A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e o Centro de Arroz e Feijão estão desenvolvendo o primeiro feijão transgênico do mundo. A nova variedade de feijão foi modificada para resistir ao vírus do mosaico dourado, o pior inimigo dessa cultura na América do Sul. No Brasil, a doença está presente em todas as regiões e, se atingir a plantação ainda na fase inicial, pode causar perdas de até 100% na produção.
A iniciativa é resultado de mais de 10 anos de pesquisa e, segundo a Embrapa, marca um feito inédito no Brasil: são as primeiras plantas transgênicas totalmente produzidas por uma instituição pública de pesquisa. Além dos centros da Embrapa Arroz e Feijão e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, as análises de biossegurança envolveram os centros da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Embrapa Agrobiologia e a Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Para chegar às variedades geneticamente modificadas, os pesquisadores Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, e Josias Faria, da Embrapa Arroz e Feijão, utilizaram quatro estratégias de transformação genética. A alteração principal foi fazer com que a planta produzisse uma molécula de RNA – que pode catalisar importantes reações biológicas, uma delas sendo um mecanismo de defesa contra o vírus mosaico dourado. “Mimetizamos o sistema natural”, diz Aragão, explicando que a grande vantagem dessa técnica é que não há produção de novas proteínas nas plantas. Desta maneira são evitados sintomas alérgicos ou tóxicos, além da vantagem da resistência a várias estirpes do mesmo vírus.
As pesquisas a campo com o feijão transgênico da Embrapa são realizadas desde 2006 em Sete Lagoas (MG), Londrina (PR) e Santo Antônio de Goiás (GO), regiões de alta produção no país. Em todos os casos, os grãos foram infectados naturalmente pelo mosaico dourado. Os transgênicos, diz Aragão, não apresentaram sintomas da doença. Os convencionais tiveram de 80% a 90% das plantas afetadas. Contudo, para 2011 está prevista a liberação para cultivo comercial de feijão, que aguarda o parecer positivo da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).