Já estão disponíveis aos produtores três novas variedades de arroz irrigado branco, vermelho e preto, desenvolvidas pela Epagri. A variedade SCS118 Marques é adequada ao mercado consumidor tradicional, já que a cor do grão é branca, quando descascado e polido.
Já as variedades SCS119 Rubi, de cor vermelha, e SCS120 Ônix, preta, são consideradas especiais, devido ao seu aspecto, adequadas a pratos especiais. Além disso, têm composição química diferenciada, com conteúdos mais elevados de compostos fenólicos, importantes em nossa alimentação, como os antioxidantes. Estas duas variedades especiais destinam-se a nichos de produtores e de mercado, representando novas oportunidades para algumas agroindústrias, que podem se organizar desde a produção, até a comercialização.
Branco tradicional
A SCS118 Marques, inicialmente indicada para cultivo em Santa Catarina, pode ser cultivada em outros estados, mediante realização de experimentos denominados de VCU (valor de cultivo e uso) e ter sua extensão de uso aprovada. É uma cultivar de ciclo tardio, com 144 dias da emergência até a completa maturação dos grãos, para as condições da Estação Experimental da Epagri, em Itajaí-SC. Possui excelente arquitetura de planta e perfilhamento e é resistente ao acamamento. A planta apresenta estatura média de 105 cm na fase da completa maturação. Em condições experimentais, a cultivar SCS118 Marques apresentou produtividade de 9,0 t/ha, na média de três anos, em cinco locais do estado de Santa Catarina. É considerada medianamente resistente à brusone e à toxidez indireta por ferro.
Arroz vermelho
A variedade SCS119 Rubi tem como grande diferencial a aparência do grão integral, que é vermelho, devido à cor do seu pericarpo. É uma alternativa que vem atender à demanda crescente por especiais de arroz, consumidos por nichos específicos de mercado, associados a tradições culturais ou mesmo oferecidos em restaurantes especializados, principalmente nos grandes centros urbanos. A SCS119 Rubi apresenta as características de planta do tipo “moderno”, com duração do ciclo biológico, emergência/maturação igual a 125 dias. Com alto valor de mercado, possui grão longo, fino e pouco degranador. Deve ser consumido na forma de arroz integral, apenas descascado e não polido e seus grãos possuem alto teor de compostos fenólicos, substâncias que, no organismo, têm função antioxidante.
“Riso Nero”
O arroz preto é assim denominado por apresentar, na forma de arroz integral, o pericarpo preto, que é a película que envolve o grão de arroz, quando apenas descascado. Voltado a um nicho especial de mercado, a SCS120 Ônix foi desenvolvida a partir do cruzamento entre o arroz preto “Riso Nero” trazido da Universidade de Milão (Itália) com o Epagri 107. A nova variedade tem ciclo biológico emergência/maturação) de 125 dias, grãos longos e finos que, quando descascados, têm peso equivalente a apenas 2/3 do peso de grãos de arroz convencional. Recomenda-se que seja consumido somente na forma de arroz integral. Cozido, apresenta aroma sabor acastanhado e sua qualidade nutricional também é diferenciada (rico em proteínas e fibras), com elevada atividade antioxidante.
Fruto de pesquisa
A disponibilização desses materiais eleva para 20 o número de variedades lançadas pela Epagri no mercado desde 1976, quando foram iniciadas as atividades de melhoramento genético de arroz irrigado. Essas variedades são plantadas em 85% da área de arroz irrigado de Santa Catarina, além de serem cultivadas também em grandes áreas de outros estados brasileiros, como Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, Maranhão, bem como países da América do Sul, como Bolívia, Paraguai e Argentina.
Para o desenvolvimento de uma nova variedade de arroz por meio de técnicas de melhoramento genético, há a necessidade de trabalhos de pesquisa científica multidisciplinar ao longo de 12 a 13 anos. Estas atividades demandam intensos e detalhados trabalhos de campo e de laboratório, para os quais, além dos cientistas envolvidos, é necessária uma equipe de operários rurais e técnicos de apoio.
Estação experimental de Itajaí
Os principais trabalhos de melhoramento genético para criação de novas variedades de arroz são realizados pela equipe de cientistas da Estação Experimental de Itajaí. O objetivo é desenvolver e transferir ao setor produtivo produtos tecnológicos de alta qualidade. Os resultados deste trabalho se tornam evidentes quando se analisa a produtividade das lavouras de arroz de Santa Catarina. Em 1970, a produtividade catarinense de arroz irrigado era menor que 2 t/ha. Atualmente, os agricultores contam com variedades que sustentam um rendimento médio de 7 t/ha. Todavia, entre os orizicultores catarinenses tecnificados, são comuns produtividades superiores a 10 t/ha em um único cultivo (ciclo). Tudo isso permite que o estado detenha o segundo lugar no volume arroz irrigado produzido no Brasil.
Fonte de energia
Cereal responsável pelo suprimento energético da alimentação de dois terços da população mundial, o arroz tem uma grande importância econômica e social no estado, onde envolve 8.377 agricultores, que cultivam 150.000 hectares em 11.230 pequenas propriedades agrícolas, distribuídos em 83 municípios. Esse volume sustenta um parque industrial descentralizado de 66 agroindústrias, das quais, 40 associadas ao Sindarroz (Sindicato das Indústrias de Arroz), que deteem maior parte do total beneficiado (1.500.000 t), gerando dois mil empregos diretos.
Santa Catarina também é reconhecida por produzir a melhor semente de arroz irrigado do Brasil. A Acapsa – Associação dos Produtores de Semente de Arroz Irrigado – congrega 21 associados que abastecem, com semente certificada, todo mercado catarinense e a demanda dos estados brasileiros produtores. Além das variedades, a pesquisa em Itajaí desenvolveu e adaptou tecnologias para o cultivo sustentável do arroz irrigado, com a utilização de sistema pré-germinado em todo o Estado. A recomendação de utilização de adubação em doses e épocas adequadas, juntamente com a aplicação de produtos registrados para o controle de plantas daninhas, combate a insetos e doenças, também reduziu os custos e elevou a renda do produtor.