APTA é a única instituição pública do País a produzir abelhas rainhas para apicultores de todo Brasil
A rainha é a principal abelha do enxame. É a única fêmea fértil e responsável pela postura dos ovos que originarão todos os indivíduos da colmeia, inclusive sua substituta. É dela que depende, também, a produtividade final dos apiários. Quanto mais jovens, mais produtivas. Sua substituição deve ser feita anualmente. A manutenção de rainhas jovens e de boa origem nas colônias pode aumentar a produtividade de mel em até 60%. Com toda essa relevância da rainha, o Polo Vale do Paraíba/APTA Regional, localizado em Pindamonhangaba-SP, é a única instituição pública do país que fornece abelha rainha para o apicultor. Os produtores de qualquer localidade brasileira podem encomendar abelhas rainhas virgens ou fecundadas e recebê-las pelos Correios. A embalagem para envio também foi desenvolvida pela pesquisa paulista e garante o sucesso da entrega. A possibilidade de morte é mínima, desde que seguidas as recomendações.
Rainhas velhas e de baixa qualidade vão refletir na produtividade do apiário, com o aparecimento de colônias improdutivas, que necessitam de mais trabalho para a correção de suas deficiências. Os custos de produção se elevam e, consequentemente, o preço final dos produtos apícolas sobem.
De acordo com a pesquisadora da APTA, Maria Luisa Teles Marques Florêncio Alves, a simples substituição de uma rainha africanizada velha por uma nova aumenta a produção de mel em 20%. Quando essa substituição for por uma rainha selecionada, como é o caso das fornecidas pela APTA, a produtividade tem um salto de até 60%.
Material genético
“Mais de 90% dos apicultores brasileiros têm por característica não investir na substituição periódica de rainhas velhas e de baixa produtividade por novas e produtivas. No Brasil, a despeito da tradição e extensão de sua apicultura, essa prática não é muito desenvolvida”, explica Alves, pesquisadora da APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Polinização
O estudo desenvolvido pelo Polo Vale do Paraíba/APTA Regional caracteriza-se como um projeto de base tecnológica, que beneficia diretamente a apicultura pela disponibilidade de material genético aos produtores, assegurando maior disponibilidade de mel no mercado e maior densidade de abelhas para a polinização de culturas alimentares e industriais. Além de disponibilizar tecnologia, a pesquisa paulista atua há mais de 30 anos no treinamento, formação de mão de obra e demonstração de métodos aos apicultores.
“Para a seleção de abelhas com características que interessem ao apicultor utilizamos a seleção massal, que é o método aplicado em populações de abelhas que ainda não sofreram nenhum melhoramento. É uma seleção feita com base no desempenho da colmeia e é o método mais simples de melhoramento genético. Sua utilização com abelhas resulta em bons ganhos iniciais, graças à grande variabilidade genética existente em nossas abelhas africanizadas”, explica Alves.
O Polo produz, em média, 1.850 rainhas por ano, com taxa de fecundação de 54,4% e 39,51%, nos meses de março e junho, respectivamente. A melhor época de produção de rainhas é de setembro a abril. A explicação para a queda de produção em junho, segundo Alves, é que os períodos de variações ambientais interferem em maior proporção na fecundação. “Nos países de clima temperado, a estação de produção é definida e a fecundação é sempre alta – em torno de 50% – pois ocorre na melhor época”, explica.
Vantagem
A vantagem do uso das rainhas fecundadas, de acordo com Alves, é que elas têm praticamente 100% de aceitação no enxame, desde que as orientações enviadas pela APTA sejam seguidas. “A rainha fecundada está pronta para atuar na colmeia e substituir uma outra que já não estava bem. A rainha virgem, ou princesa, ainda precisa ser fecundada e pode não retornar para a colmeia, ser morta por predadores e se perder. O risco é de 50% ou mais, dependendo da época do ano”, afirma a pesquisadora.
Cerca de 50 pequenos apicultores brasileiros são atendidos anualmente pelo Polo e os preços das abelhas variam de R$ 6 a R$ 15 reais, para as virgens e fecundadas, respectivamente.
Embalagens
Grande parte das abelhas rainhas produzidas pelo Polo Vale do Paraíba/APTA Regional são adquiridas não só por apicultores dos municípios do Estado de São Paulo como, também, de outros Estados do Brasil. Quando o apicultor não está próximo ao Vale do Paraíba, a abelha rainha chega até ele por meio dos Correios.
Enviadas via Sedex, são acondicionadas em uma gaiola tipo Berton modificada, confeccionada no tamanho apropriado para compor uma embalagem aceita pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT). A embalagem foi desenvolvida em 1986 pela equipe de pesquisadores da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, quando foi iniciado o Projeto de Criação de Abelhas Rainhas.
Durante a viagem, cada rainha é colocada na gaiola com seis operárias jovens da sua própria colmeia, que têm a função de sustentá-la durante o trajeto. “Essa embalagem tem três câmaras para acomodar também o alimento, à base de açúcar finíssimo e mel, chamado cândi. As operárias consomem o cândi e produzem geleia real, com a qual alimentam a rainha durante a viagem”, explica Alves.
