Variedades têm certificação orgânica do Mapa e são adequadas à produção familiar
Três milhos variedades de polinização aberta (VPA), e com resistência à estiagem e à cigarrinha, desenvolvidas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), foram multiplicadas pela BMF Orgânicos Yucumã e estarão à disposição do produtor a partir de abril.
A BMF foi licitada pela Epagri para multiplicar e revender para os produtores rurais as sementes dos milhos SCS154 Fortuna, SCS155 Catarina e SCS156 Colorado, desenvolvidos pelo Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar da Epagri (Epagri/Cepaf), em Chapecó, SC.
As sementes estão sendo produzidas em Três Passos, no noroeste do Rio Grande do Sul. Segundo César Alexandre Bourscheid, engenheiro-agrônomo e sócio-proprietário da empresa, a região, entre novembro e dezembro, ficou 50 dias sem chuva, mas o clima não comprometeu a produtividade das lavouras. “As variedades se destacaram pela resistência (à estiagem), rusticidade e produtividade”, atesta.
A colheita dos milhos para produção de sementes, que começa neste mês e a expectativa é de colheita superior a 100 sacas por hectare nos campos da BMF. “Algumas áreas devem produzir até 120 sacas por hectare, num cenário em que outras lavouras de milho da região perderam toda a produção, devido à estiagem”, relata Bourscheid.
Conforme estudo publicado pela Rede Técnica Cooperativa (RTC) do Rio Grande do Sul, as perdas do milho sequeiro no Estado devem chegar a 60%. “Nunca vi algo tão abrangente em termos de área. Essa estiagem pegou tanto o milho semeado, como o tardio. Há regiões com 100% de perda”, informa Geomar Corassa, coordenador da RTC.
Produção
Quem apostou nos milhos VPA no Rio Grande do Sul está comemorando os resultados. É o caso do agricultor Maurício Scheffer, de Chiapetta. “Há três anos estou plantando a variedade SCS155 Catarina sempre surpreende”, atesta o produtor.
Nesta safra, ele aumentou a área e espera colher acima de 100 sacas por hectare. “A lavoura está se comportando muito bem no solo, acredito que eu vou ter uma excelente produção de milho”, prevê o produtor que realiza controle biológico aliado à aplicação de nitrogênio.
Resistência
O engenheiro-agrônomo da BMF destaca a resistência das variedades às doenças do complexo de enfezamentos, causadas pelo ataque da cigarrinha-do-milho. Assim como em Santa Catarina, a população do inseto cresceu substancialmente nas plantações de milho gaúchas, desde a safra passada, causando perdas de até 100%, mas nos campos da BMF o efeito não foi sentido.
De acordo com Felipe Bermudez, melhorista genético de milho da Epagri/Cepaf, a grande plasticidade genética é um dos segredos do bom desempenho a campo dos milhos VPA da Epagri.
“Como uma planta é geneticamente diferente da outra, o VPA pode sofrer com variações climáticas, doenças e pragas, mas apresenta maior estabilidade que o híbrido, evitando perdas maiores de safra, diz Bermudez. “No caso dos híbridos, como as plantas são geneticamente parecidas, terão reações similares em situações de estresse, gerando perdas maiores no caso de ocorrência desses imprevistos.”
Conforme explica, o milho VPA é diferente do transgênico e do híbrido. “Resultado de melhoramento genético em campo, sem alteração de genes em laboratório, é um produto rústico, adequado à produção familiar, já que não exige grandes investimentos em tecnologia, como adubação e defensivos”, esclarece Bermudez. “O custo da semente também é bem mais acessível a pequenos agricultores, na comparação com híbridos e transgênicos”, acrescenta.
Reservas
As sementes Epagri estarão disponíveis para os agricultores a partir de abril, sendo 100 toneladas de sementes do SCS155 Catarina, 10 toneladas do SCS156 Colorado e 10 toneladas do SCS154 Fortuna. Uma tonelada de cada cultivar já está reservada para ser despachada para o Togo, no continente africano.
Ele destaca ainda que as sementes produzidas pela BMF têm certificação orgânica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Não tem material melhor para o agricultor familiar, o custo é acessível e é muito produtivo”, afirma o engenheiro-agrônomo.
Fonte: Assessoria de Comunicação Epagri