Fruto de trabalho multidisciplinar em 11 estados, o Programa Cana IAC já desenvolveu 20 variedades, das quais 19 para o setor sucroalcooleiro e uma para fins forrageiros. Fruto de 264 experimentos ao longo de 15 anos, o estudo conclui que existe uma ordem hierárquica da produção de cana-de-açúcar nas matrizes. O programa gera também pacotes tecnológicos, que têm levado a competitividade paulista a outros estados brasileiros e ao exterior
A escolha da melhor técnica de manejo e a cultura adequada para cada região envolve estratégia como em uma partida de xadrez ou como em uma escalação de time de futebol. Para expandir o cultivo de cana-de-açúcar, principalmente para as áreas com maior déficit hídrico, característico na região do Cerrado brasileiro, o Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, desenvolve métodos de escalação das variedades de cana-de-açúcar, de acordo com o perfil do cenário, para que se possa produzir, em termos relativos, de maneira mais eficiente. O procedimento pode possibilitar aumento de 15% a 40% da produção.
A pesquisa do IAC cria uma matriz, com uma escala hierárquica entre os ambientes possíveis. A matriz do Instituto é formada por nove caselas divididas pelos três períodos de colheita (outono, inverno e primavera) e pelas condições de desenvolvimento, dado pelo potencial do solo e somado ao manejo a ele conferido, originando assim os ambientes: favorável, médio e desfavorável. “O estudo permite a avaliação das alternativas da produção de cana-de-açúcar em vários cenários pelo IAC. Após a construção da matriz, são analisadas as condições de cultivo dentro dos ambientes de desenvolvimento, com estudos de todas as características do local onde será produzida a cana. Esse método é determinante na região Centro-Sul, pois considera o déficit hídrico da região”, afirma o pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Marcos Guimarães de Andrade Landell.
Períodos de colheita
Desta forma, os três períodos de colheita, em conjunto com os três grupos de ambientes, geram nove possíveis combinações com potencial produtivo distintas, expostas na forma de uma matriz. As caselas 1, 2, 3, 4 e 5 da matriz são as que proporcionam melhor desempenho produtivo, quando considerado unicamente a produtividade agrícola. Os pesquisadores observaram que são nessas caselas que devem ser alocadas as variedades com perfil mais responsivo, justamente para explorar melhor o potencial deste ambiente.
O pesquisador do IAC afirma que qualquer propriedade possui grande diversidade de ambientes para a produção. Porém, com análise completa das características do local, o produtor poderá plantar variedades adequadas para cada área e, assim, otimizar a produção em cada combinação. “Na maioria das vezes, ocorre a mescla de ambientes favoráveis e desfavoráveis que os proprietários devem otimizar da melhor forma”, explica Landell.
O pesquisador esclarece que para as caselas 6, 7, 8 e 9 da matriz, utiliza-se variedades com perfil rústico que possibilitem menores perdas em um ambiente mais hostil para a produção.
“Assim, procura-se definir as variedades conforme a aptidão de sua maturação, mas considerando também seu o perfil de resposta, ou seja, se são responsivas, rústicas e estáveis. A combinação do perfil responsivo da variedade com o potencial da casela ambiental é que definirá a escalação das variedades neste contexto de diversidade”, explica Landell.
Ordem hierárquica
O IAC realizou 264 experimentos durante 15 anos e concluiu que existe uma ordem hierárquica da produção de cana-de-açúcar nas matrizes.
A técnica vem sendo aplicada principalmente por empresas que têm produção em todo o período de safra, aproximadamente 220 dias ao longo do ano. “No entanto, os conceitos básicos já têm sido incorporados pelos pequenos produtores. Com essas informações, o produtor pode desenvolver sua cultura da melhor maneira possível”, explica Landell. O Centro de Cana do IAC tem divulgado estes conceitos por meio de dezenas de palestras proferidas em eventos fitotécnicos, além de oferecer cursos e projetos que podem auxiliar no aprendizado dos métodos de matrizes.
Programa Cana IAC
O Centro de Cana IAC realiza trabalho multidisciplinar dentro do Programa Cana IAC, que envolve melhoramento genético, ciências do solo, caracterização de ambientes de produção, fitotecnia, manejo de pragas e doenças, e estimativa de produção. O Instituto conta com rede de experimentação em 11 estados brasileiros, com cerca de 160 empresas conveniadas.
O resultado dos trabalhos engloba o desenvolvimento de 20 variedades IAC – 19 para o setor sucroalcooleiro e uma para fins forrageiros. O Programa gera também eficientes pacotes tecnológicos, que têm levado a competitividade da canavicultura paulista a outros estados brasileiros e ao exterior (México, países da América Central e continente africano).
O Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, iniciou seus estudos em cana-de-açúcar em 1892. Atualmente, a sede administrativa do Centro de Cana está localizada em Ribeirão Preto, onde se concentra a maior parte da equipe técnica. Conta ainda com as participações de pesquisadores lotados em Campinas e nos polos regionais da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA).
Melhoramento genético
Em 27 de junho, o IAC completou 125 anos de pesquisas agrícolas ininterruptas. Durante todos esses anos, o Instituto desenvolveu 932 variedades de 66 espécies de plantas, de elevada qualidade nutricional, alta produtividade, resistência fitossanitária e menor exigência hídrica.
O Instituto dedica-se ao melhoramento genético convencional de plantas agrícolas e aos pacotes tecnológicos que envolvem essas espécies, desde o plantio à colheita, incluindo estudos de solo, clima, pragas e doenças e segurança e eficiência na aplicação de agrotóxicos. São soluções tecnológicas que atendem desde o pequeno até o grande produtor rural.
Mônica Galdino – Assessora de Imprensa – IAC
Leveduras a favor do etanol brasileiro
As leveduras são microrganismos que transformam o açúcar da cana em etanol. Atualmente, as destilarias brasileiras operam com teores alcoólicos ao redor de 8% em suas fermentações, gerando um grande volume de vinhaça (12 litros de vinhaça por litro de etanol produzido).
Em recente pesquisa, conduzida no laboratório de Bioquímica e Tecnologia de Fermentações do Departamento de Ciências Biológicas (LCB), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), foram selecionadas leveduras capazes de conduzir fermentações com teores de 15% de etanol, o que reduz o volume de vinhaça em cerca de 50%.
Redução de vinhaça
Sob a coordenação do professor Luiz Carlos Basso, o estudo possibilita que, a partir dessa redução no volume de vinhaça, ocorra uma redução nos custos de seu transporte e distribuição no campo (fertirrigação), com grande impacto econômico para a indústria. “Além disso, contribui também para a sustentabilidade da produção do bioetanol, pois diminui ainda o impacto ambiental da disposição da vinhaça no campo, além de minimizar o custo energético na etapa da destilação do etanol (menor consumo de vapor)”, ressalta Basso.
Fermentações
As leveduras selecionadas foram capazes de conduzir fermentações com alto teor alcoólico sem a necessidade de refrigeração especial, o que normalmente seria exigido em condições de alto teor alcoólico, porém, encarecendo o processo.
Além do professor Basso, o estudo contou com a colaboração do pesquisador Luis Humberto Gomes, e das estudantes de pós-graduação Renata Christofoleti Furlan, Natália Alexandrino e Thalita Peixoto Basso. A pesquisa tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).