Reduto de belezas naturais, rios margeados por fazendas de cacau, praias intocadas, de vastos coqueirais e densos manguezais decoram as localidades de Ilhéus, Itacaré, Ipiaú, Maraú, Una, Canavieiras, Itabuna, Uruçuca, Santa Luzia, Pau Brasil e São José da Vitória (Foto: Ministério do Turismo)
Dos romances de Jorge Amado aos surfistas de Itacaré. Do azul do mar ao verde da mais rica reserva de Mata Atlântica do Brasil. História e natureza se misturam nessa região, no sul da Bahia.
Aqui está situada a Costa do Cacau. São 450 quilômetros da capital Salvador (pela BR-101), em Itacaré, onde deságua o Rio de Contas e o viajante encontra, além das praias ornadas por coqueiros, falésias que permitem à floresta um raro contato com o mar.
Estende-se, sempre rumo ao sul e rente ao litoral, por 200 quilômetros. As praias são cortadas por montanhas, rios e cachoeiras. Mar adentro, fervilha a maior área de recifes coralinos de todo o Atlântico Sul.
Oferece abrigo e alimento a uma rica fauna marinha, que inclui cerca de vinte espécies de peixes endêmicas (só existentes na região) e ocupa mais de 7 mil pescadores artesanais.
Este cenário de espetáculos fecha-se em Canavieiras, de casario colorido, ilhas, manguezais, caranguejos e pesca oceânica de fama mundial.
O destino encanta pelas paisagens e pela opulência dos anos áureos do chamado “ouro negro”. A arquitetura preserva o casario colonial dos séculos XVIII e XIX, em ruas calçadas de pedras, igrejas e casarões antigos, parte importante da História Nacional e que remonta ao período em que a produção e exportação cacaueira eram a atividade primordial da economia brasileira.
Reduto de belezas naturais, rios margeados por fazendas de cacau, praias intocadas, de vastos coqueirais e densos manguezais decoram as localidades de Ilhéus, Itacaré, Ipiaú, Maraú, Una, Canavieiras, Itabuna, Uruçuca, Santa Luzia, Pau Brasil e São José da Vitória.
Ilhéus de Jorge Amado
Ao centro da Costa, está uma de suas capitais, Ilhéus, de 220 mil habitantes .(a outra é Itabuna, mais ao interior, com população equivalente) Introduzida na literatura pelos romances de Jorge Amado, conserva ainda o Bar Vesúvio, o cabaré Bataclan, o porto que fez a riqueza da região. Mas sua história vem de muito antes dos tempos do cacau, dos coronéis, de Gabriela e Nassib.
Fundada em 1534, a vila protagonizou os principais ciclos econômicos que marcaram a Colônia. Ao pau-brasil, extraído do litoral baiano, somou-se, já no século XVI, a cana-de-açúcar (o Engenho de Santana, criado por Mem de Sá, data de 1573) e, em 1746, a fruta que produz o chocolate, que terminou dando nome à região.
Uma pequena roça surgiria na histórica Canavieiras, seis anos depois, e os cultivos comerciais, nos anos 1890, quando chegaram os imigrantes alemães.
Riqueza do cacau
Originário da Amazônia, o cacaueiro encontrou na região um clima propício e, em especial, uma forma de cultivo inovadora: a cabruca. Caprichosa, a planta uma árvore que atinge, no máximo, seis metros necessita de sombra, para se desenvolver.
Em outras regiões, o sombreamento é fornecido por um segundo cultivo, de espécie mais alta. No sul da Bahia, não. Os cacaueiros são plantados, há mais de dois séculos, em meio à Mata Atlântica. Esta técnica permitiu que se preservassem, além dos trechos onde a floresta permanece intocada, extensas áreas de semipreservação.
Como em tantas regiões do Brasil, este cenário de riquezas naturais e humanas foi historicamente marcado pelo latifúndio e monocultura. Os ciclos econômicos sucederam-se, mas a estrutura social permaneceu intacta por quatro séculos. A descoberta do valor do cacau provocou, entre as décadas de 1890 e 1930, uma onda de concentração de terras e polarização social, reprodução das relações Casa Grande & Senzala.
Grandes fortunas surgiram entre os principais fazendeiros do início do século passado. Construíram um porto próprio para integração direta com a Europa. No cais em que embarcavam, sem beneficiamento, os fardos com o fruto dourado, eram recebidos os artistas, as dançarinas, os aventureiros, os pianos-de-cauda, as louças e cristais.
A cidade teve teatro, hotéis e armazéns de luxo, cassinos e cabaréscom destaque para o célebre Bataclan, também imortalizado na obra de Jorge Amado), e cinemas, e o Teatro Municipal, inaugurado em 1932.
Já em 1933, poucos meses depois de sua inauguração, o jornal local “Diário da Tarde”, noticiava:
”Ilhéus está transformada numa espécie de vila artística com o número extraordinário de homens e mulheres de teatro que aqui vieram naturalmente atraídos pela fama de prosperidade desta terra. Temos já duas casas de espetáculos excelentes e confortáveis”.
