Manejo adequado de futuras matrizes garante rentabilidade na produção de leite
O manejo adequado de bezerros, em especial das futuras matrizes leiteiras, é etapa fundamental do sistema de produção de leite. Até a desmama, ou seja, nos primeiros 60 dias de vida, os animais devem ser criados individualmente em bezerreiros como casinhas, sistema muito usado em diversas regiões produtoras de leite do país.
A principal vantagem do método é a individualização dos animais. Isso evita que algum doente tenha contato com os sadios e possibilita o fornecimento de ração de acordo com a idade. Além disso, previne comportamentos como a mamada cruzada entre os animais e aumenta a docilidade dos bezerros.
Modelo adaptado
A Embrapa Rondônia adaptou um modelo de casinha tropical adequado às condições climáticas do estado, visando ao conforto térmico no seu interior. A adoção do sistema exige alguns cuidados: as casinhas devem ficar sobre grama baixa e de boa qualidade (por exemplo: grama estrela e tifton). Precisam ser trocadas de lugar para evitar excesso de umidade no local.
“Em Rondônia, na época de chuvas, trocamos a cada três ou quatro dias, sempre em local com boa drenagem. Isso diminui muito a mão de obra e mantém o ambiente dos animais em boas condições de higiene”, informa Fernanda Carolina Ferreira, médica veterinária e analista da Embrapa Rondônia.
Segundo a pesquisadora, após a desmama os animais podem ser mantidos em piquetes coletivos com até oito bezerros, agrupados por idade. A médica veterinária explica que, nesses piquetes, os animais devem ter acesso à água limpa e à ração, caso o produtor queira manter bom ganho de peso diário nessa fase.
“Também é importante que os animais tenham acesso ao sal mineral puro e espaço de cocho adequado, que é de 20 centímetros por cabeça. No período de seca, eles podem receber sal proteinado, silagem de boa qualidade misturada ao concentrado ou a cana-de-açúcar com ureia”, acrescenta a veterinária.
Alimentação
Até os 60 dias de vida, o bezerro precisa receber leite duas vezes ao dia. O volume diário pode variar de quatro a seis litros, podendo ser servido em baldes ou mamadeiras. O fornecimento de uma ração de qualidade pode ser iniciado a partir do terceiro dia de vida. A prática faz com que o rúmen do bezerro se desenvolva mais rapidamente e que o produtor possa desmamá-lo em até 60 dias.
“No início, os animais irão cheirar e lamber a ração apenas por curiosidade e, por isso, a quantidade deve ser mínima, de maneira que não sobre para o dia seguinte”, diz Fernanda Ferreira.
O alimento deve ser oferecido duas vezes ao dia. À medida que o animal for consumindo toda a ração do balde, a quantidade deve ser aumentada, até que, quando chegar a desmama, o consumo individual esteja em torno de 600 gramas por animal. Fernanda explica que, apesar de muitos produtores reclamarem que esta iniciativa aumenta o custo da produção, desmamar o animal mais cedo permite que o produtor economize leite, que é a sua principal fonte de renda.
“Além disso, a ração de qualidade permite aos animais terem saúde e bom ganho de peso. Isso diminui os gastos com remédios e tratamentos, diminui a mortalidade e permite que as novilhas sejam emprenhadas mais cedo e os machos, quando mantidos na fazenda, sejam vendidos com melhor peso e mais cedo, o que garante mais renda ao produtor”, complementa.
Controle de doenças
Além de garantir um satisfatório ganho diário de peso, o sistema de produção apresenta baixa incidência de doenças. As que mais acometem bezerros de 0 a 60 dias são: diarreia, pneumonia, tristeza, infecções de umbigo e miíases (bicheira). Nessa fase, o animal deve ser avaliado diariamente. A médica veterinária orienta que o bezerreiro deve ficar próximo das atividades de rotina da propriedade, mas nunca em local onde o esterco dos animais mais velhos seja acumulado, por ser uma fonte de infecção para os jovens.
“Nunca deve ficar abaixo do curral, pois na época de chuvas as fezes podem escorrer para a área dos bezerros. Também não deve ficar em áreas alagadas”, alerta a analista.
A propriedade precisa ter um calendário sanitário estabelecido por um médico veterinário que conheça a região, a fim de proteger o animal, no mínimo, contra aftosa, brucelose (estas obrigatórias) e contra as clostridioses. O profissional deve avaliar a necessidade de aplicação de outras vacinas.
