Espécies de pínus, que representam mais de 30% das florestas plantadas no Brasil, também não estão livres das ações de insetos-praga. Hidrogel com nematóide vem sendo usado, com sucesso, no combate biológico por meio do Manejo Integrado de Pragas
Há mais de um século, as espécies de pínus vêm sendo cultivadas no Brasil para usos diversos, principalmente para a produção de papel e celulose, contribuindo com fibras longas, necessárias à fabricação de papéis que exigem maior resistência ao rasgo e estouro, além de melhor absorção de tinta. Atualmente, eles, que representam mais de 30% das florestas plantadas do País, também têm sofrido com a ação de insetos-praga — o principal é a vespa-da-madeira —, que está presente em quase dois terços da área de 1,6 milhão de hectares plantados no Brasil.
Para combater o problema, existe um novo método de aplicação para combate biológico — um hidrogel com o nematoide Deladenus (Beddingia) siricidicola, inimigo natural da praga — vem reduzindo os custos de produção em 46,5% e o tempo de execução da atividade em 66,7%. O método foi desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Florestas (PR), com apoio do Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais (Funcema), que desde 1989, investigam procedimentos de combate à vespa-da-madeira pelo Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Redução de custos
Usualmente, para inoculação do nematoide nas árvores atacadas, é preparada uma gelatina com doses do nematoide, demandando diversos trabalhadores nas atividades de pré-aplicação, além de infraestrutura como batedeira elétrica, gelatina e água gelada e fervente.
“O preparo do inóculo dessa maneira exige treinamento do pessoal, estrutura física e disponibilidade de tempo. Mas, por causa da necessidade crescente de maior rendimento das operações e da escassez de mão de obra, a redução dos custos nas atividades florestais tornou-se fundamental para qualquer empresa”, explica a pesquisadora da Embrapa Florestas Susete do Rocio Chiarello Penteado.
Neste novo processo, aplicando hidrogel em substituição à gelatina, o método é simplificado, uma vez que basta misturar as doses de nematoide com água e hidrogel em um saco de plástico e a solução estará pronta para uso.
Espessante
O desenvolvimento da nova tecnologia para a substituição da gelatina por outro espessante, explica Susete, teve o intuito de facilitar o preparo, com otimização do processo de inoculação e padronização da atividade. Aliado a estas características, este espessante deveria proporcionar também a redução dos custos do processo e manter a eficácia no controle da praga.
Segundo a pesquisadora, entre os variados espessantes testados, o hidrogel revelou o menor custo, não afetou a sobrevivência do nematoide e apresentou maior estabilidade quando armazenado em geladeira.
Praticidade e rendimento
Diretor-executivo da Associação Paranaense das Empresas de Base Florestal (Apre), Carlos Mendes elogiou a praticidade do novo material. “Tínhamos uma tecnologia sem dúvida mais trabalhosa e sujeita a erros. Agora, com o hidrogel, a mistura certamente é feita com mais segurança e rapidez e a probabilidade de erros é muito menor,” disse Mendes, informando que muitas empresas avaliaram positivamente o produto e ressaltaram o seu rendimento operacional.
Uma das empresas que já utiliza a inovação é a Klabin, maior produtora e exportadora de papéis do Brasil. No Paraná e Santa Catarina, as áreas de plantios de pínus somam 145 mil hectares, e a área com risco de ataque da praga (idade superior a sete anos) é de aproximadamente 55 mil hectares. Desde março de 2015, a empresa vem adotando a inoculação com hidrogel em 6.276 hectares.
Diretor florestal da empresa, José Totti informa que a Klabin realizou a substituição total da gelatina pelo hidrogel por causa da facilidade do processo de preparo em testes realizados pela Embrapa Florestas. “Os benefícios dessa substituição foram o aumento do rendimento operacional e a facilidade no preparo, manuseio e transporte do inoculo no campo,” narra Totti.
A praga
Antes de atacar os pínus, a vespa-da-madeira é atraída para as árvores estressadas, geralmente em plantios florestais mal manejados. Quando perfura o tronco da árvore, deposita de 300 a 500 ovos. Durante a postura, além dos ovos, a fêmea introduz na árvore uma muco-secreção fitotóxica, juntamente com esporos de um fungo simbionte, Amylostereum areolatum. O fungo obstrui os vasos de seiva e a muco-secreção provoca mudanças fisiológicas rápidas no metabolismo da planta.
A ação combinada do muco e do fungo leva a planta à morte e cria um habitat propício para o crescimento contínuo do fungo, que servirá de alimento para as larvas da vespa-da-madeira. Durante o processo de alimentação, as larvas constroem galerias no interior da árvore, afetando a qualidade da madeira e também favorecendo a penetração de agentes secundários, o que limita seu uso ou a torna imprópria para o mercado.
Segundo a Embrapa Florestas, a utilização do nematóide esteriliza as fêmeas da vespa-da-madeira e seus ovos, quando depositados em outra árvore darão origem a novos nematoides, auxiliando no controle da praga.
Prejuízos
O uso de agentes de controle biológico, associado ao manejo florestal adequado, tem permitido a redução dos danos provocados pela praga. Utilizando-se corretamente as medidas de prevenção e controle existentes, é possível reduzir as perdas em pelo menos 70%, e manter a praga sob controle, assegura o analista Joel Penteado Júnior, da Embrapa Florestas.
“Em 2014, o programa de combate à vespa-da-madeira apresentou benefícios econômicos no valor de R$ 209,5 milhões na forma de prejuízos evitados com o uso da tecnologia, se contarmos somente a contrapartida da Embrapa“, afirma.
Para combater a vespa-da-madeira do pínus, a adoção do Manejo Integrado de Pragas vem sendo a melhor alternativa. Quando bem conduzido, o uso do nematoide chega a níveis próximos a 100% de parasitismo neste inseto-praga. Isto quer dizer que os novos insetos nascidos estão parasitados pelo nematoide e deixam de ser uma ameaça à planta.