Iniciativa fortalece viagens com propósito de conectar turistas à cultura brasileira (Foto: Divulgação)
O viajante de turismo sustentável carrega na bagagem algo que vai além do mapa e da câmera: a vontade de fazer parte, e não apenas passar. Ele busca experiências autênticas, mas faz questão de que sua presença contribua — ou, ao menos, não agrida — o ecossistema e a cultura local, equilibrando o desejo de conhecer com a responsabilidade de cuidar.
É com esse espírito que a VaiViver – Ecoturismo e Aventura, uma iniciativa voltada para viagens que unem conservação ambiental, valorização cultural e geração de renda, atua diretamente em 33 Unidades de Conservação (UCs), espalhadas por todos os biomas brasileiros — Cerrado, Mata Atlântica, Amazônia e Caatinga.
Em parceria com comunidades ribeirinhas, caiçaras, quilombolas e sertanejas, a VaiViver já envolve diretamente mais de 600 pessoas em suas atividades. A iniciativa atua em diversas Unidades de Conservação pelo país, entre elas o Parque Estadual do Jalapão (TO), o Parque Nacional de Aparados da Serra (RS), o Parque Nacional do Itatiaia (RJ), o Parque Nacional da Chapada das Mesas (MA) e o Parque Estadual Ilha do Cardoso (SP).
A VaiViver também adota práticas como a compensação de carbono (CO₂) em todas as suas operações e, desde 2016, a iniciativa já injetou mais de R$ 4 milhões em serviços de base comunitária, fomentando uma economia circular que valoriza o protagonismo local e respeita as particularidades e cultura de cada território.
“Quando começamos a desenhar um novo roteiro, o primeiro passo é mapear quem atua com turismo na região. Em seguida, buscamos entender se essa pessoa envolve outros membros da comunidade e se há, de fato, uma economia circular em funcionamento. Ou seja, se ela é contratada, é importante que esse valor circule localmente, beneficiando outras pessoas da região que trabalham ali e que dependam direta ou indiretamente desses atrativos para gerar renda. A partir disso, começamos a estruturar o que chamamos de parceiros locais”, explica a cofundadora da VaiViver, Cecília Fortunatti.

Proposta da Iniciativa é fortalecer viagens que conectem turistas à cultura brasileira. Foto: Divulgação
O modelo contrasta com o turismo de massa, que muitas vezes desloca guias e prestadores de serviço de outras regiões, esvaziando o potencial de desenvolvimento econômico e social dos territórios visitados. “A nossa ideia é que as pessoas que vivem ali, e que dependem diretamente dos atrativos naturais, possam se beneficiar e prosperar com o turismo. Por isso, nossa prioridade é sempre o local, quem mora na região e depende, total ou parcialmente, desses atrativos para complementar ou garantir sua renda”, complementa Cecília.
O começo
A primeira expedição oficial da VaiViver em uma Unidade de Conservação foi realizada no Parque Nacional da Serra da Bocaina, que fica na divisa entre Rio de Janeiro e São Paulo. O grupo percorreu um trekking noturno até a Pedra da Macela para assistir ao nascer do sol.
“A escolha da Pedra da Macela aconteceu por ser um local muito importante, muito significativo para a gente. Era lá que a gente observava as estrelas, assistia o sol nascer até vermos a baía de Paraty, era nosso lugar favorito para silenciar a mente e escutar nosso coração juvenil, que ansiava por viver novas descobertas aos 20 anos.”, conta Cecília.
O contato com estudantes de diferentes universidades próximas, como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (UNESP) e Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), foi o ponto de partida para que a VaiViver ampliasse sua atuação, envolvendo cada vez mais viajantes.

A primeira expedição oficial da VaiViver em uma Unidade de Conservação foi realizada no Parque Nacional da Serra da Bocaina. Foto: Divulgação
Experiências
Cocriar com as comunidades locais e transformar saberes tradicionais em experiências autênticas é o que move a VaiViver. A proposta da iniciativa vai além do turismo convencional, conecta a busca dos viajantes por vivências significativas à valorização das culturas populares. “Às vezes, ao conversar com a comunidade, descobrimos que uma senhora que faz bolinhos no quintal há 50 anos pode virar uma anfitriã de um tour cultural. A gente estrutura isso, valoriza o saber popular e transforma em um novo roteiro turístico”, explica a cofundadora da VaiViver, Mayumi Kurimori.
Essa escuta ativa e construção conjunta têm permitido a criação de experiências que atendem tanto ao desejo do viajante por troca cultural quanto à necessidade de geração de renda nas comunidades. A cofundadora também comenta que a iniciativa aposta em vivências autênticas que ressignificam a forma de viajar.
Além da valorização das culturas locais, a iniciativa também fortalece a economia das regiões visitadas. “Nós incentivamos o consumo local. Então, se tem um restaurante enorme na cidade, um hotel de rede, não vai ser de lá que vamos consumir. Buscaremos um hotel de uma empresa familiar, um restaurante tocado por pessoas que vivem há gerações na região. Desde o lanche da trilha até as refeições maiores, tudo é escolhido envolvendo as pessoas”, acrescenta Mayumi.
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Parcerias que fortalecem o impacto

Além da valorização das culturas locais, a iniciativa também fortalece a economia das regiões visitadas. Foto: Divulgação
Para ampliar seu alcance e fortalecer sua atuação, a VaiViver conta com parceiros estratégicos, como Daniela Labonia, na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Juntas, as duas iniciativas contribuem para a construção de um modelo de turismo mais justo, inclusivo e conectado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A parceria surgiu de forma muito orgânica, a partir das conexões criadas nas redes sociais. “Conhecemos a VaiViver pelas postagens que faziam sobre as viagens, e eu mandei um convite para que conhecessem nossa estrutura e os roteiros aqui na Canastra. Elas vieram, adoraram tudo e perceberam que a gente tinha a mesma linha de pensamento. Desde então, a parceria se consolidou”, conta Daniela Labonia, parceira do VaiViver.
A sintonia da parceria refletiu também na forma como as experiências são conduzidas. As atividades turísticas são realizadas em veículos de 6 a 10 lugares, conduzidos por profissionais credenciados que têm as funções de motoristas e guias ambientais. Com formação em primeiros socorros e conhecimento aprofundado da região, esses condutores oferecem segurança e cuidado personalizados.
“O diferencial é que, em vez de um único guia para 40 pessoas, como acontece em excursões maiores, aqui temos um condutor para cada grupo pequeno. Em roteiros com 36 pessoas, chegamos a ter cinco ou seis condutores locais, o que valoriza o trabalho deles e fortalece toda a cadeia do turismo de base comunitária”, finaliza Daniela.