Reunindo cerca de 300 pesquisadores e técnicos responsáveis por projetos na América Latina, África e Ásia, a I Conferência Global de Biofortificação debateu duas questões críticas e que serão priorizadas pelos futuros projetos de biofortificação de alimentos: a transferência de tecnologia e avaliação de impactos na saúde pública com a adoção de alimentos mais nutritivos.
A Embrapa esteve presente e enfatizou a necessidade de mobilizar competências e estreitar parcerias entre os países do Hemisfério Sul, como o Brasil tem feito com os países africanos, para implementar plataformas de desenvolvimento. Depois da Revolução Verde, que priorizou a produtividade, chegou a vez de olhar os alimentos sob a ótica da qualidade nutricional. Por exemplo, na falta de vitamina A, o organismo fica suscetível a doenças e ao comprometimento da visão. No Brasil, a Embrapa Hortaliças – como parte do projeto BioFORT, liderado pela Embrapa Agroindústria de Alimentos – conduz trabalhos de melhoramento de uma ba tata-doce de polpa alaranjada, com maior teor de vitamina A.
Biofortificação
“Se alguém quiser saber o que é biofortificação, precisa ver os trabalhos no Brasil”, frisou Howarth Bouis, diretor do HarvestPlus, na abertura da Conferência. É que o Brasil é o único país que investe simultaneamente no melhoramento de oito culturas básicas: arroz, feijão, feijão-caupi e trigo para maiores teores de ferro e zinco; mandioca, milho, abóbora e a citada batata-doce para maiores teores de vitamina A. De acordo com Bouis, ainda faltam estudos para compreender melhor como os alimentos influenciam na nutrição humana. Por muito tempo, a agricultura esteve dissociada da nutrição, mas muitos trabalhos têm mostrado que a interação entre as duas pode ser uma das mais eficientes estratégias para combater a má nutrição ou fome oculta.
Francisco Reifschneider representou a Embrapa no painel “Caminhos a Seguir”. Ele frisou a necessidade de estreitar a cooperação Sul-Sul (América Latina, África e Ásia) devido aos problemas, soluções e competências em comum e que precisam ser compartilhadas. Um exemplo é a plataforma de inovação agrícola entre Brasil e Moçambique, que vem conquistando apoio de agências internacionais como Banco Mundial e DFID. “Não se pode pensar em programas sem interações, e sempre primando pela ciência de qualidade. É preciso haver uma mobilização para formar uma comunidade de biofortificação e, assim, caminhar para dar visibilidade aos resultados já obtidos e seus impactos”, afirma o pesquisador.