Equilíbrio nas contas assegura desenvolvimento sustentável com rentabilidade
A atividade leiteira, assim como qualquer outro negócio, demanda uma série de ações, dentro e fora da porteira, para que seja produtiva, rentável e sustentável, de forma a garantir a sobrevivência do produtor no segmento.
Um dos segredos para que essa atividade seja longeva é a manutenção de um fluxo de caixa, porém, no médio e no longo prazo, é preciso ter lucro, cobrindo inclusive os custos fixos, como depreciação e a remuneração do capital investido.
De acordo com o zootecnista e coordenador técnico comercial de bovinos de leite da Cargill Nutrição Animal, Mateus Teixeira, Para que isso seja possível, é necessário ser eficiente nos três “pilares” do negócio leite: custos de produção, volume diário produzido e receitas.
“O produtor deve buscar aumentar suas receitas, agindo em todos os pontos que forem possíveis dentro da propriedade”, diz o especialista, acrescentando que, normalmente, a principal receita é o leite comercializado, seguida pela venda de animais e por último a venda do excedente de volumosos, com algumas variações nessa ordem, dependendo da propriedade.
Ele explica que o preço recebido é fortemente impactado pela qualidade, composição e volume do leite fornecido. Assim, o produtor deve buscar produzir leite com alto padrão de qualidade, com baixos índices de CCS e CBT (UFC) e com altos teores de proteína e gordura, além de buscar fornecer o leite para laticínios que valorizem essa qualidade.
“O alto padrão de qualidade indica manejo e sanidade adequados do rebanho, o que contribui para ganhos de eficiência técnica e econômica na fazenda”, argumenta.
Quanto à produção diária de leite, segundo o zootecnista, quanto maior o volume, maior a remuneração.
“Mesmo com significativas mudanças nos sistemas de pagamentos da maioria dos laticínios, nos últimos anos, ainda é possível perceber que a maior influência no preço advém do volume fornecido”, diz. “E não é só isso, o aumento na escala de produção contribui também para outro importante pilar, diluindo parte dos custos de produção”, pondera.
Produtividade
Em relação ao aumento do volume de leite produzido diariamente, Teixeira afirma que depende de dois fatores: número de vacas em lactação na propriedade e produtividade das mesmas.
“O número de vacas está relacionado com a capacidade de suporte da fazenda, de acordo com a sua capacidade de alojar e alimentar os animais”, informa. Como referência, ele considera ideal ter pelo menos uma vaca em lactação por hectare na fazenda, considerando áreas de produção de volumosos e reservas ambientais na conta.
Na avaliação do especialista, quanto maior a produtividade das vacas, melhor, porém é preciso respeitar o bem-estar dos animais e manter os custos equilibrados.
“Manejo, conforto, alimentação equilibrada e saúde permitirão aos animais expressarem todo o seu potencial produtivo”, ressalta e acrescenta que uma boa taxa de lotação, com pelo menos uma vaca em lactação por hectare, e boa produtividade, terão reflexos positivos na produção de leite total diária e também a produtividade por hectare na fazenda.
“Esse indicador, medido em litros/hectare/ano, tem uma alta correlação com a rentabilidade do negócio”, diz.
Nesse viés, a sugestão é de, pelo menos, 5.000 litros/ha/ano em sistemas menos intensivos e, em sistemas mais intensivos, pelo menos 10.000 litros/ha/ano.
“Historicamente, fazendas com altas produtividades por hectare e custos equilibrados, conseguem tornar o negócio leite altamente atrativo, muitas vezes alcançando rentabilidades superiores a 10% ao ano”, informa.
Custos de produção
De acordo com o zootecnista, o último pilar, o dos custos de produção é, sem dúvida, onde o produtor tem maior capacidade de interferência, mesmo que não consiga prever ou evitar que o comportamento dos custos dos insumos impacte o seu negócio.
“A eficiência, mais uma vez é exigida, pois mais importante do que o quanto se gasta, é com o quê se gasta”, aponta Teixeira.
Segundo o que tem sido observado nas propriedades leiteiras, os principais custos, normalmente, são os gastos com concentrado, volumoso e a mão de obra.
“O ideal é que o comprometimento da renda bruta esteja entre 8% e 10% com volumoso, entre 30% e 35% com concentrado e entre 10 e 12% com mão de obra”, ensina.
