Os frutos do limão Meyer apresentam excelente qualidade, competindo com os limões verdadeiros e as limas ácidas em seus vários usos
O limão é uma das principais frutas da dieta dos brasileiros, sendo utilizado na preparação de sucos, saladas, licores, refrigerantes, aperitivos, sorvetes e doces. Possui reconhecido valor nutricional, principalmente pelo teor alto de vitaminas C e do complexo B, sendo também utilizado em vários tratamentos fitoterápicos.
No Brasil são produzidas por volta de um milhão de toneladas de limões por ano, incluindo-se os limões verdadeiros (grupo Siciliano) e as limas ácidas (Tahiti e Galego). No total, é cultivada uma área próxima a 41 mil hectares, sendo 6% a 7% da produção destinada à exportação e o restante ao mercado interno. Mesmo assim, existe mercado e potencial edafo-climático e tecnológico para aumentar a produção, sendo importante a pesquisa de novas opções varietais para ampliação da diversidade genética dos pomares e de sabores aos consumidores. Dessa forma, a importância da introdução da cultivar Meyer nos sistemas de produção de limões do país.
O limoeiro Meyer (Citrus meyeri Y. Tan.) é um híbrido exótico natural entre limoeiro verdadeiro e laranjeira doce, tendo sido encontrado por Frank Nicholas Meyer, funcionário do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, na China, em 1908. Várias décadas depois foram realizadas várias pesquisas nos Estados Unidos, aonde vem sendo cultivado em larga escala, assim como na África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Uruguai e Argentina. Na última década, a cultivar passou a ser estudada por pesquisadores da Embrapa Clima Temperado.
Potencial produtivo e mercado
Os frutos do limão Meyer apresentam excelente qualidade, competindo com os limões verdadeiros e as limas ácidas em seus vários usos. Pelo formato semelhante ao das laranjas, sabor de limão e casca brilhante de coloração amarelo-alaranjada, a fruta chama a atenção dos consumidores nas gôndolas dos supermercados. Pela menor acidez dos frutos, é recomendado a pessoas com problemas estomacais.
A produção da cv. Meyer ocorre durante todo o ano, porém se concentra nos meses de abril a julho, podendo ser antecipada ou retardada em função das temperaturas médias da região. A cultivar é muito produtiva, podendo atingir 40 toneladas por hectare ao ano, após o sexto ano de cultivo.
Características das plantas e dos frutos
As plantas da cv. Meyer apresentam vigor médio, tendo porte pequeno quando comparadas às dos limoeiros verdadeiros. Também se adaptam ao cultivo em recipientes, vasos de 20 a 150 L, podendo ser utilizadas como plantas ornamentais produtoras de frutos.
Os ramos raramente têm espinhos, facilitando os tratos culturais e a colheita. A floração é intermitente, porém se concentra na primavera. As flores são completas, com pétalas brancas com áreas de coloração arroxeada. Os grãos de pólen e os sacos embrionários são viáveis.
Os frutos apresentam tamanho médio, de aproximadamente 135 g. O formato dos frutos é ligeiramente elíptico, com base arredondada e mamilo pouco saliente na região estilar. A casca dos frutos é fina, com espessura média de 4,5 mm, tendo coloração amarelo-alaranjada brilhante quando os frutos estão maduros. A polpa também é amarelo-alaranjada, tendo boa quantidade de suco (43%). O suco é menos ácido, menos amargo e com maior teor de açúcares totais que os dos limões verdadeiros. Em média, os frutos têm 10 gomos e quantidade moderada de sementes (5 a 10 por fruto). O aroma e o sabor são distintos em relação aos limões verdadeiros e limas ácidas, sendo bastante apreciados.
Como cultivar
As plantas devem ser cultivadas em solos bem drenados e em áreas iluminadas. São muito tolerantes ao frio e mais tolerantes ao calor que os limoeiros verdadeiros e limeiras ácidas.
O citrumeleiro ‘Swingle‘ e os citrangeiros ‘Troyer’ e ‘Carrizo’ são os porta-enxertos recomendados para a produção de frutos de alta qualidade. Também podem ser utilizados os limoeiros ‘Cravo’ e ‘Rugoso’ como porta-enxertos. Já o Trifoliata proporciona plantas pouco vigorosas. Somente devem ser utilizados porta-enxertos tolerantes à tristeza dos citros.
