Uma pesquisa de manejo de solo conduzida, por 20 anos, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pela Universidade Federal Fluminense (UFF) confirma a eficácia do sistema de plantio direto como prática de conservação do carbono no solo.
O estudo mostra que o plantio convencional acumula cerca de duas vezes menos carbono orgânico no solo do que o plantio direto: sistema que preconiza a semeadura sem revolvimento do solo e cujos restos culturais da lavoura anterior permanecem sobre o solo como palhada de cobertura.
Um dos principais problemas relacionados à degradação dos recursos naturais é a emissão de gases de efeito estufa, como o gás carbônico. Correntemente associado à poluição pela queima de combustíveis fósseis, sua liberação na atmosfera encontra-se também relacionada à agricultura, onde um dos vínculos concerne ao modo de se trabalhar o solo para o cultivo.
Dependendo da forma de como cuidar do solo, é possível evitar que parte do carbono presente em produtos da matéria orgânica, originária de resíduos vegetal e animal, seja emitida para a atmosfera na forma de gás carbônico.
Pesquisas nesse sentido vêm ganhando volume no Brasil. Existe a necessidade de se gerar conhecimento para balizar a mensuração da emissão de gases de efeito estufa pela agricultura na região tropical e inclusive utilizar esses dados como subsídio para a elaboração de relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas.
Dentre as instituições que realizam esse tipo de investigação científica, estão a Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás-GO), a Embrapa Soja (Londrina-PR), a Embrapa Solos (Rio de Janeiro-RJ) e a Universidade Federal Fluminense – Instituto de Geoquímica (Niterói-RJ).
Em um estudo realizado recentemente por essa rede de pesquisa, constatou-se que o manejo do solo em plantio convencional, com o uso de gradagens e arados, acumula cerca de duas vezes menos carbono orgânico no solo do que o plantio direto. Este é um sistema conservacionista que preconiza a semeadura sem revolvimento do solo e cujos restos culturais da lavoura anterior permanecem sobre o solo como palhada de cobertura.
Sabe-se que o carbono produto da matéria orgânica no solo se encontra protegido dentro de estruturas, chamadas popularmente de torrões e, cientificamente, de agregados do solo. Estes são um conjunto de partículas que se aderem umas às outras por ação bioquímica, apresentando diferentes formas, graus de estabilidade e classificação de tamanho.
O trabalho em questão partiu justamente do conhecimento da correlação entre a emissão de gás carbônico para a atmosfera pelo solo e a presença carbono estabilizado acumulado pela matéria orgânica em agregados da classe designada macroagregados.
Foram coletadas, na camada superficial de 0 a 5 centímetros, amostras de Latossolo Vermelho em dezesseis pontos aleatoriamente escolhidos, sob plantio direto e plantio convencional, de um campo experimental da Embrapa Soja, em Londrina (PR).
As amostras foram coletadas em lavoura de trigo, nas áreas onde anteriormente foram estabelecidas ao longo de 20 anos a sucessão de soja no verão e trigo no inverno; e que foi submetida à rotação de cultivo de milho no verão e tremoço e aveia preta, como plantas de cobertura do solo, no período de inverno, nos últimos 12 anos.
Para mensurar o acúmulo de carbono orgânico nos macroagregados e o fluxo de gás carbônico emitido, os cientistas dividiram as amostras em solo inteiro e, por meio de peneiras de 19 milímetros, foram subdivididas 4 frações de macroagregados, entre 8 e 0,25 milímetros. As amostras, em duplicatas, foram secas e armazenadas.
Experimento em incubação
Em laboratório, com 10 gramas de cada amostra, foi realizado o experimento em incubação, quando o material foi acondicionado em frascos, e coletada após oito horas a emissão de gás carbônico que se desprendeu pela rápida mineralização do carbono no processo de decomposição da matéria orgânica, via oxidação, que estava no interior de macroagregados intactos e destruídos pelo processo de moagem.
O experimento, conclusivo que o solo, sob plantio direto contínuo por vários anos evita que 79,4 quilos de carbono por hectare por hora sejam emitidos para a atmosfera. No solo sob plantio convencional, que é impedido de formar e estabilizar agregados, o desempenho foi 63,3% menor do que no solo sob plantio direto contínuo.
Segundo a pesquisa, o balanço entre o carbono orgânico em solo inteiro emitido na forma de gás carbônico e o carbono estabilizado pela matéria orgânica nos macroagregados do solo foi positivo para o plantio direto. Ficou em 61,1 quilos de carbono por hectare por hora, enquanto para o plantio convencional, 26,8 quilos de carbono por hectare por hora.
A pesquisa mediu também amostras de solo do ambiente de floresta, como sistema de referência. O balanço do acúmulo de carbono pela matéria orgânica no solo alcançou também saldo positivo de 875,1 quilos de carbono por hectare por hora.
Conforme pesquisadores, embora em condições de campo a perda de carbono orgânico na forma de gás carbônico para a atmosfera não ocorra da mesma maneira apresentada nesse trabalho, a metodologia de tratamento de macroagregados, subdividindo-os em intactos e destruídos, permite chegar a resultados semelhantes ao efeito da desestruturação de macrogregados pela ação das gradagens e da aragem na camada superficial do solo.
Outro aspecto, segundo o experimento, é que, de fato, existem efeitos negativos da conversão de ecossistemas naturais em áreas agricultáveis, no que tange à emissão de gases de efeito estufa, mas os sistemas conservacionistas, como o plantio direto, são os que mais se aproximam do ambiente natural de floresta em relação a maiores índices de agregação e estoques de carbono em níveis superficiais.
A pesquisa foi realizada pelos pesquisadores Renata Barreto, Beata Madari, John Maddock, Pedro Machado, Eleno Torres, Julio Franchini e Adriana Costa.