O Manejo Integrado de Pragas-MIP é muito importante para sustentabilidade da sojicultura brasileira
O manejo integrado de pragas da soja (MIP-Soja) é a melhor maneira para o agricultor conduzir sua lavoura realizando o controle de pragas de maneira racional, combinando diferentes estratégias de controle (inseticidas, plantas resistentes, entre outras, por exemplo), de forma a preservar o controle biológico natural (insetos benéficos) e utilizar os inseticidas certos (menos tóxicos), apenas quando necessários. Esse uso racional de inseticidas garante a sustentabilidade do cultivo a longo prazo, ao contrário do promovido por uma visão imediatista de lucratividade, a qualquer custo, através de um uso abusivo e exagerado de agrotóxicos. Esse conceito de MIP foi instituído no final da década de 50 e vem sendo estudado e aperfeiçoado desde então.
O sucesso do MIP-Soja
Antes do MIP-Soja, no início da década de 70, o uso de agrotóxicos nesta lavoura era generalizado, com aproximadamente seis aplicações por safra. O agricultor utilizava produtos extremamente tóxicos como o DDT, monocrotofós, entre outros. Em 1975, com a criação da Embrapa Soja e, em parceria com a EMATER-PR, o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), algumas universidades, além de outras instituições parceiras, foi iniciado um trabalho pioneiro de MIP-Soja no estado do Paraná, visando, principalmente, ao uso racional de inseticidas e a consequente preservação do controle biológico natural na cultura.
Momento correto
Nesse período, a pesquisa estabeleceu o momento correto para se aplicar inseticidas (níveis de ação) para o controle das principais pragas da cultura da soja que eram (e ainda são) as lagartas e os percevejos. É importante ressaltar que, antes desse nível de ação ser atingido, não há qualquer necessidade de controle. Após a adoção dos níveis de ação pelos sojicultores, juntamente com outras táticas de MIPSoja, a utilização de inseticidas na soja no Brasil foi reduzida para apenas uma ou duas aplicações por safra, já na década de 80.
Novas cultivares
Nos últimos anos, entretanto, houve grandes mudanças no sistema produtivo da soja. Novas cultivares foram lançadas no mercado com diferentes características como, por exemplo, tipo de crescimento indeterminado, ciclo precoce, além da soja geneticamente modificada, entre outras. Assim, nos últimos 40 anos, praticamente dobrou-se a média de produtividade da cultura no país. Essa busca incessante pelo aumento da produtividade, associada aos bons preços pagos pela soja e o baixo custo de muitos inseticidas, infelizmente, tem levado muitos agricultores a utilizar inseticidas de maneira abusiva, realizando, equivocadamente, o controle de pragas mesmo antes dos níveis de ação serem atingidos. Com essa aplicação errônea de inseticidas, que muitas vezes é realizada junto (“na carona”) dos herbicidas e fungicidas, e não mais no momento apropriado, o MIPSoja tem sido menos adotado nos últimos anos. Como consequência dessa prática nociva, atualmente, como ocorria no início da década de 70, existem produtores que vêm utilizando, sem necessidade, seis, ou até mais, aplicações de inseticidas por safra.
MIP, melhor alternativa de manejo
É muito importante frisar que todos os trabalhos de pesquisa confirmam que o MIP-Soja ainda é a melhor alternativa de manejo e que os níveis de ação recomendados ainda continuam válidos e seguros, mesmo utilizando as atuais, modernas e mais produtivas cultivares. Inúmeros experimentos realizados em muitos estados brasileiros, em diversas safras, comparando diferentes manejos, comprovam de forma definitiva que, com o uso do MIP-Soja, é possível, sim, reduzir o número de aplicações de inseticidas, sem qualquer prejuízo à produtividade. Em todos os ensaios realizados pelas empresas de pesquisa, o número de aplicações do MIP foi consideravelmente menor que o número de aplicações de inseticidas do tratamento feito na “carona” do herbicida ou fungicida (tratamento preventivo) sem qualquer perda de produtividade.
Medidas urgentes
É possível afirmar, sem receio, que o MIP-Soja ainda é a melhor maneira do sojicultor garantir boa produtividade associada à sustentabilidade ambiental, simplesmente porque a sua adoção propicia menor uso de inseticidas. Produzir soja com a tão almejada sustentabilidade é perfeitamente viável. Mas, para que isso se torne uma realidade no país, é preciso que sejam tomadas medidas urgentes que incentivem a reativação do MIP-Soja em todo o Brasil.