A integração lavoura pecuária é uma das alternativas viáveis e proporciona vantagens aos produtores
Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama, quase metade da cobertura original do Cerrado brasileiro foi desmatada. Os números divulgados apontam que uma área de vegetação nativa superior ao estado do Mato Grosso já cedeu lugar para plantações de soja, pecuária e exploração de madeira.
Para evitar a abertura de novas áreas, a pesquisa agropecuária aponta alternativas viáveis que podem ser adotadas na região para associar a conservação do Cerrado à produção.
Uma delas é a integração lavoura-pecuária, estudada há mais de 20 anos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. Segundo o pesquisador da Embrapa Cerrados, Lourival Vilela, esse sistema permite a intensificação do uso das áreas já abertas pela pecuária e lavouras de grãos. A rotação entre áreas de pasto e de lavoura resulta em ganhos de produtividade. Isso é especialmente interessante para os pastos, que hoje estão, em sua maioria degradados, principalmente devido à deficiência de nutrientes. O pesquisador explica que atualmente a taxa de lotação média no Cerrado é de uma cabeça de gado por hectare. “Caso esse número seja aumentado para 1,4 cabeça, 11 milhões de hectares poderão ser alocados para outros usos”, avalia.
Além dos benefícios ambientais, a integração entre a lavoura e a pecuária proporciona vantagens aos produtores. Entre elas, Vilela enumera a melhora na qualidade química, física e biológica do solo; a quebra no ciclo de pragas e doenças nas lavouras; e a diminuição dos riscos de produção e de preço, pois há diversificação de atividades, uma vez que o produtor pode investir em diversas alternativas simultaneamente. Há também ganhos de produtividade. Enquanto cada hectare de pasto formado pelo sistema proporciona de 15 a 40 arrobas (em equivalente carcaça) por ano, a mesma área no sistema tradicional produz de 3 a 4 arrobas. Devido a esses ganhos, a tecnologia já começa a ser adotada por produtores da região.
Para o pesquisador Djalma Martinhão, o aumento da produtividade nas lavouras tradicionais, proporcionado pela pesquisa agropecuária, também pode ser uma receita para diminuir o desmatamento. De acordo com ele, esse resultado pode ser conquistado a partir do uso do plantio direto, da rotação de culturas e da correção da acidez do solo por meio de calcário e gesso. Segundo dados de pesquisas recentes conduzidas pela Embrapa Cerrados, por exemplo, enquanto os fertilizantes em lavoura em cultivo convencional têm uma eficiência de uso de 57%, os que são aplicados no plantio direto registram eficiência de 77%. “Com isso poderíamos aumentar a produção total de soja e milho em 9 milhões de toneladas e pouparmos a abertura de 3 milhões de hectares”, afirma Djalma.