O produto ataca o intestino das larvas,levando-as à morte em menos de 24 horas
A epidemia de dengue, chikungunya e zika tem preocupado as autoridades públicas e a população brasileira, e até mesmo os organismos internacionais,por causa dos altos índices de casos da doença no País. Este cenário alarmante também tem despertado o interesse de cientistas, que buscam ações paliativas contra o mosquito Aedes aegypti, enquanto não descobrem vacinas que possam prevenir tais males.
Uma destas iniciativas envolve o estudo de um inseticida natural à base de extrato (suco) retirado das folhas do sisal (Agave sisalana). Idealizado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o produto se mostrou eficaz atacando o intestino das larvas do mosquito transmissor destas três doenças, levando-as à morte em menos de 24 horas.
Morte das larvas
Vice-diretora do Centro de Biotecnologia da UFPB e coordenadora da pesquisa, Fabíola Nunes explica que os ensaios biológicos constataram a morte de larvas a partir da dosagem de quatro mililitros de suco de sisal para cada 100 litros de água.
“Testamos em larvas e obtivemos um resultado promissor, com 100%de mortalidade na fase larval, que é a fase aquática”, relata. “Fizemos também testes nas outras fases do inseto (ovo, pupa e mosquito adulto), mas o produto não tem efeito. Acreditamos que isto ocorra porque, na fase de larva,o inseto se alimenta da solução e,provavelmente, morre por ingestão do produto, pois verificamos que havia necrose nas células intestinais das larvas”, acrescenta.
Experimento com larvas de Aedes aegypti
Compostos orgânicos
O suco do sisal possui vários compostos orgânicos, com destaque para as saponinas, que podem causar toxidade,irritação e até morte de carrapatos, lagartas de determinadas espécies e outros insetos. De acordo com a pesquisadora,os testes mostraram que, se diluído nas proporções recomendadas, a ingestão ou o contato do suco com a pele não causa nenhum tipo de dano para animais como camundongos e ovelhas.
“Nos testes iniciais, já verificamos que não é tóxico para animais de laboratório. Precisamos fazer mais testes para determinar a toxicidade para outros animais”, informa Fabíola.
Próximos passos
Segundo a Embrapa, os próximos passos serão realizar os estudos para que o produto seja disponibilizado para as pessoas de forma segura e com instruções bem detalhadas. “A pesquisa ainda precisa responder a algumas questões como: por quanto tempo o produto mantém o efeito; qual é o seu mecanismo de ação; e qual a melhor maneira de disponibilizar o produto no mercado”, pontua a cientista.
Uma das possibilidades de aplicação é usar o extrato de sisal em pó para ser diluído em recipientes de água parada,que poderia ser utilizado em alternância com outros larvicidas disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Ela também explica que a alternância de produtos de diferentes mecanismos de ação é uma estratégia adotada para que o inseto não adquira resistência ao produto.
Eficácia
As propriedades inseticidas do suco de sisal já eram conhecidas no meio científico, mas havia uma grande limitação prática: ele precisava ser aplicado imediatamente após a coleta, porque fermentava em poucas horas. Em 2010, a Embrapa Algodão iniciou o estudo da viabilidade econômica do emprego do suco do sisal para a produção de bioinseticidas.
“Um dos resultados mais importantes da pesquisa foi conseguir a estabilização do suco, evitando que ele entrasse em processo de fermentação. Sem nenhum tratamento, o suco deteriora cerca de cinco horas após a extração e nós conseguimos mantê-lo estável por até 30 dias”, explica o pesquisador da Embrapa Algodão, Everaldo Medeiros.
Outro resultado da pesquisa foi a obtenção de um extrato concentrado em pó do suco do sisal, que permite conservá-lo por longo período, sem perder suas propriedades. Este produto demonstrou eficácia contra lagartas do algodoeiro e da soja, além de carrapatos bovinos.
O produto em pó é obtido após a retirada de toda a água do suco pelo processo de concentração chamado liofilização, deforma similar ao que ocorre com o leite e o café, que consiste na desidratação de substâncias em baixas temperaturas transformando-o em material sólido de fácil conservação.