No plantio indica-se o espaçamento de 5 m x 2,5 m, quando se utilizam híbridos de Trifoliata como porta-enxerto, e de 6 m x 3 m, quando se utilizam limoeiros. Em solos muito argilosos, podem ser utilizados espaçamentos menores.
A cultivar é suscetível à tristeza, à podridão floral dos citros e ao cancro cítrico. Em função da tristeza, os afídeos devem ser rigorosamente controlados no pomar. Quanto ao cancro cítrico, recomenda-se o uso de mudas de alta qualidade isentas da bactéria causadora da doença, quebra-ventos entre os talhões e desinfestação do material de colheita. Por serem macios e suculentos, os frutos são sensíveis ao transporte e ao armazenamento, devendo-se tomar os devidos cuidados para não serem danificados.
A Embrapa Clima Temperado possui plantas matrizes e borbulheiras dessa cultivar, devendo iniciar o fornecimento de borbulhas aos viveiristas assim que seja finalizado o processo de cadastro da cultivar no Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Roberto Pedroso de Oliveira e Walkyria Bueno Scivittaro – Pesquisadores da Embrapa Clima Temperado
Daninhas, inimigas da citricultura?
Nos últimos anos a citricultura paulista sofreu intensa migração das regiões produtoras (regiões Norte e Noroeste do Estado de São Paulo) para novas áreas ao sudoeste do estado. Esse deslocamento foi motivado não só pelas condições climáticas favoráveis, que dispensam a irrigação, como também pelo baixo valor das terras e menor incidência de doenças que interferem na citricultura. Entretanto, as chuvas periódicas, associadas à alta umidade relativa do ar que se estende durante a florada da cultura na região Sudoeste, favorecem a ocorrência da podridão floral dos citros (PFC). “Causada pelo fungo Colletotrichum acutatum, a PFC tem como sintoma típico lesões de coloração alaranjada nas pétalas das flores. Quando não controlada, pode ocasionar queda de até 100% de frutos jovens, tornando seu controle mandatório nos locais em que ocorre com frequência”, revela o biólogo Guilherme Fernando Frare, aluno do programa de pós-graduação em Fitopatologia, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ).
Frare explica que o controle tem sido feito com pulverizações preventivas de fungicidas no momento da florada e que, para melhorar o manejo da doença e reduzir os custos de pulverização, é fundamental o conhecimento da epidemiologia da podridão floral, com caracterização clara do patossistema na região sudoeste paulista. “No entanto, há pouquíssima informação disponível sobre a doença e, em sua maioria, produzida na América Central e na Flórida, EUA. São desconhecidos, por exemplo, o tempo e a forma de sobrevivência do inóculo entre as floradas”. Orientado pela professora Dra. Lilian Amorim, do Departamento de Fitopatologia e Nematologia (LFN), o biólogo levantou a hipótese de que as plantas daninhas podem atuar como hospedeiras alternativas do patógeno, servindo assim como fontes de inóculo primário, ou seja, responsável pela chegada da doença no pomar.
Daninhas semeadas
O projeto teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e, com foco em daninhas comumente encontradas em pomares de citros no Estado de São Paulo, o pesquisador plantou sementes de capim-amargoso, picão-preto, capim marmelada, trapoeraba, capim carrapicho, braquiária e capim colonião em vasos de cinco litros, contendo uma mistura de terra argilosa, matéria orgânica e areia. Trinta dias após a germinação das sementes, as plantas foram transplantadas individualmente para vasos de cinco litros e mantidas a céu aberto até o momento da inoculação. Em seguida, foram feitos de quatro a seis círculos de aproximadamente um centímetro de diâmetro em 24 folhas de cada espécie de planta daninha nos quais foram depositados 70 μL da suspensão de conídios de C. acutatum, proveniente de plantas de citros com sintoma de PFC.
Após a inoculação, as plantas foram mantidas em câmara úmida por 36 horas para permitir a germinação. Ao término da câmara úmida amostras de todas as plantas foram coletadas e observadas em microscopia óptica para se confirmar a germinação dos conídios. Na sequência, as plantas foram transferidas para casa de vegetação, onde foram mantidas até a sua senescência.
