A maximização da produtividade somente tem sentido quando associada à otimização do uso de insumos, à sustentabilidade e à maior rentabilidade
Obter altas produtividades de milho, acima das 14 toneladas por hectare, é possível utilizando-se práticas sustentáveis e aumentar a média brasileira, hoje em torno das 4,5 toneladas? De acordo com estudos conduzidos por pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo tendo como referência produtores de milho em todas as regiões brasileiras, é uma meta possível de ser alcançada. “Não é utopia”, sustenta José Carlos Cruz, da área de Fitotecnia da Empresa. Segundo ele, em levantamentos feitos a partir de 2009, em 1095 lavouras de milho, foram registrados rendimentos superiores a 12 toneladas por hectare em 326 propriedades, sendo que a maior produtividade foi de 16,53 toneladas.
“Para se alcançar altos rendimentos é necessário que os agricultores dediquem atenção suficiente aos fatores de construção da produtividade. Alta produtividade não é algo que se alcança em uma única safra. É uma meta que se atinge gradualmente, ao longo dos anos, e por meio de ações que busquem, principalmente, melhorias do ambiente produtivo”, explica. Segundo ele, áreas de alta produtividade têm em comum o manejo que prioriza a produção de material orgânico, promovendo maior teor de matéria orgânica e boa qualidade operacional em todas as atividades.
Entre essas recomendações, resultados de pesquisa indicam tanto o aprimoramento das condições do solo (aumento da matéria orgânica e da fertilidade, além das suas propriedades físicas e biológicas) como da forma de conduzir as operações de campo (tempo oportuno, máquinas e equipamentos adequados, precisão da agricultura, insumos de alta qualidade utilizados de forma racional e balanceada) e também a gerência adequada do processo como um todo. Cruz surpreende quando perguntado sobre a conciliação entre produtividade e a adoção de práticas sustentáveis: “dentro dos conceitos modernos de agricultura, a alta produtividade está intimamente associada com alta sustentabilidade”.
Receita?
Para o pesquisador José Carlos Cruz, embora seja constatada uma grande evolução no nível tecnológico utilizado na produção de milho no Brasil, a maximização da produtividade somente tem sentido quando associada à otimização do uso de insumos, à sustentabilidade e ào maior rentabilidade. No entanto, é muito comum verificar situações onde a quantidade de fertilizantes, especialmente o fósforo e o potássio, são aplicados acima da quantidade técnica recomendada (veja o box).
“Também é comum o uso excessivo de inseticidas e fungicidas, onerando o custo de produção e comprometendo a saúde do produtor e o meio ambiente”, reforça o pesquisador. E continua: “máximas produtividades devem ser obtidas com eficiência. Não basta simplesmente aumentar o uso de insumos, mas utilizá-los de forma racional e balanceada, explorando o sinergismo entre as diferentes tecnologias”, pondera. O pesquisador afirma que um fator comum entre agricultores que detêm recordes de produtividade é a habilidade em identificar e manter um ambiente altamente produtivo no solo. Abaixo, conheça algumas diretrizes elencadas por pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo como sendo preponderantes para se alcançar altos rendimentos.
Sistema de plantio direto
O produtor deverá procurar sempre aumentar o potencial produtivo de sua lavoura por meio de técnicas como o sistema de plantio direto, com adequado programa de rotação e sucessão de culturas, envolvendo inclusive o consórcio de milho com forrageiras (Integração Lavoura-Pecuária), visando o manejo conservacionista do solo e da água e a preservação do meio ambiente.
Fertilidade do solo, exigências nutricionais e adubação
A fertilidade dos solos, as exigências nutricionais e a adubação são componentes essenciais para a construção de um sistema de produção eficiente. A disponibilidade de nutrientes deve estar sincronizada com o requerimento da cultura em quantidade, forma e tempo. Deve ser objetiva e, portanto, baseada em um diagnóstico através da análise do solo e na expectativa de produtividade da cultura. Altas produtividades significam maior exigência e maior extração de nutrientes do solo.
Genética e qualidade da semente
A semente pode ser considerada o principal insumo e incorpora várias outras tecnologias. De modo geral, a cultivar é responsável por 50% do rendimento final de uma lavoura. Consequentemente, a escolha correta da semente pode ser a razão do sucesso ou insucesso da lavoura. Na safra 2011/12, foram disponibilizados 316 cultivares convencionais e 173 transgênicas, com grande predominância de híbridos simples (60,32%) e triplos (20,04%), de maior potencial genético. Cerca de 60% das sementes, plantadas tanto na safra como na safrinha, são híbridos simples de alto potencial genético. No entanto, é fundamental utilizar um sistema de produção com nível tecnológico adequado para que essas sementes possam mostrar o seu potencial produtivo e o agricultor obter maior lucro.
Manejo cultural
O manejo cultural deve ser adequado para explorar ao máximo o potencial genético de uma cultivar em determinada condição edafoclimática (solo e clima), levando em consideração aspectos econômicos e a sustentabilidade do sistema de produção.
Época de plantio
O plantio de milho feito na época correta afeta diretamente a produção e a produtividade da lavoura e, consequentemente, o lucro do agricultor. O atraso no plantio dificulta também diversas operações agrícolas, como o controle de pragas e plantas daninhas, além de aumentar a ocorrência e a severidade de doenças, e é apontado como um dos principais fatores responsáveis pela baixa produtividade, principalmente do pequeno e médio produtor.
Espaçamento e densidade de semeadura
Levantamento realizado por técnicos da Embrapa Milho e Sorgo mostrou que entre produtores que alcançaram rendimentos de grãos superiores a 8 t/ha, 65% utilizaram uma densidade de semeadura superior a 65 mil plantas por hectare e cerca de 30% utilizaram uma densidade superior a 70 mil plantas por hectare.
Manejo integrado de pragas
O controle químico de pragas, doenças e plantas daninhas deve ser orientado dentro dos princípios de boas práticas agropecuárias, evitando onerar desnecessariamente o custo de produção e protegendo o agricultor e o meio ambiente. Embora a adoção de sementes de milho Bt tenha mudado drasticamente o manejo das lagartas na cultura do milho, a prática não elimina a necessidade de manejo de outras pragas.
Agricultura de precisão
Embora as tecnologias da agricultura de precisão possam ser utilizadas para a aplicação de diferentes insumos agrícolas (sementes e densidade de plantio, dosagem de pesticidas, monitoramento de pragas e doenças, etc.) foi no manejo da fertilidade do solo e no monitoramento da disponibilidade de nutrientes para as plantas que esse novo conceito de manejo apresentou os maiores benefícios.
Fatores edafoclimáticos
Em situações de altas produtividades, além dos fatores controláveis pelo homem, existem fatores edafoclimáticos que limitarão ou dificultarão o alcance desses rendimentos. Além da precipitação, as temperaturas noturnas e diurnas, a amplitude térmica, a duração do dia e a radiação solar, fatores condicionados pela região tropical, poderão limitar nossa produtividade. Um exemplo típico é a altitude. Os diferenciais entre as áreas de maior altitude e áreas baixas ainda existem devido à amplitude térmica; porém, com híbridos mais adaptados e aliados a novas tecnologias essas diferenças estão diminuindo consideravelmente, sendo possível em áreas de baixas altitudes ultrapassar as 12 t/ha de grãos (200 sacas/ha) ou 60 t/ha de forragem (35% de matéria seca).
Gestão da implantação de melhorias
A gestão do processo de produção deve ser direcionada para analisar e retirar os entraves ao melhor desempenho do sistema.