A partir da década de 1970, o arroz do Litoral Gaúcho começou a ser vendido para vários estados brasileiros e a ter sua alta qualidade reconhecida pelo País
Primeira região brasileira a receber Denominação de Origem (DO), o Litoral Norte Gaúcho apresenta características climáticas determinantes sobre a lavoura de arroz irrigado ali produzido. A região abrange 12 municípios, localizados em uma península com cerca de 300 quilômetros de extensão, no litoral do Rio Grande do Sul, entre o Oceano Atlântico e a Lagoa dos Patos. Essa estreita faixa de terra, entre grandes massas de água, está sujeita a ventos constantes (nordeste), que proporcionam um equilíbrio térmico e um ambiente diferenciado, determinantes da qualidade do arroz produzido na região e fundamental para a existência da DO.
A vinculação do produto ao meio ambiente é uma condição para a chancela da DO. É o chamado “efeito terroir”, termo comum na França, em especial quando relacionado aos vinhos. As características únicas do arroz cultivado no litoral do Rio Grande do Sul são consequência do grande volume de água e da insolação durante a fase de maturação da planta. Pesquisas comprovam que a temperatura amena da região influencia diretamente no enchimento do grão, assim como o regime de ventos e a umidade do ar. A comprovação do terroir foi o requisito que faltava para a confirmação da Denominação de Origem.
Grãos diferenciados
Os grãos de arroz formados neste ambiente apresentam melhor aparência devido à disposição das moléculas de amido ocorrer de forma mais uniforme durante o período de enchimento. Assim, formam-se grãos mais duros, transparentes e com maior vitricidade quando polidos. Tais características, valorizadas tanto pela indústria beneficiadora quanto pelos consumidores, resultam num grão com maior quantidade de amido, superior rendimento na panela e melhores características de cocção, garantindo um arroz “solto” e de fácil preparo.
Produzido em total harmonia com o meio ambiente, o arroz do litoral Norte Gaúcho agrega modernas práticas da sustentabilidade ambiental, social e econômica. Os produtores devem obter licenciamentos ambientais, racionalizar o uso de água nas lavouras, controlar o uso de defensivos agrícolas e utilizar apenas sementes certificadas. Além disso, há necessidade de se registrar e controlar todas as etapas da produção, possibilitando a rastreabilidade completa do produto, da lavoura ao prato do consumidor.
Controle de toda a cadeia
A Associação dos Produtores de Arroz do Litoral Norte Gaúcho (Aproarroz), por meio do Conselho Regulador, controla desde a produção, beneficiamento, até o produto final para o consumo. O objetivo é agregar valor, não só para os agentes envolvidos na cadeia produtiva, através da implementação de processos, mas para o próprio consumidor, que terá acesso a um produto com garantia de origem e qualidade. Já a sustentabilidade envolve uma série de fatores, desde a pesquisa e produção, passando pelo desenvolvimento de ações que promovam a organização e preservação do meio ambiente, até o estímulo e promoção do potencial turístico da região e o aprimoramento sociocultural dos associados, seus familiares e da própria comunidade.
Cosméticos são nicho de mercado
Segundo o presidente da Aproarroz, Clovis Terra Machado dos Santos, a Indicação Geográfica só desempenhará seu poderoso papel de instrumento de agregação de valor quando o consumidor conhecer e desejar o arroz certificado. Para isso, é fundamental investimentos em divulgação. Para a associação, são necessárias várias ferramentas de apoio ao desenvolvimento das IGs, entre elas, políticas públicas, incentivos e novas tecnologias para o desenvolvimento de matéria-prima que atenda à indústria de cosméticos e de produtos farmacêuticos.
Ele lembra que a indústria cosmética usa substâncias extraídas do arroz para a produção de pós, talcos, perfumes e cremes, como as grifes japonesas Shiseido e Kenzo, que, cada vez mais, retiram do arroz insumos para seus produtos. Do arroz também é extraída a hydrolat, substância rica em aminoácidos e açúcares, que estimula a síntese do colágeno. Da casca do arroz, foi isolada uma substância eficiente como filtro solar, orgânico e antialérgico.
Difusão de conhecimento
É também objetivo da Aproarroz a permanente qualificação dos produtores das regiões certificadas e as comunidades do entorno, através da disseminação do conhecimento e dos objetivos da certificação. Para tanto, são realizados seminários e palestras, bem como prestada assessoria direta aos produtores e suas famílias, através da transferência de tecnologia e conhecimentos. A associação entende que a valorização dos recursos humanos é elemento essencial para o sucesso da Indicação Geográfica e a consequente fixação do homem no campo. A fim de incluir a cultura da IG na educação, são sugeridos programas de ensino escolar que mostrem a sua importância para a região, suas responsabilidades e benefícios sociais, ambientais e econômicos.
Um pouco de história
Entre 1936 e 1937 italianos, alemães e lavradores da região começaram a produzir o arroz no Litoral Norte Gaúcho, propiciando uma miscigenação de povos e culturas.
A lavoura, que já nasceu comercial, facilitou o desenvolvimento daquela região, transformando-a em grande produtora de arroz.
Novas tecnologias, implementadas a partir dos anos 1970, impulsionaram a produtividade e o cereal passou a ser comercializado também em diversos estados brasileiros.
A partir daí, a qualidade do arroz do Litoral Norte Gaúcho começou a ser reconhecida e apreciada por consumidores de todo o país. Por isso, obtém preços superiores aos de outras regiões produtoras do cereal.
As Indicações Geográficas contribuem para o resgate da cultura e do saber fazer, na agricultura, na gastronomia, na produção artesanal, perpetuando o conhecimento. Além disso, seus benefícios estão também intimamente ligados aos cuidados com meio ambiente, isto porque a rastreabilidade e a educação, fatores intrínsecos ao processo, obrigam a adoção de práticas de produção ambientalmente corretas.
Registro IG 200801 INPI
Denominação de Origem /2010
Área Geográfica Delimitada: 300 km²
Abrangência: 12 municípios (Balneário Pinhal, Capivari do Sul, Cidreira,
Palmares do Sul, Mostardas, São José do Norte, Tavares e Tramandaí
e parte dos municípios de Imbé, Osório, Santo Antonio da Patrulha e Viamão)