Um vizinho quando percebe que o outro está tendo resultado positivo já começa a copiar. Com isso, estamos vendo claramente o perfil deles mudando”, conta.
Segundo Oliveira, o projeto chegou com conhecimento e convenceu as pessoas. “Temos vários exemplos de produtores que produziam 50 litros de leite por dia e hoje produzem 100, 200 litros. Além dos silos que tiveram que aumentar de tamanho. Isso é motivo de muita comemoração”.