Pesquisa, liderada por Amanda Ferreira, na foto, demonstra que a Taboa pode absorver metais pesados de áreas afetadas pela tragédia de Mariana, além de ser capaz de produzir biominério (Foto: Divulgação/Esalq)
Na luta pela descontaminação de áreas alagadas impactadas por rejeitos de mineração, a planta nativa taboa, conhecida cientificamente como Typha domingensis, está se destacando como uma aliada poderosa.
A descoberta faz parte de um projeto inovador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), que visa enfrentar os desafios deixados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015.
Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o projeto “Biogeoquímica de ferro em solos impactados por rejeitos de mineração: da avaliação de risco às estratégias de biorremediação aprimoradas” revela o potencial desta planta na remediação de solos contaminados.
A pesquisa liderada por Amanda Duim Ferreira, doutora em Ciências com ênfase em Solos e Nutrição de Plantas, trouxe à tona a capacidade da Typha domingensis de extrair ferro, manganês e outros elementos tóxicos como cromo e níquel de ambientes alagados.
Segundo Amanda, os óxidos de ferro presentes nos rejeitos são estáveis em solos aerados, mas em ambientes alagados, sem oxigênio, eles se dissolvem e liberam elementos tóxicos.
O estudo, que teve duração de cinco anos e envolveu várias etapas, busca solucionar a contaminação do estuário do Rio Doce, onde os rejeitos de mineração se acumulam desde o desastre de Mariana.
Em novembro de 2015, a barragem de rejeitos de mineração Fundão rompeu, derramando 50 milhões de toneladas de lama e resíduos tóxicos no rio.
A pesquisadora explica que a taboa demonstrou ser eficaz na extração desses contaminantes, especialmente quando cultivada com fertilizantes e consórcios microbianos.
Segundo ela, os experimentos em campo confirmaram que o manejo agronômico adequado da planta pode aumentar significativamente a remoção de metais pesados dos solos.
“Atualmente, o projeto de biorremediação foi finalizado, porém, estão em andamento os experimentos para aproveitamento do ferro e outros elementos de interesse econômico acumulados na biomassa da taboa”, esclareceu Amanda.
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Produção de biominério
Os benefícios da taboa não param na descontaminação.
Amanda destaca que a biomassa acumulada pela planta pode ser utilizada para a produção de um biominério de ferro, uma técnica conhecida como agromining, que não só ajuda na remediação dos solos, mas também cria uma fonte sustentável de minério.
“A partir da biomassa dessa planta, estamos desenvolvendo um biominério de ferro extraído a partir do vegetal (agromining)”, diz.
O Brasil, um dos maiores exportadores de minério de ferro do mundo, enfrenta um desafio crescente com a disposição de rejeitos de mineração.
Na avaliação da pesquisadora, o rompimento de barragens como as de Mariana e Brumadinho ressalta a necessidade de soluções eficazes e sustentáveis para a gestão desses resíduos.