Pele, talos e caroços de uva são desperdiçados na produção de vinho e é esse resíduo que entra na elaboração do chá (Foto: Governo de São Paulo)
Setenta e cinco por cento da produção de uva é destinada para a indústria do vinho e essa produção gera uma grande quantidade de resíduos: pele, talos e caroços de uva não são aproveitados após a extração do suco nas vinícolas.
Diante desse cenário de desperdício, Elisa Resende, estudante de Ciência dos Alimentos na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, investiga o potencial desses resíduos para a criação de um chá rico em nutrientes.
A professora Wanessa Melchert Mattos, orientadora da pesquisa de iniciação científica, fornece detalhes sobre o processo de elaboração do chá.
“A gente foi analisar o que tem nesse resíduo, quais são as propriedades e qual destino seria possível dar para esse resíduo. Diante disso, a gente fez uma análise e buscamos por compostos que são importantes para a saúde humana, a gente estava em busca de compostos bioativos”.
Na análise dessas cascas e talos, foram encontradas propriedades interessantes que apresentam benefícios para a saúde.
“A gente focou nos compostos fenólicos, que possuem propriedades principalmente relacionadas às ações antioxidantes, antimicrobianas, anti-inflamatórias e vasodilatadoras. Na literatura, esses compostos fenólicos são conhecidos por terem propriedades antitumorais, antienvelhecimento, e eles podem auxiliar nas doenças cerebrais e também nas artrites reumatoides”, expõe Wanessa.
No laboratório
Após a análise e a descoberta desses compostos benéficos para a saúde humana, o próximo passo foi elaborar um produto à base dos resíduos do vinho que pudesse ser consumido pela população. A professora conta o passo a passo para a elaboração do chá:
“Retiramos primeiro uma quantidade grande de água, depois colocamos numa estufa onde a gente consegue controlar a temperatura. Deixamos ali com 60º C por umas duas horas, depois moemos como no moinho para diminuir essa partícula. Com isso, criamos uma farinha desse resíduo”, explica.
“Peneiramos e então colocamos essa farinha dentro de um sachêzinho, e fizemos uma infusão. Depois avaliamos no chá os compostos fenólicos e o que a gente percebeu é que esses compostos fenólicos ali presente estavam na mesma quantidade ou até superiores aos chás que a gente compra no mercado”.
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A pesquisadora conta que, antes de virar um produto, a farinha proveniente dos resíduos ainda deve passar por algumas outras análises.
“A gente vai passar agora para os ensaios microbiológicos, para saber se o chá está adequado para consumo humano, e uma próxima etapa é a análise sensorial para saber se isso vai ser aceito pelo público. A gente pode pensar também na incorporação dessa farinha em outros alimentos, como bolo ou cookie. A gente ainda tem um caminho longo”, finaliza a professora Wanessa.