Desenvolvida especialmente para processamento de minicenouras (tipo baby carrots) a nova cultivar é ótima alternativa para os produtores do Nordeste e Sudeste durante o ano todo
Atendido em sua grande maioria por materiais importados, o mercado de produção de cenouretes (ou minicenouras) agora conta com uma nova opção genuinamente brasileira: a BRS Planaltina.
A variedade teve o registro de sua certificação publicado, em fevereiro, no Diário Oficial da União. Cultivar de cenoura com características apropriadas para processamento — o certificado, emitido pelo Serviço Nacional de Cultivares do MAPA, constitui-se condição sine qua non exigida para a comercialização de sementes de novas cultivares.
Alternativa ao híbrido importado
Cultivar de verão, a BRS Planaltina, desenvolvida especialmente para processamento de minicenouras (tipo baby carrots), tem características especiais que permitem um melhor rendimento industrial — raízes finas, compridas (de 22 a 26 cm), lisas e uniformes — se comparada com outros materiais de cenoura.
De acordo com o pesquisador e chefe-geral da Embrapa Hortaliças Jairo Vieira, de quem partiu a ideia do desenvolvimento de uma cultivar com essas propriedades, trata-se de uma alternativa para o produtor de cenourete do Nordeste e do Sudeste, principalmente aquele que usa híbrido importado, de maior valor, e com pouco retorno nos níveis de produção.
“A BRS Planaltina foi desenvolvida para servir como uma alternativa para os materiais utilizados para a produção de minicenouras, realizada por meio de sementes híbridas importadas, o que implica em custos financeiros significativos, refletidos nos altos preços exibidos nas gôndolas dos supermercados”, pontua.
“Além do custo de importação, no cultivo desses materiais tem que considerar também a questão da adaptação às nossas condições tropicais”, acrescenta o pesquisador.
Ano todo
“Esse material de polinização aberta pode ser plantado nas principais regiões de produção do País, durante todo o ano, o que vai atender especialmente a produtores com nicho garantido de mercado de cenouretes”, assinala Vieira.
O pesquisador e coordenador do Programa de Melhoramento de Cenoura, Agnaldo Carvalho, enfatiza que “a expectativa é que a importação seja substituída pela produção de sementes da nova cultivar, “agora poderemos contar com material nacional o ano inteiro para abastecer o mercado de produção de minicenouras”.
Escala industrial
A validação pela iniciativa privada já foi devidamente acertada, com o envio de sementes da BRS Planaltina a uma empresa processadora em São Paulo, que vai produzir a cultivar em escala industrial, para avaliar rendimento no campo e a qualidade do material.
Marketing
Com relação à próxima etapa pós-certificação, a fase atual envolve o plano de marketing da BRS Planaltina, primeiro passo para dar início ao processo de disponibilização das sementes. “Junta-se as informações estatísticas, características e potencialidades desse material, assim como suas limitações, para a montagem do edital pela Embrapa Produtos e Mercado (SPM), seguida pela oferta pública e às empresas interessadas que se enquadrarem nas normas previstas no processo é concedida licença para produzir sementes”, explica Carvalho.
Máquinas e equipamentos
• Processadora Múltipla
O desenvolvimento da produção de minicenouras aumentou a demanda por
máquinas e equipamentos que incrementem o rendimento do processo. A concepção
da máquina de processamento para produção de cenouretes foi baseada nas que já existiam nos Estados Unidos, e foi pensada para atender ao pequeno produtor, no aproveitamento de cenouras com menor padrão comercial. A processadora múltipla é composta de um cilindro de 1,2 metro de altura e 50 centímetros de diâmetro, sustentado por uma estrutura que permite que o cilindro seja basculado para ambos os lados, para ser carregado ou descarregado com o material a ser processado.
Em sua base, o cilindro conta com um motor elétrico, que faz girar o eixo posicionado verticalmente no centro dele. O eixo trespassa para o compartimento superior e nele são afixados quatro discos abrasivos, distanciados entre si em 15 centímetros, formando os compartimentos processadores.
Cada compartimento tem uma entrada de água, necessária para remover os resíduos do processamento, que é drenado por uma saída lateral e depois para um filtro composto de tela de náilon, que retém o resíduo e deixa passar a água para um depósito, de onde retorna à processadora por meio de uma moto-bomba. Com isto, são processados, simultaneamente, oito quilos por partida, o que corresponde a aproximadamente 120 quilos de produto processado por hora.
• Cortadora Precisa
É um equipamento para a mecanização dos cortes de raízes para a produção de minicenouras, com objetivo de elevar o rendimento de preparo da matéria-prima. Elas são colocadas em calhas metálicas, conduzidas até um conjunto de discos serrilhados, que as cortam em pedaços ideais para o processamento das cenouretes.
O equipamento tem a capacidade de cortar até 186 raízes (cenouras), cerca de oito quilos por minuto, dependendo da agilidade dos operadores em abastecer todas as suas calhas. Em diversos testes realizados, foram cortados em média 4,5 quilos de raiz por minuto com dois operários abastecendo as calhas.
A Cortadora Horizontal corta as raízes em pedaços ideais para o processamento de cenouretes. Foto: Milza Moreira Lana
• Cortadora horizontal
É um equipamento para a mecanização do corte de cenouras, que são colocadas sobre uma esteira rolante contendo calhas fixadas sobre duas correntes e conduzidas até
um conjunto de discos serrilhados, que cortam as raízes em pedaços ideais para o processamento de cenouretes (minicenouras).
A esteira é composta por duas correntes paralelas, acionadas por quatro coroas dentadas fixadas em dois eixos horizontais, sendo uma delas tracionada por um motor com redutor de velocidade. São fixadas 52 calhas de aço inoxidável sobre as correntes que movimentam a 3,5 voltas por minuto.
O conjunto é montado sobre uma estrutura com 80 centímetros de altura e 120 cm de comprimento. Este equipamento tem a capacidade de cortar até 182 raízes, cerca de oito quilos por minuto, dependendo da agilidade dos operadores em abastecer todas as suas calhas. Em diversos testes realizados, foram cortados em média 5,6 kg de raiz por minuto com dois operários abastecendo as calhas.
A classificadora de cenourete define a faixa de diâmetro. Foto: João Bosco Carvalho e Silva
• Classificador de cenourete
A padronização de produtos é um ponto chave na garantia da qualidade, envolvendo tanto a uniformidade entre as unidades de venda quanto entre aquelas contidas nas embalagens. Para produtos como a cenoura, a seleção é feita principalmente com base no diâmetro, mas este é variável porque o formato geral das raízes é cônico. Por isto, os equipamentos usados para classificação — tais como peneiras, roletes e seletores eletrônicos — não são eficientes.
O classificador, que deve ser dimensionado em torno da capacidade de processamento da agroindústria e do espaço disponível para sua instalação, é constituído por duas correias transportadoras de 20 centímetros de largura, posicionadas em forma de “V” e com distanciamento progressivo entre elas.
As correias se movimentam no mesmo sentido, transportando o produto a ser classificado até que passe pela fenda formada pelo distanciamento entre as correias, o que ocorre quando o diâmetro coincide com a largura da fenda.
Anteparos removíveis, em forma de cone, são posicionados de forma a definir a faixa de diâmetro de cada categoria e conduzir o produto para os contentores. Este modelo foi construído com uma calha de abastecimento fixa, mas sistemas automáticos de abastecimento, a exemplo da calha vibratória, podem ser instalados.