Somente no Estado de Pará, a frutinha injetou R$ 225 milhões na economia local, no ano passado
Mais de R$ 225 milhões em exportações no ano de 2015. Esta foi a quantia injetada somente na economia paraense, vinda de uma “frutinha” que muito brasileiro conhece bem: o açaí. O diminutivo só diz respeito ao seu tamanho, até porque, para o mercado, é considerada uma superfruta, levando em conta, principalmente, seu alto valor nutricional.
De acordo com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Mercados), sua produção é muito importante para os fruticultores dos Estados de Amapá, Acre, Maranhão, Pará e Rondônia — todos na região Norte do País.
Estima-se que as atividades de extração, transporte, comercialização e industrialização de frutas e de palmito do açaizeiro sejam responsáveis pela geração de 25 mil empregos diretos.
Somente o Pará responde por quase 55% de toda a produção de açaí do Brasil, segundo dados da Pesquisa de Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (Pevs), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IB GE), em 2014.
Da Amazônia para o mundo
O açaí (Euterpe oleracea) é uma fruta naturalmente roxa, semelhante à jabuticaba, retirada em cachos da palmeira conhecida como açaizeiro. É natural da Amazônia brasileira, com maior incidência no Estado do Pará. É uma fonte rica em minerais como ferro, cálcio, fósforo e algumas vitaminas (leia mais na seção Alimentação & Nutrição).
O extrato do açaí também é utilizado na área de cosméticos e estética, por ser rico em vitaminas, seus antioxidantes naturais promovem uma ação bioprotetora sobre a pele, prevenindo o envelhecimento cutâneo. É um alimento muito importante à mesa, principalmente dos nortistas, e seu consumo data dos tempos pré-colombianos.
De acordo com o Sebrae Mercados, o açaí chegou ao território nacional durante a década de 80. Anos mais tarde, seu consumo virou mania entre os adeptos da malhação, até porque, dizem seus defensores, “ele vale por uma refeição”. Rica em minerais e vitaminas, esta superfruta – quando consumida sob a forma de bebidas, doces, geléias e sorvetes – vira uma “bomba calórica”, que deve ser evitada pelos sedentários.
Indústria
Por causa da facilidade na hora de extrair seus frutos, a espécie favorece o abastecimento seguro e fácil à indústria, principalmente para aquela instalada nas proximidades dos cultivos do açaizeiro. Ainda tem baixo custo de matéria-prima e de transporte.
Ao mesmo tempo, segundo o Sebrae Mercados, “possibilita o aproveitamento permanente das áreas de várzea e igapó, exploradas anualmente, com o cultivo do arroz e cana-de-açúcar”, evitando o abandono destas regiões e “a sua transformação em capoeira desprovida de espécies valorizadas, fato bastante comum na agricultura itinerante regional”.
Conforme dados da Pevs/IB GE (2014), o açaí figurava entre os produtos que mais se destacaram pelo valor da produção, em 2013, ficando em segundo lugar com 25,6% da quantidade total produzida pela extração vegetal não madeireira no Brasil.
Cultivares
O uso de cultivares adaptadas às diferentes condições de clima, solo e sistema de produção, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, é o princípio fundamental para ter ganhos em produtividade e qualidade de qualquer vegetal.
Em 2004, o programa de melhoramento genético da Embrapa Amazônia Oriental (PA), baseado na seleção fenotípica na coleção de germoplasma do açaizeiro, lançou a cultivar BRS-Pará, selecionada para as condições de solo firme, com bons níveis de produtividade de frutos. O experimento foi executado em uma área do município de Belém (PA).
De acordo com a estatal, o açaizeiro pode ser propagado pelas vias assexuadas, a partir da retirada de perfilhos; e sexuada, pela germinação de sementes. “A produção de mudas, por meio de perfilhos, é indicada para a propagação, em pequena escala, de
indivíduos que apresentam características desejáveis como alta produtividade, elevado rendimento de polpa, maturação uniforme dos frutos no cacho e período de frutificação na entressafra”, explica a Embrapa Amazônia Oriental.
“Este processo deve ter seu uso restrito aos trabalhos de melhoramento genético, pelas dificuldades de serem obtidos perfilhos em número suficiente, além de sua baixa taxa de sobrevivência em viveiro ou no campo. A produção de mudas, a partir de sementes, é o processo mais indicado para o estabelecimento de cultivos comerciais, pois possibilita produzir grande número de indivíduos com menor custo, quando comparado com a propagação assexuada.”
Nova BRS
Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, João Tomé, da área de melhoramento genético, informa que, até o final do primeiro semestre de 2017, deve ser lançada uma nova cultivar do açaí, que tem nome provisório “BRS Ver-O-Peso”. “Esta (nova) semente tem como diferencial maior produtividade, podendo alcançar até 15 toneladas por hectare ao ano”, garante.
Outra grande vantagem da nova cultivar do açaí é ter sido desenvolvida para cultivo em áreas de terra firme. Sua produção com irrigação pode garantir safra o ano inteiro, minimizando um dos maiores problemas da cultura no Estado do Pará, que é a sazonalidade. “Atualmente, 80% da produção ocorrem de julho a dezembro. No restante do ano, a oferta da fruta cai drasticamente, impactando toda a cadeia”, diz Tomé.
Tecnologias
Por causa da importância do açaí, principalmente para a fruticultura paraense, a Embrapa Amazônia Oriental lidera um arranjo nacional exclusivo, o “Tec Euterpe”. Euterpe é o gênero botânico que abriga tanto o açaí solteiro (Euterpe precatória) como o de touceira (Euterpe olerácea) — este último, mais comum no Pará.
Coordenado pelo pesquisador William Castro, o arranjo, que faz parte do projeto “Conversando com a Embrapa”, propõe gerar novas tecnologias, sempre de olho na sustentabilidade da cadeia produtiva do açaizeiro. Vale ressaltar que a estatal, que integra um grupo de instituições que participa do “Pró-Açai” (Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Açaí no Estado do Pará), será responsável por toda a base genética das sementes da superfruta, a serem distribuídas aos produtores cadastrados ao projeto.
Pró-Açaí
Elaborado pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), em parceria com a Embrapa Amazônia Oriental e outras instituições, o Pró-Açaí engloba um conjunto de ações que propõe expandir a área de produção do açaizeiro em 50 mil hectares, o que pode resultar em um aumento de 360 mil toneladas de frutos, até 2024.
O programa tem duração inicial de quatro anos e focará seus esforços na distribuição de material genético de qualidade e ações de assistência técnica para atingir a meta de expansão de 50 mil hectares de área produtiva do açaí.
Diretor de Agricultura Familiar da Sedap e organizador do programa, Luiz Pinto informa que “serão 10 mil hectares para cultivo em área de terra firme, com irrigação, envolvendo mil produtores de pequeno, médio e grande porte de todo Pará”.
“Outros 40 mil hectares estão previstos nos municípios do Baixo Tocantins e Marajó, trabalhando com cerca de 10 mil famílias da agricultura familiar em região de várzea, que sairão da condição de extrativistas, com produção média de duas toneladas ao ano por hectare, para utilização de tecnologias de manejo e de enriquecimento, podendo alcançar até seis toneladas em mesma área e período.”