O IAC desenvolveu mais de três mil matrizes isentas do vírus conhecido como mancha anelar da hortênsia, que produziram os primeiros vasos floridos comerciais livres da doença
Pela primeira vez, produtores de flores terão acesso a mudas de hortênsias azuis livres de vírus, desenvolvidas por pesquisas do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas.
Nos últimos anos, as hortênsias azuis já não estavam tão admiráveis – o tamanho reduzido das flores e as manchas nas folhas depreciavam o produto no mercado. Para piorar, o número de mudas vinha caindo ano a ano e os produtores desconheciam a causa do problema.
Amostras
Em busca de solução, enviaram amostras de hortênsias ao IAC, de Campinas, que identificou o vírus causador das perdas e gerou uma resposta para os floricultores ainda em 2008: o IAC fez a “limpeza” da variedade chamada “Renat Blue”, principal no mercado, obtendo matrizes (plantas que dão origem às mudas) isentas do vírus Hydrangea ringspot virus, também chamado de mancha anelar da hortênsia. “Esse era um problema do produtor e precisávamos resolver” explica o pesquisador do IAC Valdir Atsushi Yuki, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O IAC recebeu as amostras da Aflord (Associação dos Floricultores da Região da Via Dutra) em 2004. Naquele momento, 100% das matrizes estavam contaminadas. Segundo a Associação, a quantidade de mudas de hortênsias vinha caindo, problema chamado degenerescência da planta. Esse efeito, observado há cerca de seis anos, agravava ainda mais a já existente carência de mudas no mercado de hortênsias. Também em queda estava a qualidade do produto final para o consumidor, já que o vírus reduz o tamanho da flor e mancha as folhas.
O preço caiu juntamente com a qualidade. A hortênsia em vaso custa para o consumidor cerca de R$ 9,00 o vaso de 15 cm de diâmetro.
Termoterapia
Por meio da técnica de termoterapia, feita no IAC, e de cultura de tecidos, realizada na Aflord, os resultados chegaram em dois anos: em 2006, foram obtidas várias plantas. De lá para cá, foram feitos testes para confirmar a sanidade do material obtido. Nove plantas isentas de vírus foram confirmadas. Estas são as matrizes básicas e, a partir delas, realizadas as multiplicações de mudas. Dessas nove plantas isentas, originaram-se todas as mudas dos produtores. “Hoje, são mais de 3.000 matrizes isentas de vírus e, a partir dessas, foram produzimos os primeiros vasos floridos comerciais”, afirma Yuki.
Negócio permanente
A floricultura pode ser um segmento pequeno em meio às proporções do agronegócio, mas quem está nessa área destaca: os empregos daqueles que trabalham com flores são permanentes e não sazonais, como ocorrem nas safras de café e cana-de-açúcar, por exemplo. Nesse trabalho, foram parceiros do IAC, além da Aflord, a Unesp Botucatu e o Instituto Biológico. “O resultado mostra a importância da integração entre o setor produtivo e a pesquisa”, considera Yuki.