Dentre os mais de cinco milhões de estabelecimentos rurais avaliados pelo Censo Agropecuário 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), algo em torno de 1,5% tinha produtores sem área, ou seja, homens e mulheres do campo que não possuem um espaço físico delimitado e se aproveitam de oportunidades oferecidas pelas circunstâncias locais ou pela natureza para produzir.
É o caso de uma parcela dos apicultores: dos 77.037 produtores sem área catalogados na pesquisa do IBGE, 4,5% são de criadores de abelha que produzem mel e própolis para comercialização.
Minas Gerais é o Estado com maior número de apicultores nessa condição: são 526, somando quase um quarto (23,4%) dos produtores sem área da região.
Foi para se dedicar a essa atividade que o advogado carioca Rafael Porto largou a empresa multinacional onde trabalhou por 14 anos, deixou sua cidade natal e foi viver em Bom Jardim de Minas, município da Zona da Mata mineira.
O Estado é líder no ranking dos estabelecimentos de apicultores cujos produtores não têm um espaço físico próprio, abrigando 15,2% do total nacional. Rio Grande do Sul (14,2%), Bahia (13%), Santa Catarina e São Paulo (10,4%) completam as cinco primeiras posições.
Da cidade grande para o campo
A vontade de exercer profissionalmente uma atividade ligada ao campo levou Porto a escolher pela apicultura. Atualmente, ele mantém suas colmeias em estabelecimentos da região, que pertencem a outras pessoas, como fazendas e sítios.
“Todos os apicultores que eu conheço fazem isso: deixam as colmeias em terras de terceiros, dando uma parte da produção em pagamento”, explica.
Porto não produz mel, apenas própolis verde – uma substância formada pelas resinas que as abelhas usam para desinfetar e fechar as frestas da colmeia.
Relata ainda que sua opção pela Zona da Mata mineira foi impulsionada pela maior concentração da erva conhecida como vassourinha do campo ou alecrim do campo, da qual as abelhas melíferas recolhem essa resina que se transformará no produto.
Sua colheita é feita por coletores alocados nas laterais das colmeias, exatamente onde as abelhas enchem de própolis para fechar o abrigo.
Safra
A safra vai de novembro a maio, período mais quente e chuvoso do ano, e Rafael vende a própolis verde para entrepostos comerciais. “Eles compram bruto e vendem para quem vai exportar. Uma colmeia boa, bem produtiva, consegue gerar de um a dois quilos dessa resina por ano”, afirma Porto.
Extraída da planta conhecida no Brasil como alecrim do campo, a própolis verde é usada, principalmente no Japão, para auxiliar no tratamento de pessoas com câncer.
Quem são os produtores sem área?
Voltando a tratar de todos os tipos de produtores sem área no País, a maior concentração está no Nordeste: o Ceará lidera o quesito com 30,7% do país, seguido por Maranhão, com 22,8% e Piauí, com 10,8%.
Um dos gerentes do Censo Agro 2017, o analista do IBGE Marcelo de Souza Oliveira explica que, além dos apicultores, também são considerados produtores sem área os extrativistas (de babaçu ou de seringueiras, por exemplo) e os criadores de animais em beiras de estradas.
Ainda estão listados nesta classificação os produtores em vazantes de rios, roças itinerantes e beira de estradas que não mais ocupavam esta área, além do agricultor que produziu no período de referência da pesquisa em terras (arrendadas, em parceria ou ocupadas), mas que não estava com o uso da mesma quando respondeu o questionário.
“São produtores que exploram áreas as quais não têm a posse nem o domínio”, esclarece.
Oliveira comenta que essa tipificação serve para demonstrar a universalidade da pesquisa: “Vamos em todos as unidades de produção. É um universo extremamente heterogêneo e abrange todo mundo que produz”.
De acordo com a Agência de Notícias do IBGE, diferentemente de 2006, o Censo Agro 2017 não considerou como sem área os produtores empregados/moradores que exerciam atividades agropecuárias na área administrada pelo produtor/proprietário.
Isso significa que “um funcionário que faz sua roça na terra do patrão, por exemplo, não entrou na conta dos produtores sem área em 2017, o que impossibilita a comparação com 2006”.