Segundo a pesquisadora, temperaturas entre 20ºC e 25ºC são ideais para assegurar a integridade das abelhas e rainhas dentro das embalagens e estas podem permanecer na gaiola por sete dias. Porém, dependendo de como transcorrer a viagem, com temperaturas muito baixas ou muito altas, esse tempo pode diminuir.
“A embalagem é composta de duas tiras de aglomerado de madeira (tipo MDF 3 mm), tendo a tira o tamanho mínimo correspondente a um envelope pequeno (11 cm x 16 cm) e no máximo a um envelope padrão (25 x 30 cm), que unirá as gaiolas na parte superior e inferior, formando uma caixa”, explica a pesquisadora da APTA.
Vivas e ativas
Ao receber as abelhas, o produtor deve observar se todas, ou quase todas, estão vivas e ativas, o que significa que a viagem correu em condições favoráveis. “Neste caso, as rainhas poderão aguardar por dois ou três dias antes da introdução no enxame. O local adequado para deixá-las tem que ser arejado, livre de formigas, inseticidas e com temperatura ambiente em torno de 20º C. Se, ao contrário, a maioria das abelhas estiver debilitada, a introdução deverá ser feita com máxima urgência”, alerta Alves.
Junto com encomenda, o produtor recebe instruções de como proceder para realizar a troca da rainha. Recomenda-se fazer a substituição imediata de uma rainha por outra, com a retirada da rainha da colmeia e, no ato, introduzir a gaiola com a substituta. É preciso ainda examinar cuidadosamente os favos e destruir todas as realeiras.
Morte mínima
De acordo com a pesquisadora, a ocorrência de morte durante o transporte é mínima e, em geral, ocorre quando as embalagens são esquecidas no transporte ou em local muito quente ou frio. “Acontece também de o comprador esquecer de ficar em casa no dia em que as abelhas serão entregues e o carteiro não saber o que fazer com elas. As rainhas acabam tendo que passar o final de semana na Agência dos Correios e sofrerem ataques de formigas, por exemplo, que vão buscar o cândi na gaiola. Em geral, as perdas das abelhas rainhas acontecem por inabilidade”, afirma.
Na Europa e nos Estados Unidos existem outros tipos de embalagens para o transporte. Segundo Alves, os resultados de eficiência entre as embalagens estrangeiras e as utilizadas na APTA se provaram equivalentes.
Mel no Brasil
São Paulo é o 70 Estado em produção de mel no Brasil, segundo dados de 2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Estado produz 2.104 toneladas de mel, o que representa 5,4% do total. Rio Grande do Sul, Paraná e Ceará estão nas primeiras colocações, com 7.155, 4.831 e 4.735 toneladas, respectivamente.
Nas regiões Sul e Sudeste, o mel provém principalmente da associação dos cultivos comerciais de laranja e de eucalipto. “Se por um lado isso facilita a identificação unifloral, por outro reduz as possibilidades de certificação orgânica pelo uso de defensivos agrícolas em muitas dessas plantações”, explica a pesquisadora.
O mel silvestre, muito comum no Brasil, é a denominação comercial atribuída ao mel composto por floradas nativas, em que não se identifica a florada predominante e é geralmente de composição multifloral.
Grande potencial
De acordo com a pesquisadora, todas as regiões do Brasil apresentam grande potencial para a apicultura e os desafios a serem enfrentados no País são muitos. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), de 2007, no Nordeste, a apicultura se caracteriza como atividade migratória e pode alcançar até 100 kg/colmeia/ano, enquanto a produtividade da apicultura fixa gira em torno de 50 kg/colmeia/ano. “A produtividade média no País, porém, é baixa e está em torno de 18 kg/colmeia/ano. Na Argentina, por exemplo, a produtividade é de 38 kg/colmeia”, diz a pesquisadora.
Segundo Maria Luisa Alves, a qualidade do mel nacional, entretanto, supera a de seus concorrentes. Isso pode ser demonstrado, por exemplo, pela capacidade de exportar mel in natura, enquanto outros países exportam mel exclusivamente para blend, usado para misturar com melados de cereal ou açúcar e utilizado principalmente pela indústria de alimentos.
Ampliação da produção
O potencial de ampliação da produção brasileira de mel está longe de ser considerado esgotado, mas o futuro da atividade, segundo Alves, depende, de forma crucial, de investimentos em pesquisa e desenvolvimento para melhorar a competitividade da apicultura nacional. “Há necessidade de aprofundar a experiência atual e produzir novos conhecimentos específicos para cada região produtora, além da adoção generalizada de técnicas criatórias, controles sanitários e modelos de gestão”, diz. Para a pesquisadora, é preciso manter e ampliar o mercado externo recém conquistado, reduzir o custo de produção, elevar a produtividade média do apicultor, investir em infraestrutura e capacitação da mão de obra.