O bezerro também nunca deve ser levado ao curral, o local mais contaminado da propriedade. Quando isso for necessário, o umbigo deve ser curado ainda no local de nascimento dos animais, antes que eles sejam deslocados. A cura de umbigo é uma etapa muito importante e deve ser feita por três dias seguidos, duas vezes ao dia, com iodo puro a 10%. A veterinária enfatiza que o produto é barato e eficiente, evitando a infecção umbilical e, consequentemente, outras doenças que o animal possa apresentar devido a falhas na cura de umbigo.
Kadijah Suleiman – Embrapa Rondônia
Aleitamento de bezerros é fase crítica
Um dos períodos mais críticos do sistema de criação de animais de reposição, principalmente devido ao baixo retorno financeiro, é a fase de aleitamento. Os diferentes sistemas de aleitamento no desempenho e nas alterações do metabolismo energético de bezerros leiteiros foram estudados no Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) e desenvolvido no Bezerreiro Experimental do Departamento de Zootecnia (LZT), avaliado pela zootecnista Marília Ribeiro de Paula.
Segundo a pesquisadora, alguns produtores de leite economizam principalmente na dieta líquida, fornecendo baixos volumes a seus animais. “Em geral, as dietas líquidas são fornecidas no volume de 10% do peso ao nascimento da bezerra, o que normalmente representa quatro litros diários”, salienta a bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Estudo
O projeto, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) sob orientação da professora Carla Maris Machado Bittar, do LZT, avaliou trinta bezerros da raça Holandesa em três programas de aleitamento.
No sistema convencional, foram oferecidos 10% do peso ao nascer (PN), ou seja, 4 litros/dia. No sistema de aleitamento programado, a pesquisadora ofertou, na 1ª semana, 10% PN (4 litros/dia), entre a 2a e 6a semanas, 20% PN (8 litros/dia) e, na 7a e 8a semanas, 10% PN (4 litros/dia). Por fim, no sistema intensivo, os bezerros tiveram acesso a 20% PN (8 litros/dia).
“O aleitamento foi realizado duas vezes ao dia, às 7h e às 18h, com sucedâneo lácteo comercial (20% proteína bruta; 16% estrato etéreo). Os animais foram alojados em abrigos individuais, com livre acesso à água e ração concentrada, até a décima semana de vida e desaleitados abruptamente na oitava semana de vida”, explica a autora do trabalho.
Reforço na dieta líquida
De acordo com Marília Ribeiro, estudos mostram que o crescimento de bezerras no período de aleitamento pode ser melhorado quando os animais são alimentados com maiores quantidades de dieta líquida durante este período. “Além disso, maiores taxas de crescimento durante os primeiros estágios da vida do animal podem ser mais rentáveis e compensar o investimento, por resultar em animais mais pesados para o período de crescimento pós-desaleitamento e também com maior potencial de produção de leite”, explica.
Na sua pesquisa, Marília registrou diariamente o consumo de concentrado inicial e o escore fecal. A pesagem e as medidas de altura na cernelha, perímetro torácico e largura da garupa foram realizadas semanalmente, a partir da segunda semana, até a décima semana, quando foi encerrado o período experimental.
Ganho de peso
Apesar de o peso vivo e o ganho de peso diário não apresentarem diferenças entre os programas de aleitamento, as medidas corporais do perímetro torácico e largura da garupa apresentaram diferenças significativas, sendo maiores os valores para os animais em aleitamento intensivo.
“É bem provável que o volume de leite ofertado no sistema intensivo tenha ultrapassado a capacidade de ingestão dos bezerros, por isso o ganho de peso não foi significativo. Uma das hipóteses que poderiam melhorar esse rendimento de peso seria a oferta fracionada de leite ao longo do dia, mas essa é uma questão que futuros estudos poderão ou não comprovar”, questiona a zootecnista.
Um aspecto muito interessante observado na pesquisa foi que os animais em aleitamento convencional apresentaram maior consumo de ração concentrada, o que resultou em taxas de crescimento semelhantes entre os diferentes sistemas de aleitamento. No entanto, já há dados mostrando que para o sistema de aleitamento intensivo resultar em maior ganho de peso, ele deve apresentar teor de proteína em torno de 28%, o que ainda não está disponível no mercado nacional. Isso mostra que é provável que os produtores que estão adotando este sistema atualmente não devem estar obtendo os resultados esperados.
Com relação ao crescimento – que identificou melhora nas medidas do tórax e garupa – o sistema de aleitamento intensivo mostrou-se como um bom investimento a médio e longo prazos. “Animais que ganham mais peso e crescem mais na fase inicial podem resultar em aumento na produção de leite futura, redução na idade à puberdade, redução na idade à parição, entre outros”, finaliza a pesquisadora.