“A vantagem do extrato em pó do suco de sisal é que ele pode ser reconstituído por diluição em água, o que facilita a aplicação, e ainda conserva as propriedades do material original”, afirma Medeiros.
Parcerias
A pesquisa inicial do suco de sisal com propósito de bioinseticida foi desenvolvida em parceria com o Sindicato das Indústrias de Fibras Vegetais do Estado da Bahia (Sindifibras), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia (SECTI) e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
“O material utilizado pela pesquisa na UFPB foi o produto liofilizado e o suco congelado estabilizado, preparado pela Embrapa durante as fases de teste contra as larvas do mosquito Aedes Aegypti”, diz Medeiros.
O pesquisador enfatiza que, por enquanto, o produto ainda não está disponível para a população por ser objeto de estudo e ainda necessitar de aprovação pelos órgãos regulamentadores no País. “Tanto a universidade como a Embrapa dispõem do material apenas para fins de pesquisa em pequenas quantidades para os testes que são realizados. As pessoas devem estar atentas para o fato de que a manipulação do suco sem o processo técnico correto poderá não trazer efeitos de mortalidade das larvas”, alerta o especialista.
Aproveitamento dos resíduos
Cultivado principalmente nos Estados da Bahia e Paraíba,o sisal tem uma gama de aplicações que vai desde a confecção de fios, cordas, tapetes, sacos, vassouras, artesanatos, acessórios e o uso como componente automobilístico. Seu principal produto é a fibra extraída das folhas, mas grande parte da planta ainda é desperdiçada.
A fibra equivale a somente 5% do peso das folhas e o restante da produção tem pouca utilização. Em torno de 80%da folha do sisal é composta por suco que pode ser extraído para combater o mosquito Aedes aegypti e 15% por mucilagem,que normalmente são despejados no campo.
“Por um lado, a pesquisa visa mostrar que parte desse suco é viável economicamente como inseticida e, por outro lado, desenvolvemos equipamentos que tornaram possível o aproveitamento dos resíduos sólidos como mucilagem para alimentação animal”, informa o pesquisador da Embrapa Algodão Odilon Reny Ribeiro.
Equipamentos
Um destes equipamentos é a peneira rotativa que favorece a separação das fibras longas (bucha) da mucilagem para alimentação de ovinos e bovinos na região Semiárida. A tecnologia evita a morte dos animais ruminantes por timpanismo, uma doença provocada pela ingestão de materiais que não conseguem ser digeridos pelos animais, como a bucha do sisal.
Por ser rico em açúcares, nutrientes e outros compostos,o sisal também atrai o interesse de pesquisas para obtenção de substâncias de maior valor agregado, como os defensivos naturais, edulcorantes (adoçantes naturais), nanocelulose e celulose bacteriana (um tipo especial de celulose com várias aplicações em pesquisas biomédicas, desde a pele artificial para queimados até a engenharia de órgãos).
Edna Santos / Embrapa Algodão
Focos na zona rural
Assim como nas cidades, o homem do campo também deve fazer sua parte no combate ao Aedes aegypti. De acordo com o consultor agropecuário José Carlos Ribeiro, da Boi Saúde Nutrição Animal, alguns pesquisadores constataram que o mosquito chegou à zona rural em objetos contaminados pelas larvas.
Para cuidar da “própria casa”, o agricultor precisa fazer uma varredura periódica para eliminar os focos de proliferação na propriedade rural. “É importante o produtor checar locais com água parada; verificar as lonas que ficam sob os silos; o local para armazenar grãos, pois caso tenham alguma brecha, pode conter acúmulo importante de água da chuva, com potencial para reprodução do mosquito”,destaca Ribeiro.
Ainda sugere que também “sejam averiguados os cochos abandonados ou inativados temporariamente, além de bebedouros dos animais e possíveis pneus velhos, garrafas pet e demais utensílios que podem ter algum acúmulo de água”.
Outra dica importante do consultor agropecuário é lavar todos os dias e trocar a água do bebedouro dos animais, “pois locais com água limpa e parada são o principal foco para proliferação das larvas do mosquito”.
