A cobertura do solo pode ser um recurso para impulsionar avanços produtivos para os agricultores
plantio de melão com cobertura do solo ou “mulching” pode resultar em colheitas 200% maiores que a produtividade média – 20t/ha – registrada no Vale do Submédio São Francisco. Testes com cinco materiais orgânicos e sintéticos – polietileno preto, polietilieno dupla face, casca de coco, capim e bagaço de cana – realizados por pesquisadores da Embrapa Semiárido registraram produções de frutos entre 65 t/ha e 74 t/ha.
A maior colheita foi registrada na área de teste que utilizou o capim buffel como cobertura de solo. Nesta condição, a quantidade de água aplicada à cultura foi a menor de todos os outros materiais avaliados. O engenheiro agrônomo Marcos Braga, pesquisador da Embrapa Semiárido, esclarece que para um ciclo de irrigação de 75 dias, a área coberta com capim produziu 74 t/ha com o uso de 45 litros de água/kg de fruto. No cultivo convencional, também avaliado neste estudo, a produção foi menor – 59 t/ha – e a quantidade de água empregada foi a maior: 57 l/kg.
Polo
Ele explica que, no estudo, a produtividade média do sistema convencional superior à da região – 20 t/ha – se deve ao fato de que nos testes foram utilizadas mudas de boa qualidade genética, irrigação controlada e fertirrigação com base na curva de absorção de nutrientes da cultura do meloeiro – tecnologia não muito usada na região. Todas as áreas submetidas aos variados tipos de cobertura do solo receberam os mesmos tratos culturais, adubação e quantidade de água, explica.
Este trabalho integra esforço da Embrapa Semiárido para tornar a região um polo produtor de frutos de melão com qualidade para ganhar, em especial, o mercado externo, aproveitando a logística existente para as culturas da manga e da uva. Nos anos 80, o Vale do Submédio São Francisco era um dos maiores produtores de melão do país. Entre agosto de 1995 e julho de 1996, o Mercado Produtor de Juazeiro chegou a comercializar cerca de 28,5 milhões de reais dessa fruta.
Produtividade
Desde então, a importância da cultura na região tem decrescido. Os testes de cobertura de solo procuram suprir a falta de competitividade dos produtores do Vale. Os sistemas de cultivo são marcados por recursos técnicos obsoletos como a irrigação por sulco e a baixa qualidade genética das sementes que usam para plantar. O surgimento de doenças e pragas complementa os fatores que tornam elevado o custo de produção.
A esse conjunto de fatores Marcos Braga atribui a obtenção de frutos de baixa qualidade comercial que têm pequenas oportunidades de mercado. Atualmente, aproximadamente 90% do consumo dessa olerácea no país é abastecido pelos produtores dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte. O cultivo de melão é uma alternativa de renda para pequenos e médios produtores. O uso da cobertura do solo com um produto como o capim não é apenas barato. A grande produção, a boa qualidade dos frutos, o menor uso de água são argumentos importantes para a introdução dessas inovações técnicas pesquisadas por Marcos Braga, Rita de Cássia Souza Dias, Nivaldo Duarte Costa e Gerado Milanez de Resende.
Entre 1970 a 2005, a área cultivada com melão no Brasil passou de 4.777 ha para 15.981 ha – um aumento da ordem de 234,5%. Neste período, os incrementos de produção e produtividade deram um salto: 6.656,2% e 1.924,8%, respectivamente. Parte expressiva destes aumentos é resultado dos avanços proporcionados pela pesquisa no manejo da cultura. A cobertura do solo pode ser um recurso a impulsionar avanços produtivos para os agricultores. Marcos Braga não tem dúvida de que se trata de uma alternativa para aumentar a produtividade da cultura do meloeiro. Permite ainda a obtenção de frutos com melhor aparência, pois, como não ficam em contato com o solo a incidência de doenças e danos físicos diminuem. Por outro lado, o valor de venda do produto aumenta, garante.