O Manejo Integrado de Pragas da Soja vem passando por aperfeiçoamento desde a década de 1970, a partir de pesquisas de várias instituições, com grande sucesso na redução do uso abusivo de defensivos agrícolas. No início da década de 1980, por exemplo, foi possível reduzir, por safra, o número médio de aplicações para o controle de pragas, de mais de cinco para menos de duas, no Estado de Paraná.
Mais recentemente, no entanto, houve uma redução substancial na adoção do MIP Soja. Como consequência, o número de aplicações voltou a subir e atingiu uma média de quatro a seis pulverizações por safra. “Associado a este aumento, houve a ocorrência de surtos em diversas espécies de pragas secundárias, que até recentemente não apresentavam importância econômica como: a lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens), lagartas das vagens (Spodoptera spp.), ácaros e Helicoverpa armigera. Também se elevou a resistência de pragas a inseticidas, como é o caso dos percevejos,” alerta o pesquisador o pesquisador Samuel Roggia, da Área de Entomologia da Embrapa Soja.
“Para obter resultados mais efetivos, é fundamental tanto o manejo das culturas que antecedem a soja quanto as que a sucedem, considerando também o seu entorno”, ensina o pesquisador.
Monitoramento e controle
O Manejo Integrado de Pragas da Soja, assim como em outras culturas, preconiza o monitoramento dos insetos-praga e a tomada de decisão com base em indicadores gerados pela pesquisa, que indicam a quantidade tolerada na lavoura que não esteja impactando a produtividade e rentabilidade da produção.
“Desta forma, somente é feito o controle químico da praga ao atingir o nível de ação ou de controle predeterminado, evitando aplicações calendarizadas e, muitas vezes, desnecessárias”, defende o pesquisador Osmar Conte, da Área de Transferência de Tecnologias da Embrapa Soja.
Além de menor risco para o ser humano, animais e para o meio ambiente, Samuel Roggia reforça que a diminuição do uso de defensivos agrícolas colabora para a conservação de agentes de controle biológico presentes naturalmente nas lavouras.
“Tais agentes de controle biológico auxiliam na contenção natural de pragas na plantação, evitando ou retardando a ocorrência delas e, consequentemente, diminuindo os riscos de perdas da produção pelo ataque de pragas e reduzindo os gastos para o seu controle”, esclarece o entomologista.
Pano de batida
Roggia explica que o Manejo Integrado na sojicultura começa com o monitoramento semanal da plantação, utilizando um pano de batida, que consegue indicar o número e o tamanho das pragas presentes na lavoura. Ainda mostra o nível de dano já ocasionado por elas, como o desfolhamento e a quantidade de plantas atacadas, por exemplo.
“A aplicação de agrotóxicos só é recomendada quando o número de pragas detectadas na plantação ultrapassa o nível de ação já estabelecido pela pesquisa, caso contrário, não há necessidade de fazer o controle com defensivos”, alerta.
Este nível de ação, conforme Roggia, representa a quantidade populacional de pragas ou o grau de dano que a planta de soja suporta, sem as perdas de produtividade da cultura.
Pulverização
Quando a pulverização de agroquímicos é necessária, dados científicos comprovam a eficiência dos inseticidas seletivos (biológicos ou grupos químicos, reguladores de crescimento e diamidas).
“Estes produtos têm alta eficiência na contenção das pragas-alvo e, ao mesmo tempo, apresentam baixo impacto sobre os agentes de controle biológico presentes naturalmente na lavoura“, explica o entomologista.