O plantio de milho, cana e das diversas gramíneas, agora na primavera para o verão, permite ao produtor planejar o fornecimento de comida para os períodos rigorosos do ano. A melhor forma de preservar o alimento é ensilando, pois evita a perda de peso em tempos de escassez de pasto
Há um costume entre os produtores que trabalham com rebanhos de corte de forma extensiva em não produzirem e guardarem alimento para os períodos críticos do ano, onde a natureza não disponibiliza comida farta e de qualidade para a manutenção do peso dos animais. Desta maneira, o que geralmente ocorre é o emagrecimento e perda de tempo, pois quando a época de bons pastos retorna o rebanho tem que primeiro recuperar os quilos perdidos para depois começar a ganhar peso.
Uma das formas de evitar este “efeito sanfona” é fazer ensilagem, que é um processo de conservação dos alimentos em locais hermeticamente fechados, livres de oxigênio. Seu objetivo é preservar ao máximo o valor nutritivo original da forragem escolhida para isto, seja ela cana, capim ou milho e sorgo (planta inteira). A ensilagem é a forma mais eficiente e barata que se conhece para garantir suprimento de volumoso ao rebanho durante o período de entressafra. “É ideal para sistemas de produção que buscam maximizar o uso da terra, do trabalho e do tempo”, afirma a diretora técnica da Kera Nutrição Animal, Regina Flores.
Segundo a diretora, o processo de conservação da forragem baseia-se na redução do pH (aumento da acidez) graças à produção de ácido lático a partir do açúcar. “A forragem se conserva porque levamos para o silo toda a flora microbiana que está aderida à forragem na lavoura. Esta flora está composta por um universo muito grande, mas os que podem influir na maior ou menor qualidade da silagem são os fungos, leveduras, bactérias láticas, (que são as responsáveis pela conservação da silagem), clostrídios e coliformes”, explica Regina.
Para o consultor técnico da empresa, Carmelindo Tomielo, uma boa silagem precisa ser complementada com a adição de inoculantes biológicos que são “bons micro-organismos” que auxiliam na fermentação da ensilagem. Uma silagem sem adição de inoculantes demora de 25 a 40 dias para chegar a um pH menor que 4,5; isto significa que, neste período, também se desenvolverão bactérias láticas, coliformes e clostrídios. “Este processo faz perder o valor nutritivo da silagem. Para inativar estes micro-organismos, o inoculante deverá baixar o pH abaixo de 4,5 o mais rapidamente possível. Com altas concentrações de bactérias por grama de silagem, pode-se conseguir que a silagem esteja ‘pronta’ em três dias”, avalia Tomielo.
Vantagens
O custo de produção para silagem varia muito, porque há diferenças na escala, tipo de cultura a ser ensilada, fertilidade do solo, etc. Mas, em geral, uma silagem tem entre R$35 a R$90 por tonelada de matéria original (matéria úmida). É importante salientar que a silagem produzida e bem armazenada dura por muitos anos. Fazendo silagem, é possível a manutenção de um maior número de animais ou unidades animais (450 kg) por unidade de terra; permite a manutenção ou maximização da produção (carne ou leite); permite, através do confinamento, ofertar animais bem nutridos em épocas de melhor preço; permite armazenar grande quantidade de alimento em pouco espaço.
Propriedades microbiológicas ideais para a silagem
Apesar das vantagens deste processo, são necessários cuidados para sua composição ideal em termos de equilíbrio de micro-organismos. O universo da flora que integra a pastagem é vasto, sendo composto, dentre outros, de fungos, leveduras, clostrídios, coliformes e bactérias láticas, sendo as últimas as responsáveis pela conservação da silagem. A proporção entre os componentes da flora influirá na maior ou menor qualidade da silagem.
Fermentações
Logo após o fechamento do silo, as fermentações se iniciam. Dentre elas, a que mais interessa é a lática: as bactérias láticas transformam os açúcares em ácido lático, o qual aumenta a acidez da forragem, responsável por sua conservação. A acidez é medida por pH, uma medida de acidez que vai de zero a 14, sendo que o quanto menor for o pH, mais ácido será o meio. Assim, quando a forragem entra no silo, ela tem um pH de 6,0 a 6,5 e ele precisa ficar abaixo de 4,5 para que coliformes e clostrídios parem de se desenvolver. E por que é preciso que eles se desenvolvam o mínimo possível?
Porque os coliformes consomem energia e proteínas da forragem e produzem chorume, um líquido poluente que baixa o valor nutritivo da silagem. Além disso, o chorume causa a formação butírica que dá sabor e cheiro repulsivos à silagem, diminuindo o consumo pelo animal. Outro grave problema é a produção de toxinas, muito prejudiciais à saúde animal, como a histamina – responsável pela laminite, entre outras doenças – a cadaverina, putrescina, triptamina além de outras toxinas, que podem causar abortos, lesões hepáticas, renais e intestinais e diarreia, cuja gravidade depende do teor das mesmas. Como não é possível evitar que elas se desenvolvam, pode-se, pelo menos, diminuir seu tempo de multiplicação com o uso do inoculante. Este produto deverá possuir um alto teor de bactérias por grama de silagem, dados que estão no rótulo de todos os produtos comerciais.
Nem toda silagem será aproveitada
Todo o alimento que passa por um processo de conservação – neste caso, uma fermentação – perde valor nutritivo. O que o inoculante faz é diminuir ao máximo esta perda e também em termos físicos, com mau cheiro, aquecimento no cocho, etc. Contudo, o problema mais grave é a morte de animais por silagem deteriorada, algo que está sendo cada vez mais frequente e tem duas causas principais: primeiro, o grande desenvolvimento de clostrídios e seus produtos tóxicos, listados acima. Depois, o desenvolvimento de fungos na silagem. Eles se desenvolvem na presença de ar, o que significa que a compactação é fundamental para dar estabilidade à silagem.
Presença de fungos
O sinal mais evidente da presença de fungos é o aquecimento da silagem, que geralmente acontece logo após o fechamento do silo. Neste momento, o ar estará presente, e, quanto melhor for a compactação, o processo ocorrerá com menor intensidade. Porém, o aquecimento retornará quando o silo for aberto para
utilização. Os fungos produzem micotoxinas altamente tóxicas: aflatoxina, cuja dose letal é igual à estricnina; zearalenona, abortiva e até mortal; DON; vomixina e uma lista de mais de 500 substâncias. Para evitá-las, o primeiro passo sempre será a compactação, facilitada pelo corte da forragem em partículas pequenas, observação do teor de matéria seca e as particularidades de cada silagem, por exemplo, bolas de pré-secado sempre terão mais ar em seu interior.
Porém, às vezes uma boa compactação será impossível, como na presença de problemas climáticos, quando a matéria seca da silagem estiver muito alta. Neste caso, o produtor deve também utilizar uma bactéria propiônica, que produz o ácido de mesmo nome e que inativa fungos e leveduras. Desta forma, apesar de não poder impedir a presença de ar, eles se manterão inativos graças à presença do ácido propiônico.