BRS Xingu ocupa espaço no mercado da indústria e de mesa ao valorizar o seu potencial
Nova variedade de amora-preta com maior tempo de prateleira, período tardio de colheita, mais produtiva e com maior doçura, foi lançada no final do ano passado pela Embrapa Clima Temperado (RS). A BRS Xingu é a sétima cultivar com identificação de origem indígena do conjunto de variedades de amoreira-preta selecionadas e melhoradas, durante 11 anos, pela unidade de pesquisas.
Seus diferenciais são: a alta produtividade, a colheita ampliada e sabor mais adocicado. Possui Brix de 8,9, considerado doce em grau superior do que a variedade Tupy, a mais cultivada no mundo, nos dias atuais.
Características
Segundo a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, responsável pelo melhoramento genético da nova cultivar, a amoreira-preta, que é considerada uma superfruta, pertence ao gênero Rubus, muito rico nutricionalmente. “Há muitas espécies nativas que se confundem com variedades melhoradas, porque elas acabam se intercruzando”, explica, diferenciando a BRS Xingu de outras espécies de mesa e das utilizadas em arborização urbana.
De acordo com Maria do Carmo, o programa de melhoramento genético em amoreira-preta, da Embrapa Clima Temperado, sempre busca uma opção para produção de pequenos agricultores que, com pouca terra e recursos escassos, possam dispor de uma alternativa de geração de renda e agregação de valor. “Tomamos o exemplo do município gaúcho de Canguçu, que tem capacidade para adotar esta cultura, pois tem boa adaptação à região e pode ser aproveitado melhor o uso da terra”, comenta a pesquisadora.
Vantagens
Entre as vantagens da BRS Xingu, a pesquisadora destaca a produtividade, que chegou a ultrapassar os três quilos, rendendo cerca de 800 gramas a mais por planta, ao comparar com a cultivar BRS Tupy e ainda a extensão da colheita para mais 15 dias. “Estamos trabalhando em alguns detalhes, considerados desafios para o agricultor. São plantas que não possuem espinhos e também uma cultivar que não se sobreponha ao mesmo período da colheita do pêssego na região sul, uma das principais culturas da economia da Metade Sul do País”.
Conforme Maria do Carmo, “alguns resultados já foram conseguidos pela equipe de pesquisadores, porém, em caráter experimental são necessários ainda mais alguns estudos e testes nas unidades da Embrapa. Esta validação deverá ser feita primeiro na região Sul e, depois, na Sudeste, o que ainda levará algum tempo para conclusão”.
Opção
Chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon exalta a importância de oferecer, à sociedade, mais uma opção de variedade em frutas vermelhas, consideradas superfrutas por serem muito importantes para a saúde humana, além de aumentar as perspectivas de renda da propriedade rural.
“Precisamos divulgar mais as vantagens do cultivo da amoreira-preta, pois seus frutos são fontes de saúde. É necessário expandir sua área de produção porque hoje, no País, há apenas cerca de 900 hectares dedicados ao cultivo de amora”, disse Pillon.
Benefícios à saúde
Em relação às propriedades nutracêuticas da amora-preta, a pesquisadora da unidade da estatal Márcia Vizzotto defende que a amora-preta contém todas as propriedades funcionais que beneficiam a saúde. “Em uma escala de frutas com maior atividade antioxidante, estudos apresentam a amora-preta em terceiro lugar, acima, inclusive, do mirtilo, que está em quarto, e bem acima da popular maçã, que ocupa a décima posição no ranking de frutas com alta propriedade antioxidante”.
Quanto à viabilidade de processamento desta pequenina e saudável superfruta, a pesquisadora e nutricionista da Embrapa Clima Temperado Ana Cristina Krolow, explica que há inúmeras possibilidades de produtos que surgem a partir da matéria-prima da amora-preta, como o congelamento de sua polpa amassada ou integral e pelo produto in natura (inteiro e individual). “Além disto, é possível elaborar sucos e néctares, geleias, coberturas e compotas”, pontua.
A versátil amora-preta ainda fornece outros subprodutos, como iogurtes, bolos, cucas, tortas, mousses, sorvetes e outras deliciosas iguarias. “Agora, existe a novidade da amora desidratada em pó”, informa a nutricionista, completando: “Fizemos estudos sobre perdas de compostos funcionais, após o processamento, e os resultados revelaram que elas foram muito pequenas”.
Investimento
O agricultor gaúcho Flávio Herter, que tem cerca de mil plantas de BRS Tupy, em sua pequena propriedade no município de Morro Redondo (RS), garante: contar com uma nova variedade que possui maior teor de açúcar e vida mais longa de apresentação na prateleira são vantagens para investir nesta cultura. “Eu ofereço sucos, polpa congelada, fruta in natura, entre outros subprodutos, em meu armazém, na área urbana. É muito interessante ter estas garantias com este novo produto da Embrapa”, comemora Herter.
Atualmente, ele dedica um terço de um hectare de sua propriedade ao cultivo da amoreira-preta, o que lhe rende três mil quilos por ano. “Isto significa que podemos produzir, em um hectare, dez toneladas de frutos. No caso da BRS Xingu, é possível alcançar entre 13 e 14 toneladas por hectare”, calcula o agricultor.
O negócio da amora-preta
O agronômo e empresário Claudiomar Fischer, da Frutplan Mudas Ltda., é o único licenciado para a multiplicação de mudas da BRS Xingu, após concorrer ao edital aberto, em setembro de 2014, pela Embrapa. “Já recebemos as matrizes da variedade, mas só teremos mudas disponíveis a partir de outubro deste ano”, informa.
Para ele, é ótimo negócio apostar nesta variedade pelo fato dela apresentar características interessantes para o mercado frutícola, como o aumento do período de colheita. “Há uma janela de produção maior e a variedade que permanecer por mais tempo disponível poderá agregar maior valor ao produto, por um preço comercial superior, já que outras amoras-pretas estarão com oferta baixa”, ressalta Fischer.
Segundo ele, um agricultor que queira se dedicar ao cultivo da amoreira-preta, para fins comerciais, precisa adquirir 6,6 mil mudas para um hectare, usando um espaçamento superadensado, o que significa investir, inicialmente, em um negócio entre R$ 25 mil e R$ 30 mil reais (plantas, infraestrutura, manejo). “Vejo que, entre os desafios no cultivo da amoreira-preta, está a valorização da fruta como fonte de negócio e de alimento na dieta do consumidor”, pontua o agrônomo e empresário.
Como esta cultura é indicada para pequenos agricultores, ele considera que a mão de obra não seria uma dificuldade, pois acredita que, apenas duas pessoas, com dedicação exclusiva, podem fazer o manejo do cultivo desta superfruta.
Fisher contabiliza que, em uma área de um hectare, é possível colher 15 toneladas de amoras-pretas, com retorno financeiro de R$ 60 mil, já na primeira safra.