“Esses valores são resultados históricos médios de propriedades consideradas economicamente eficientes na atividade, portanto, são possíveis de serem alcançados e contribuem para um resultado econômico satisfatório”, explica o zootecnista e alerta que é necessário ter cuidado com a interpretação desses índices, que acabam se tornando metas.
Ele lembra ainda que os fatores que impactam esses números sofrem muita interferência regional, pelas características específicas da cadeia produtiva na região e, por isso, podem distorcer os indicadores.
“Por exemplo, o custo da ração de dois produtores pode ser o mesmo e um deles comprometer 30% da sua renda com este custo e o outro 35%”, exemplifica.
Com o advento da pandemia, Teixeira informa que as relações entre custos e receitas mudaram e podem estar criando falsas ineficiências nas propriedades.
“Nesses casos, em que a eficiência técnica continuou e os indicadores econômicos fugiram dos valores referência, deve-se ter cautela e lembrar que a atividade leiteira deve ser analisada no longo prazo e não se pode ser conclusiva a avaliação de curtos períodos com alta instabilidade no mercado”, alerta e acrescenta que o foco é manter a produção e os bons resultados técnicos para voltar a colher melhores frutos quando o mercado se estabilizar.
Independentemente do preço e dos ustos, de acordo com o zootecnista, não se pode esquecer da produtividade dos animais e da produção total de leite.
“Há muitos anos, várias análises estatísticas mostram que o volume de leite produzido por dia nas fazendas é o principal fator de influência para o sucesso econômico da atividade leiteira, ou seja, quanto maior o volume diário, maiores as chances de a atividade ser viável e atrativa economicamente”, destaca.
Adequação
Para o produtor que estiver com o caixa apertado, com os custos acima dos índices ideais, dele recomenda, como prioridade, diminuir as despesas em setores que não comprometem a produtividade das vacas, pois a redução da média pode agravar muito a situação. “O que o produtor pode fazer é buscar maneiras de tornar todo o sistema mais eficiente”, sugere.
Como forma de reduzir custos, Teixeira diz que o produtor deve optar por uma estrutura que permita a utilização de menos mão de obra para realizar o manejo, facilitando a limpeza dos cochos, bebedouros e currais.
“Além disso, produzir volumoso em quantidade suficiente e com qualidade, investindo em controle de pragas e nutrição das plantas durante a safra, reduz a dependência da ração para suprir boa parte dos nutrientes utilizados pelos animais, baixando custos com concentrado”, ressalta.
Uma outra opção, segundo o especialista, é reter na propriedade somente a quantidade necessária de bezerras e novilhas para repor o plantel, no caso de propriedades com rebanhos estabilizados, com o objetivo de reduzir custos com alimentação e a necessidade de estrutura para animais ainda improdutivos.
“Essas possíveis ações são exemplos de como cortar custos sem reduzir a produtividade das vacas, que são de fato “quem” paga as contas”, informa.
Nutrição
Outro ponto muito importante e com grande impacto na redução de custos apontado por Teixeira, é a possibilidade de usar ingredientes variados na nutrição dos animais, focando nos nutrientes exigidos pela categoria que está sendo alimentada e não no alimento em si.
“Hoje, talvez, esse seja o maior paradigma existente na pecuária de leite brasileira, pois muitos produtores têm grande resistência em utilizar sorgo, casca de soja, farelo de algodão, ureia dentre outros ingredientes, com o discurso de que não são ingredientes nobres. Na verdade, os animais possuem exigência por energia, aminoácidos, minerais e vitaminas, não interessando a fonte de onde eles vêm”, desmistifica.
No caso dos produtores com maior estrutura de armazenamento de insumos, o zootecnista acredita que vale a pena comprar, estrategicamente, ingredientes como polpa cítrica, ureia, caroço de algodão, DDGS, casca de soja e farelo de algodão, pois eles atendem bem à demanda nutricional e contribuem para garantir saúde e produtividade aos animais a custos menores.
“Já para produtores sem estruturas preparadas para tantos ingredientes diferentes, existe a possibilidade de comprar rações e concentrados direto das fábricas de ração”, indica e completa afirmando que o produtor eficiente de leite será o produtor do amanhã.
“Não há mais espaço para amadores com um mercado tão dinâmico e complexo como o que estamos inseridos”, arremata Teixeira.