Sobrevivência
No Laboratório de Epidemiologia, a sobrevivência do patógeno nas folhas das plantas daninhas foi avaliada mensalmente. Também foi realizado teste de patogenicidade, para saber se o fungo além de sobreviver nas plantas daninhas também pode causar sintomas de PFC, quando inoculado em flores. “Observou-se a germinação de conídios e formação de apressórios de C. acutatum na superfície de todas as folhas inoculadas, após 36 horas de câmara úmida. Além disso, o fungo sobreviveu por dois meses em todas as plantas daninhas avaliadas e por até três meses nas plantas de trapoeraba, braquiária e capim colonião. Todos os isolados obtidos, independentemente da espécie de planta daninha e do tempo da inoculação, apresentaram sintomas típicos de PFC em todas as flores de citros inoculadas”, relata o autor do trabalho.
Uma das hipóteses que justifica a ocorrência generalizada da podridão floral em um pomar seria a presença de inóculo viável, seja em plantas de laranja assintomáticas ou em plantas daninhas. “Os resultados obtidos demonstram que plantas daninhas, comumente encontradas em pomares de citros no Estado de São Paulo, podem servir como hospedeiras alternativas de Colletotrichum acutatum, resultando em fonte de inóculo primário para a cultura dos citros”, conclui.
Caio Rodrigo Albuquerque – Jornalista
Exportações mineiras de frutas batem recorde em 2011
Limão é o destaque das vendas para o exterior
As exportações mineiras de frutas frescas e secas somaram US$ 6,2 milhões em 2011. O valor é o maior já registrado por Minas Gerais, com crescimento de 76,3% em relação ao ano anterior. As informações são da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) com base nos dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior (MDIC).
O volume de frutas embarcado também registrou crescimento expressivo. Foram exportadas 5,1 mil toneladas, um aumento de 71,2% na comparação com os embarques de 2010. O limão se destacou entre as frutas comercializadas. Segundo Márcia Aparecida de Paiva Silva, assessora técnica da Seapa, a comercialização de limão movimentou US$ 4,2 milhões e representou 68,6% da receita de exportação de frutas por Minas Gerais em 2011.
Em relação a 2010, o valor das exportações de limão aumentou 507,3% e atingiu o maior montante histórico. O volume encaminhado ao exterior chegou a 3,7 mil toneladas, expansão de 510% em relação a 2010 e também foi recorde.
Minas Gerais é o terceiro maior exportador de limão do Brasil. Em 2011, as vendas externas mineiras da fruta corresponderam a 6,4% do valor exportado nacional, parcela superior à registrada no ano anterior (1,4%).
Mercados
“O principal destino das exportações mineiras de limão foi o mercado europeu, que incrementou as compras e contribuiu para o bom desempenho do comércio internacional da fruta”, explica Márcia Paiva. A Holanda, líder no ranking dos compradores, aumentou as importações em 594,3%, atingindo a cifra de US$ 3,5 milhões.
Em seguida, estão Reino Unido, Dinamarca e Portugal. As importações do Reino Unido aumentaram 963,7% e atingiram US$ 313,1 mil. Dinamarca e Portugal não compraram limão de Minas Gerais em 2010 e, no ano passado, somaram importação de US$ 250,6 mil e US$ 204,1 mil, respectivamente.
Segundo Márcia Silva, um ponto importante a ser trabalhado é a diversificação de mercados. “Embora os problemas econômicos de países da União Europeia não tenham prejudicado as vendas mineiras, a forte dependência diante dos países consumidores do bloco europeu podem gerar transtornos para exportadores brasileiros e mineiros”, analisa.
Principal região produtora
O Norte de Minas Gerais é a principal região produtora de limão, e responde por 58,9% da produção estadual. “A região é beneficiada pelo sistema de produção irrigada, aliada às condições de clima e solo favoráveis à cultura da fruta”, explica.
Na avaliação da assessora da Seapa, a exportação do limão proveniente do Norte de Minas e de outras regiões do estado é impulsionada pela divulgação dos produtos, ampliada por meio da participação dos produtores em feiras temáticas nacionais internacionais. O estabelecimento de parceiras entre produtores também pode beneficiar a comercialização, pois contribuiu para a ampliação da escala de vendas.