Cultivares, desenvolvidas para as condições de Cerrado do Brasil Central, são voltadas para a produção de amido
A Embrapa Cerrados (DF) lançou, dia 14 deste mês, as cultivares de mandioca para a indústria de farinha e de fécula BRS 417, BRS 418 e BRS 419, as primeiras desenvolvidas para as condições do Cerrado do Brasil Central. Os três novos clones foram gerados pelo programa de melhoramento genético da unidade e selecionados inicialmente nos campos experimentais em Planaltina, DF.
Entre as suas características estão elevada produtividade de amido – até 30% superior à da cultivar mais plantada na região –, arquitetura favorável aos tratos culturais e ao plantio mecanizado, devido à altura mais elevada das plantas e da primeira ramificação e moderada resistência à bacteriose, principal doença da cultura na região.
“São materiais que vão agregar características tecnológicas aos sistemas de produção de mandioca, como a facilitação do plantio mecanizado, que reduz o uso de mão de obra, além de aumentar a produtividade de amido por hectare e facilitar os tratos culturais, como aplicação de herbicidas, adubação de segundo ciclo e poda”, afirma o pesquisador Eduardo Alano Vieira. “Essas características contribuem de forma direta para a redução dos custos de produção.”
Iniciativa
Resultado de uma pesquisa de melhoramento genético participativo, iniciada em 2012, contou coma a participação de mandiocultores, cooperativas e extensionistas rurais de diferentes polos de produção de amido do Cerrado. A expectativa é que materiais contribuam para aperfeiçoar os sistemas de produção da mandioca na região, além de possibilitar a maior diversificação das cultivares utilizadas pelos produtores.
A cultura da mandioca é uma das mais importantes do ponto de vista socioeconômico para o Bioma Cerrado, sendo cultivada em uma área estimada em 250 mil hectares. Até o momento, as cultivares mais plantadas na região são materiais introduzidos de outros biomas ou landraces (materiais locais), sem um programa de melhoramento genético voltado às condições locais.
Características
A BRS 417 possui raízes com disposição e tamanho que facilitam a colheita mecanizada. Nos experimentos, a produtividade média das raízes foi de 38.005 kg/ha, porcentagem de amido nas raízes de 31,53% e rendimento de amido de 11.984 kg/ha.
Já BRS 418, obteve produtividade média de raízes de 38.940 kg/ha, porcentagem de amido nas raízes de 32,35% e rendimento de amido de 12.651 kg/ha nos experimentos. Possui potencial para cultivos visando ao aproveitamento da vigorosa parte aérea, rica em folhas e pecíolos, na alimentação animal.
Por fim, a BRS 419 destaca-se pela elevada rusticidade e pode ser utilizada em políticas direcionadas ao desenvolvimento da cadeia produtiva do amido e da farinha de mandioca, em especial, os produtores com menos acesso a tecnologias. A produtividade média de raízes foi de 42.010 kg/ha, porcentagem de amido nas raízes de 30,29% e rendimento de amido de 12.870 kg/ha.
Segundo o pesquisador Josefino Fialho, o produtor poderá escolher os materiais de acordo com o sistema de produção. “Quem tinha basicamente uma cultivar e variedades locais, agora tem três opções. O ideal é que plante as três, teste-as nas suas condições e decida quais manter”, recomenda. “São materiais distintos e podem ser usados para manter a variabilidade genética dos cultivos.”
Alano acredita que as novas cultivares terão outros impactos positivos nos sistemas de produção da região, pois ainda não há um mercado de comercialização de manivas-semente certificadas. “Como os novos clones têm uma alta taxa de multiplicação, será mais fácil difundir esses materiais desenvolvendo o comércio de manivas-semente”, afirma e acrescenta que, de uma cultivar mais plantada se obtém cinco plantas novas, enquanto uma planta dos novos materiais possibilita ao menos dez novas plantas.
Os experimentos
As cultivares foram submetidas a experimentos de avaliação agronômica e tecnológica em cinco safras. “Procuramos testar os materiais em diferentes sistemas de produção, de fecularias de médio e grande porte até cooperativas e pequenos produtores, para maior representatividade possível dos sistemas de produção da região”, relata Alano.
Participante dos testes de validação das cultivares, a Cooperabs, de Bela Vista de Goiás, produz polvilho de mandioca desde a década de 1950. Os novos materiais passaram a integrar a lista de cultivares utilizadas pelas 52 famílias de cooperados em cerca de 700 ha de plantio, dos quais 350 ha são colhidos e processados anualmente. A cooperativa comercializa, por ano, cerca de 60 toneladas de polvilho, 40 toneladas de farinha e 5 toneladas de goma de tapioca.
“As novas cultivares trouxeram mais uma janela de oportunidade para a cooperativa. Até então, ficávamos reféns de apenas uma cultivar antiga, usada desde 1987. Se ocorresse uma nova doença ou praga, não saberíamos o que fazer. Com mais cultivares, temos mais segurança na hora de plantar”, afirma o presidente da cooperativa, José Altair Neto.
Benefícios
Para Deucivan da Silva, um dos produtores cooperados, os diferenciais das novas cultivares são a maior rapidez no plantio e a facilidade na colheita devido ao porte mais alto e ereto das plantas. “Há uma diminuição na mão de obra com a pulverização costal, pois não é preciso abrir picadas nas entrelinhas para o aplicador passar. Como são mais altas e não têm tantos galhos, o manejo fica bem mais fácil”, comenta.
Produtora de polvilho doce e azedo em Rio Pardo de Minas, no norte mineiro, a fecularia familiar Polvilho Irmãos Cândido também aderiram às novas cultivares da Embrapa para diversificação da produção nos 600 ha de área de plantio de mandioca. A empresa processa 7 mil toneladas anuais de mandioca e produz 650 mil kg/ano de polvilho. Os produtos são comercializados em feiras e padarias no norte de Minas, no Vale do Jequitinhonha e em municípios da Bahia.
Animada com o potencial produtivo das novas cultivares, a fecularia plantou 15 hectares de cada uma delas na última safra. “São cultivares que vieram para ficar”, comenta Dionísio Cândido, diretor da empresa, que também ressalta as vantagens do porte alto e ereto das plantas.