O Brasil é o segundo maior produtor de orgânicos, com pouco mais de 10% da área mundial. São 11.500 propriedades certificadas, que ocupam 1,5 milhão de hectares, segundo dados de 2012 do Ministério da Agricultura. No país, a atividade cresce a uma média de 30% ao ano, agrega mais de 15 mil produtores rurais, dos quais 80% familiares. A hidrelétrica Itaipu Binacional, maior do mundo em geração de energia, localizada em Foz do Iguaçu (PR), fronteira com o Paraguai, contribui para esse crescimento. Seu projeto focado nos produtos orgânicos envolve 1.200 famílias, 22 associações e sete cooperativas
O consumo interno ainda tímido, na casa de 1% do mercado total de alimentos, indica o potencial de crescimento deste setor, tanto no mercado interno quanto externo. No campo, ainda faltam pesquisas e tecnologias, principalmente para controlar pragas e doenças, além de melhor organização que promova escala de produção e aumento de renda para os produtores.
Assim como na produção tradicional, os orgânicos também enfrentam — e mais intensamente — gargalos na comercialização. Hoje, os principais produtos exportados, segundo dados da Apex, são café, cacau, soja, açúcar mascavo, erva-mate, suco de laranja, óleo de dendê, frutas secas, castanha de caju e guaraná. É preciso conquistar mais espaço no mercado externo e com produtos com maior valor agregado.
Modelo de uma década
Desenvolvido há uma década pela Itaipu binacional, na bacia hidrográfica do rio Paraná 3, o Programa Cultivando Água Boa, que tem como missão gerar energia elétrica com responsabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tecnológico sustentável, criou vários outros programas, entre eles, o Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável e o Vida Orgânica.
Água Boa
O Cultivando Água Boa, nasceu como uma resposta à problemática global decorrente das mudanças climáticas, epidemias e perda da biodiversidade. Também procura solucionar problemas regionais do Estado do Paraná, buscando a redução da erosão, do desmatamento e do uso excessivo de agrotóxicos. Outra questão regional é a concentração de produção de aves e suínos e a decorrente geração de resíduos e efluentes, que acabam atingindo a represa e geram passivos ambientais. O Cultivando Água Boa abrange 29 municípios da Bacia do Paraná, uma área de 3,8 mil km² composta por 196 microbacias, e suas ações – são mais de 65 junto a 2.146 parceiros – atingem cerca de um milhão de habitantes.
O Programa Desenvolvimento Rural Sustentável de Itaipu, nasceu, segundo o seu gestor, Sérgio Angheben, como uma alternativa para os agricultores que querem produzir de modo mais responsável. O trabalho parte do princípio básico da agricultura sustentável, amparado no tripé: ecologicamente correto, economicamente sustentável e socialmente justo.
Uma de suas principais ações é o incentivo à agricultura orgânica baseada na gestão participativa, na qual um comitê gestor atua junto a vários parceiros entre ONGs, entidades governamentais e sociedade civil organizada. É este comitê que toma as principais decisões do Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável.
Assistência técnica
Apesar da decisão de se priorizar a agricultura orgânica, a falta de assistência técnica e extensão rural (Ater) era um entrave, superado por meio da formação de uma rede de Ater praticamente privada, na qual Itaipu arca com 75% dos recursos e entidades e prefeituras municipais com os 25% restantes.
Há dez anos, no início do programa, eram 188 agricultores orgânicos em conversão. Hoje são atendidas 1.200 famílias, gratuitamente. Além da assistência direta nos assuntos relacionados ao campo, os técnicos também orientam na formação de associações e cooperativas. Ao longo dos anos, foram criadas e recebem assessoria 22 associações e sete cooperativas.
Vida Orgânica
Na ponta da comercialização, Itaipu apoia com o projeto Vida Orgânica, composto por 21 feiras regulares, 12 pontos de venda e 10 feiras móveis. O objetivo é fazer com que o produtor estabeleça contato direto com o consumidor. A usina também está investindo na inclusão de produtos orgânicos nos típicos cafés coloniais da região.
As associações
Entre as cooperativas, Sérgio Angheben destaca a Cofamel, cuja maior parte dos apicultores mantém as suas colmeias na faixa de proteção do reservatório da Itaipu, com extensão de 200 metros de vegetação. A cooperativa conta com um mix de 15 produtos e 411 pontos de venda, em oito estados e no Distrito Federal, para escoar as mais de 219 toneladas de mel produzidas ao ano.
Outro exemplo de prosperidade é a Coperfam, que iniciou a venda de alimentos orgânicos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) em 2011, ano em que faturou R$ 420 mil. Já em 2012, fornecendo para 52 escolas em 12 municípios, os 88 cooperados venderam mais de R$ 1 milhão, e a previsão para este ano é de um faturamento de R$ 2 milhões. A participação das cooperativas de orgânicos no PNAE e no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) gerou uma receita total de R$ 7,3 milhões, na Bacia do Rio Paraná 3.
Suporte
Itaipu, em parceria com a Prefeitura Municipal, mantém um centro de difusão e pesquisa no município de Santa Helena, que atende a mais de 1.600 pessoas/ano, entre agricultores e demais interessados na produção orgânica. Mais de 52 caravanas já foram organizadas e 60 palestras ministradas no período de um ano. Além disso, a usina apoia a criação de agroindústrias (abatedouro de frango caipira, processamento de frutas, mel e vinho e beneficiamento de grãos) e incentiva o controle de qualidade dos produtos. Já treinou 870 merendeiras em manipulação de alimentos, estimulando-as através da promoção de concursos de receitas com alimentos orgânicos. Itaipu também atua na educação ambiental, atingindo 135.000 alunos, por meio da distribuição da cartilha ‘Mundo Orgânico’ e da implantação de 218 hortas escolares.