Sistema Integração Lavoura-Pecuária (ILP) garante alta produtividade e menor incidência de pragas e doenças para o cultivo do feijão
A denominação “Integração Lavoura-Pecuária” ou “Lavoura Pecuária Floresta (ILPF)” tem sido utilizada para descrever sistemas de produção em que pastagens, cultivos agrícolas e florestas que coexistem em uma mesma propriedade e onde se observam interações sinérgicas entre essas atividades. Para o pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Sergio José Alves, o feijão é excelente alternativa para o sistema, com atraentes ganhos em rendimento.
Alves afirma que o uso de culturas em rotação traz inúmeros benefícios ao solo, que permanece com cobertura o ano todo, aumentando sua fertilidade e diminuindo a ocorrência de invasoras, doenças e pragas. Já a integração com florestas possibilita além de vantagens ao solo, quebra-ventos e conforto aos animais.
Com a adoção da tecnologia e a inclusão do feijão nas alternativas do sistema, a cultura ganha um “bônus”, como argumenta o pesquisador do IAPAR. “O feijão é uma cultura exigente e acaba se beneficiando com os resultados desta diversificação. Isto é um prêmio para quem faz direito e produz com o foco na sustentabilidade”, explica.
Vantagens
Sérgio Alves destaca as vantagens do cultivo de feijão neste sistema que, além da melhoria da fertilidade dos solos e diminuição de pragas e doenças, permite também:
- A possibilidade de utilização de pastagens de elevado potencial produtivo e qualidade, mesmo que mais exigentes em termos de fertilidade de solos;
- A produção facilitada de forragem e a possibilidade de ter, dentro de um planejamento forrageiro adequado, alimentos disponíveis para os animais durante o ano inteiro;
- Conservação do meio ambiente e melhoria no uso dos recursos naturais disponíveis;
- O uso dos produtos agrícolas no arraçoamento ou o aproveitamento de resíduos agrícolas para a alimentação animal;
- Aumento da produtividade agrícola;
- Produção de carne e leite de alta qualidade e de forma competitiva;
- Racionalização no emprego da mão de obra e maior eficiência do uso de adubos, máquinas e implementos;
- Aumento de rentabilidade;
- Diminuição de riscos.
O feijão na ILP
O feijão é considerado um cultivo exigente. O pesquisador do IAPAR explica que, como na ILP há uma melhoria das condições ambientais, o feijão pode ser enormemente beneficiado, possibilitando que altas produtividades sejam obtidas neste sistema.
“O feijão é um cultivo de ciclo curto, altamente responsivo às melhorias ambientais e com épocas de plantio bem determinadas. É um produto destinado principalmente ao consumo interno e básico na mesa diária dos brasileiros. Normalmente, um saco de feijão vale 3 ou 4 vezes mais do que um saco de soja”. Além disso, a produtividade do feijão aumenta conforme aplica-se o bom manejo do solo. E, segundo o pesquisador, a ILP contribui para tornar solos mais férteis.
Diversificação
Em áreas já utilizadas para agricultura, o cultivo de feijão é facilitado, já que os equipamentos necessários para o plantio e a condução das lavouras são os mesmos utilizados para outras culturas, necessitando apenas de pequenas adaptações na distribuição de sementes.
“Os produtores, que têm bons sistemas de ILP estabelecidos, conseguem ter o feijão como uma importante alternativa de diversificação e aumento de renda. Produtores capacitados e com ambientes favoráveis podem buscar altas produtividades e ter grande rentabilidade, principalmente quando observam perspectivas de falta do produto”.
Boas práticas
Sergio Alves lembra os cuidados que precisam ser tomados no momento da colheita. “A tecnologia utilizada na produção de feijão evoluiu muito com o passar do tempo. Atualmente, a maior parte do feijão produzido é colhida mecanicamente. Em muitos casos, os produtores terceirizam a colheita. Esta é uma etapa fundamental e que tem que ser adequadamente conduzida, para que sejam evitadas perdas de qualidade dos grãos”.