Fonte: Boi Saúde Nutrição Animal
Nova geração de bioinseticida dizima larvas do mosquito
Inseticida biológico capaz de matar larvas do Aedes aegypti está em fase final de produção pela Embrapa
Desenvolver produtos biológicos com a capacidade de controlar as larvas do Aedes aegypti, sem prejudicar a saúde dos seres humanos, dos animais e de outros insetos benéficos para o campo e o meio ambiente, tem sido a tarefa de uma equipe de cientistas e estudantes liderada pela pesquisadora Rose Monnerat, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Os estudos conduzidos no Laboratório de Bactérias Entomopatogênicas da unidade.
Trata-se de pesquisas com bactérias específicas para controlar insetos, também conhecidas como”bactérias do bem”, inofensivas a qualquer outro ser vivo e ao meio ambiente. Para tanto, é mantido um banco de bactérias com mais de 2,8 mil estirpes ou linhagens.
Tais bactérias, que são colhidas diretamente do solo, passam por análises moleculares para avaliar o potencial patogênico contra o mosquito causador da dengue, chikungunya e zika.
Biolarvicidas
De acordo com a Embrapa, estas bactérias são utilizadas na formulação de produtos biológicos, ou seja, sem nenhum produto químico. Estes bioinseticidas têm a capacidade de controlar mosquitos transmissores de doenças e insetos,considerados pragas na agricultura brasileira. Deste banco de dados surgiram dois biolarvicidas: o primeiro produto,lançado em 2005, é chamado Bt-horus; e o segundo, ainda em fase final de testes, é o Inova-Bti. Ambos são formulados a partir do Bacillus thuringiensis.
Esta bactéria é usada há mais de 40 anos em programas de controle biológico em todo o mundo, sem nunca ter sido registrado um único caso de resistência nos mosquitos.
Vale destacar que o Bt-horuas foi desenvolvido em cooperação com a empresa do Distrito Federal, Bthek Biotecnologia,hoje União Química. Já o Inova-Bti conta com a parceria do Instituto Mato-Grossense do Algodão.
Responsável pelo desenvolvimento destas tecnologias, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia ressalta que a colocação dos produtos no mercado depende de parceria com empresas privadas.
Opção eficiente
Os bioinseticidas desenvolvidos pela Embrapa são opções eficientes contra as larvas do Aedes aegypti em ambientes urbanos e também para pequenos, médios e grandes agricultores em ambientes rurais. São opções mais baratas e ambientalmente mais saudáveis, pois podem ser aplicados em qualquer lugar, inclusive córregos e caixas d’água, entre outros.
O monitoramento e controle do mosquito pode ser realizado de diversas formas
Especialistas dão dicas de combate ao Aedes Aegypti
No Portal Embrapa estão disponibilizados 22 áudios de especialistas da Empresa com dicas de controle do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
O conteúdo foi elaborado pelos pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Francisco Schmidt e Rose Monnerat, pelo extensionista rural da Emater-DF Roberto Carneiro e pelo agente de Vigilância Ambiental Humberto Loiola, da Secretaria de Estado de Saúde do DF.
Conscientização
Para garantir a eficácia dos produtos biológicos, é fundamental que ações de conscientização da população sejam conduzidas em paralelo.
Para começar, é fundamental saber usá-los. Os produtos à base de bacillus podem ser líquidos, sólidos ou na forma de cristais. A Embrapa escolheu a forma líquida e basta uma gota para cada litro de água para matar as larvas em 24 horas.
“Com este conhecimento, é só calcular. Se você tem um aquário de cinco litros, são cinco gotas e por aí vai. Mas, é preciso deixar claro que os bioinsericidas da Embrapa não causam nenhum efeito sobre os mosquitos adultos”,ressalta a pesquisadora Rose Monnerat.
Enfim, em meio a tantas dúvidas e temores da população acercado mosquito e de seus efeitos devastadores sobre a nossa saúde,uma coisa é certa: a Embrapa é mais uma aliada nessa guerra. E o que é melhor: as armas utilizadas contra o mosquito são biológicas,o que significa que, à exceção do Aedes, todos os outros seres vivos podem dormir sossegados!