Biorreguladores são substâncias sintéticas que podem ser aplicadas diretamente nas plantas para alterar seus processos vitais e estruturas visando ao incremento de produção
As plantas produzem substâncias orgânicas, definidas como hormônios vegetais que, em concentrações muito baixas, são responsáveis por efeitos marcantes no desenvolvimento, promovidos por meio de alteração nos processos fisiológicos e morfológicos, influenciando nas respostas aos fatores ambientais.
Até pouco tempo, conhecia-se apenas cinco grupos de hormônios (auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e ácido abscísico). Entretanto, recentemente foi confirmada a existência de outros grupos de hormônios vegetais, como os brassinoesteroides, os jasmonatos, os salicilatos e as poliaminas.
Dentre estes, três têm relevante importância no crescimento e desenvolvimento das plantas, as auxinas, as giberelinas e as citocininas.
Na agricultura moderna, altamente tecnificada, em que se busca alta rentabilidade financeira por meio de melhores produções por área, com cultivares melhoradas, melhor balanço nutricional, proteção fitossanitária e adequação na exploração do ambiente de produção, uma das técnicas avançadas que vêm sendo adotadas no manejo fitotécnico das culturas é a aplicação de reguladores vegetais.
Os reguladores vegetais ou biorreguladores são definidos como substâncias sintéticas, similares aos grupos de hormônios vegetais, que podem ser aplicadas diretamente nas plantas para alterar seus processos vitais e estruturais, com a finalidade de incrementar a produção, melhorar a qualidade e facilitar a colheita. Essas substâncias também agem modificando a morfologia e a fisiologia da planta, podendo-se levar a alterações qualitativas e quantitativas na produção. Desta forma, são exemplos de substâncias sintéticas com atividades similares aos dos hormônios vegetais, o ácido indolbutírico (IBA), a cinetina e o ácido giberélico.
Prática viável
Uso de biorreguladores na agricultura vem se tornando uma prática viável com o objetivo de explorar o potencial produtivo das culturas. Os biorreguladores atuam numa regulação ativa dos processos fisiológicos da planta, propiciando respostas viáveis economicamente.
A cana-de-açúcar é uma cultura de grande importância econômica, social e ambiental, pelas grandes áreas plantadas, por gerar matéria-prima como base para as agroindústrias do açúcar, etanol e aguardente, além de representar para o nosso país uma enorme fonte de geração de empregos e renda no meio rural. Atualmente, com a utilização de técnicas avançadas para o cultivo de cana-de-açúcar, aumentos quantitativos e qualitativos na produção podem ser alcançados com a aplicação de reguladores vegetais. Melhores benefícios são obtidos com a aplicação de combinações dessas substâncias sobre a cana-de-açúcar, visando incrementar o crescimento e desenvolvimento vegetal, estimular a divisão celular e aumentar a absorção de água e nutrientes pela cultura. Uma combinação bastante estudada em cana-de-açúcar e com efetivo aumento de produtividade de colmos e de açúcar tanto em cana-planta quanto em cana-soca é a de um regulador vegetal composto por 90 mg/L de cinetina, 50 mg/L de ácido giberélico e 50 mg/L de ácido 4-indol-3-ilbutírico.
Em cana-planta, resultados de pesquisa têm demonstrado que a aplicação desse regulador vegetal tanto no sulco de plantio quanto na parte aérea tem aumentado a produtividade de colmos de 6 a 21%, sendo a magnitude das respostas dependente das cultivares e dos ambientes de produção. Pelo acompanhamento nas diversas fases de desenvolvimento e crescimento da cultura, tem-se observado que o principal componente responsável por esse aumento de produtividade tem sido o aumento na população de colmos por metro, uma vez que o número de colmos é um dos componentes da produtividade, juntamente com altura, diâmetro e densidade.
Essa maior quantidade de colmos na colheita é o resultado proporcionado pelo biorregulador em termos de maior brotação inicial das gemas, refletindo em menor número de falhas e, portanto, melhor competição com ervas daninhas no início do desenvolvimento, e como consequência, levando ao maior perfilhamento durante todo o desenvolvimento do canavial. Em plantios mecanizados também tem ocorrido maior brotação, reduzindo as falhas.
Mais crescimento radicular
Também tem sido considerado favorável ao aumento de produtividade de colmos o maior crescimento radicular proporcionado pelo biorregulador. Um maior sistema radicular favorece o aproveitamento de fertilizantes e também leva à maior tolerância à deficiência hídrica.
Todos esses fatores conduzem a um canavial mais homogêneo, com colmos de maior diâmetro e uniformidade em altura, favorecendo a colheita mecânica e o rendimento das colhedoras. Em cana-planta tem-se constatado aumento na produtividade de açúcar, na ordem de 1,3 a 3,4 toneladas de açúcar por hectare. Esta maior produtividade é atribuída ao número aumentado de colmos, onde está contida a sacarose. Vale lembrar que os colmos são o principal veículo de transporte de sacarose para a indústria.
Em cana-soca, os ganhos em produtividade de colmos com a aplicação desse bioregulador na fase de perfilhamento da soqueira têm variado de 8 a 25%, lembrando-se que as respostas são variáveis dependentes das cultivares e do ambiente de produção. A produtividade de açúcar tem aumentado de 0,9 a 3,8 toneladas de açúcar por hectare.
Cultura semi-perene
A cana-de-açúcar tem como característica de, após o plantio, ocorrerem colheitas anuais e rebrotas, as quais a fazem ser considerada uma cultura semi-perene. A cada ciclo de colheita dos colmos tem início a brotação da soca, e um novo processo de perfilhamento é estabelecido. Entretanto, mantém-se um canavial economicamente produtivo por cinco a seis cortes, quando a produtividade média atinge ao redor de 65 t/ha. Assim, uma forma de maximizar a economicidade desta atividade agrícola seria aumentar a longevidade da cultura. Nesse sentido, o uso desse regulador vegetal em
soqueira de cana de cortes avançados, que estariam na programação de áreas de reforma, tem propiciado aumentos de 9 a 25% na produtividade de colmos. Assim, em áreas consideradas candidatas à renovação devido à baixa produtividade, o produto poderia entrar em um programa de revitalização de soqueiras, resultando em redução de custos com as operações de renovação de área e plantio, tornando a cultura mais rentável. Entretanto, como os incrementos de produtividade podem ser obtidos desde os primeiros cortes das soqueiras, o uso dessa tecnologia, ao longo de todo o ciclo, torna-se uma alternativa importante para aumentos das médias de produtividade das unidades produtoras.
Portanto, existe uma série de resultados que indicam que o uso do regulador vegetal constituído por 90 mg/L de cinetina, 50 mg/L de ácido giberélico e 50 mg/L de ácido 4-indol-3-ilbutírico promove incremento de produtividade na cultura da cana-de-açúcar, tornando-se uma opção de nova tecnologia disponível para os produtores em busca de maior eficiência na produção.