Rotação de cultivos
O feijão é uma excelente opção para compor sistemas de rotação. É uma leguminosa de ciclo curto. Em rotação, principalmente com gramíneas, permite ganhos significativos em termos de sustentabilidade e aproveitamento das áreas.
Além de ter alto potencial de resposta às melhorias ambientais, a rotação de cultivos possibilita a diminuição de doenças. A ILP alia a obtenção de altas produtividades de feijão com a menor incidência de pragas, plantas daninhas e doenças. “A pesquisa agrícola tem demonstrado, por exemplo, uma redução consistente da incidência de mofo branco em feijão nas áreas anteriormente cultivadas com brachiarias”, afirma Alves.
Integração com a pecuária
As primeiras dúvidas quanto a viabilidade da integração lavoura pecuária estavam relacionadas à entrada dos animais em áreas agrícolas e a uma possível degradação ambiental. “Os animais consomem forragem e, em teoria, deixam menos palha para o plantio direto. O pisoteio dos animais também teria a possibilidade de compactar o solo. Ou seja, a entrada de animais poderia inviabilizar o sistema”, relata o pesquisador.
Alves conta que, depois de diversos trabalhos de pesquisa, foi possível concluir que a entrada dos animais causa apenas um adensamento superficial do solo, e que, com bom manejo e adubação, a produção de biomassa aumenta significativamente. “Os resultados mostraram ser possível o pastejo no período de inverno, em rotação com os cultivos agrícolas e ainda a manutenção de um sistema de plantio direto de qualidade, com adequada cobertura de palha, além de um gradativo aumento dos teores de matéria orgânica do solo”, ensina.
Sustentabilidade
“A ILP é provavelmente o sistema mais sustentável que temos para produzir grãos e um dos mais confortáveis para os animais. Dentre os principais entraves, há a necessidade de informações regionalizadas e de técnicos de diferentes áreas atuando juntos em uma mesma propriedade”, afirma o pesquisador.
Porém, ele lembra que a possibilidade de rendas múltiplas e em diversas épocas do ano, tem despertado o interesse dos técnicos e produtores. “Produção e sustentabilidade têm feito da ILP uma grande alternativa para o futuro, apontando um crescimento em área no Brasil e em diversas regiões tropicais do mundo”, enfatiza Alves.
Como escolher a cultivar
É bom estar atento na hora da escolha do cultivar. Qualidade das sementes, época de plantio adequada, controle de doenças e pragas, e colheita bem feita são informações necessárias para quem quer ter sucesso na sua produção.
Atualmente, encontram-se registradas, no Ministério da Agricultura, 307 cultivares de feijão pertencentes a diferentes grupos comerciais, sendo os principais de domínio na Embrapa, IAPAR e IAC. “Essas cultivares apresentam distintos hábitos de crescimento, porte de planta, ciclo e reação às doenças e condições climáticas e adaptação a diferentes épocas de semeadura”, explica o pesquisador.
Cultivares do Iapar: mais vantagens para agricultores e consumidores
O IAPAR já desenvolveu 36 cultivares, as quais têm sido utilizadas em diversas regiões do país e para diferentes finalidades.
As cultivares de feijão desenvolvidas pelo IAPAR, além de apresentarem alto potencial de rendimento, resistência às doenças e tolerância à seca e ao calor, proporcionando aumento de rendimentos e estabilidade de produção para o agricultor, também têm trazido vantagens para o consumidor.
Uma das contribuições importantes é a redução do tempo de cocção. A cultivar IPR Campos Gerais do grupo carioca, por exemplo, apresenta tempo médio de cozimento de 22 minutos, a IPR Uirapuru, 18 minutos e IPR Tuiuiú, 17 minutos. Sendo que a IPR Uirapuru, além de ser a cultivar de feijão preto mais cultivada no país, é utilizada atualmente como padrão de qualidade de grãos.
Recentemente, o IAPAR disponibilizou aos agricultores duas novas cultivares de ciclo precoce, IPR Curió e IPR Andorinha, com ciclo médio de 70 a 72 dias, favorecendo a inserção da cultura em diferentes sistemas de produção.