Estudo aponta que elas emitem 26% menos carbono que homens e estão mais abertas a hábitos sustentáveis (Foto:UNHCR/Xavier Bourgois)
Um estudo do Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment, da London School of Economics and Political Science, revela que mulheres têm uma pegada de carbono significativamente menor do que os homens, sobretudo nos setores de alimentação e transporte — que juntos respondem por cerca de metade das emissões individuais.
O levantamento, intitulado “The gender gap in carbon footprints: determinants and implications”, analisou padrões de consumo alimentar de mais de duas mil pessoas e hábitos de deslocamento de 12 mil indivíduos na França.
Os resultados mostram que, nesses dois setores, as mulheres emitem 26% menos carbono do que os homens. Essa diferença se deve principalmente ao menor consumo feminino de dois itens altamente emissores: carne vermelha e automóveis.
Embora focado na realidade francesa, o estudo encontra eco no Brasil.
Uma pesquisa Datafolha encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), divulgada em março de 2025, mostra que as brasileiras têm uma tendência significativamente maior a reduzir o consumo de carne do que os homens (28% contra 18%).
Além disso, elas relatam mais frequentemente a motivação por questões de saúde (76% contra 72%), meio ambiente (48% contra 38%) e proteção aos animais (48% contra 34%).
Escolhas alimentares e gênero
Essa relação entre escolhas alimentares e gênero não é nova para as ciências sociais. Diversos estudos já apontaram que o consumo de carne está associado a construções de masculinidade, enquanto comportamentos ecológicos e dietas vegetarianas são frequentemente vistos como femininos.
“Compreender essa relação é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas de mitigação climática eficazes, pois indivíduos menos preocupados com as mudanças climáticas tendem a resistir às medidas de mitigação”, destaca o estudo.
A resistência masculina a adotar práticas mais sustentáveis também se estende ao transporte.
Segundo o estudo, homens tendem a dirigir mais, a percorrer distâncias maiores e a escolher veículos mais potentes e poluentes. Em contrapartida, demonstram menos interesse por meios de transporte de menor impacto, como transporte público e bicicletas.
Os autores estimam que, se todos os homens adultos da França adotassem o mesmo padrão de consumo de carbono de mulheres nesses dois setores — sem alterar a quantidade de alimentos consumidos ou os deslocamentos realizados —, haveria uma redução anual de 13,4 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Isso corresponderia às emissões de cerca de 2,9 milhões de automóveis a gasolina.
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Essas descobertas reforçam os resultados de outra pesquisa recente do World Resources Institute (WRI), que aponta a diminuição do uso de carros a combustão e o aumento do consumo de refeições vegetais como algumas das mudanças comportamentais mais eficazes para reduzir emissões.
Entre outras ações com alto impacto estão a substituição de voos por trens de alta velocidade e o uso de energia solar residencial combinada com maior eficiência energética.
“Para avançarmos na mitigação das mudanças climáticas, é essencial que todos — homens e mulheres — adotem escolhas mais conscientes e apoiem políticas que promovam um futuro mais sustentável. Desejamos que esta data sirva como lembrete de que cada escolha conta na construção de um planeta mais saudável para as próximas gerações”, comenta Mônica Buava, presidente da SVB.