O cardápio dos banquetes chegou a ser impresso em francês. À exceção da reduzida elite, a sociedade era composta de braços: para plantar e colher o cacau; para carregar e descarregar os navios; para levar os pianos, mobílias e baixelas aos casarões ou às fazendas.
O auge, o declínio e a recuperação da produção cacaueira
Em seu esplendor, o sul baiano, sozinho, fez do Brasil o segundo maior produtor mundial de cacau. Esta posição declinou constantemente nas décadas seguintes, diante da concorrência de produtores africanos e centro-americanos.
O drama transformou-se em tragédia no final dos anos 1980. O cacau sul-americano foi atingido por uma praga devastadora. Um fungo (M.Perniciosa) provoca a ramificação irregular da árvore (em forma de vassouras-de-bruxa, nome popular da doença) e inibe o nascimento de frutos. Sem que houvesse uma forma de combatê-la adequadamente, a vassoura-de-bruxa devastou os cacauais do sul da Bahia.
A produção nacional despencou em alguns anos, para 40% da registrada em 1989. Da safra 1990 até a de 2000, a produção de cacau na Bahia caiu de 356 para 98 mil toneladas. Foi com a contribuição da tecnologia que o controle da doença da fruta foi possível, desenvolvendo variedades tolerantes ao fungo.
Em 2016, o país produziu 146.998 toneladas de cacau e, desse total, 68,9% foi frutificado no sul da Bahia, o que representa 101,308 toneladas, segundo a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).
A produção de cacau tem recobrado a importância – e de forma sustentável. Quase 80% do cacau da Bahia é produzido na sombra, imitando a Mata Atlântica nativa – o processo ganha o nome de Cabruca.
No ano passado, a colheita de cacau na Bahia bateu recorde e alcançou 140.928 toneladas, aumento de 39,72% em relação a 2020 (100.864 toneladas), e o melhor resultado desde 2017.
Atualmente, cerca de 80% dos 45 mil produtores de cacau da Bahia usam o sistema cabruca. Segundo os dados da Seagri, esse modelo ajudou a preservar 8% da Mata Atlântica no Sul do estado e reduz a quantidade de gás carbônico no meio ambiente.
Uma das marcas de chocolate da agricultura familiar é a Bahia Cacau, a primeira agroindústria de chocolate da agricultura familiar do Brasil, e dirigida pela Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia solidária da Bacia do Rio Salgado e adjacências (Coopfesba).
Com 104 agricultores familiares de diversos municípios da região Sul da Bahia produzindo chocolate especial a partir do cacau fino, de origem, fornecidos pelos seus cooperados, de forma agroecológica e preservando a mata atlântica , além de produzirem bombons com nibs, barras de chocolate e amêndoas para vender em feiras locais.
O cacau produzido no Sul da Bahia também conta o selo de Indicação Geográfica (IG), conquistado pela Associação Cacau Sul Bahia (ACSB), formada por cooperativas, associações e instituições setoriais onde atualmente representa três mil produtores de cacau da Região Sul da Bahia.
Os chocolates Sul da Bahia são feitos apenas com cacau de origem certificados pela IG, passam por análises fisicoquímicas e sensoriais rígidas que são uma garantia de origem e qualidade. Nesse quesito o CIC – Centro de Inovação do Cacau, realiza o trabalho de manutenção do alto padrão de qualidade do chocolate.
Na chamada Estrada do Chocolate, é possível apreciar desde a colheita até a aromática torra das amêndoas, assim como degustar chocolates de origem,visitar as fazendas, que geram cerca de 200 mil empregos diretos e movimentam R$ 1,8 bilhão por ano.
Lugares para conhecer
Ecoparque de Una
Passarelas suspensas entre a copa das árvores deixam sentir a Mata Atlântica em todo seu esplendor. Por vezes, animais como o mico-leão-da-cara-dourada dão o ar da graça. No seringal, pode-se observar a extração artesanal da borracha. Para terminar, um banho certeiro no Rio Maruim.
Lagoa Encantada
Este espelho d’água que povoa o imaginário folclórico da região surge como um tesouro escondido no horizonte. Passeios de barco singram suas águas plácidas, atravessando tapetes de vegetação que cobrem a superfície até chegarem a duas belas quedas d’água. O fim da tarde é abençoado pelas cores do pôr do sol.
Parque Estadual Serra do Conduru
O conduru, o jacarandá-da-bahia e centenas de outras espécies de árvores marcam presença entre a riquíssima biodiversidade do Parque. De bicicleta, é possível percorrer trilhas pontuadas por cursos d’água cristalinos e mirantes.
Serra Grande
A vida passa em câmera lenta neste vilarejo fincado no topo do morro, cujos mirantes deixam ver o pessoal voando de parapente no horizonte. Lá embaixo, praias quase vazias, como a do Sargi e do Pompilho, têm ondas propícias ao surfe. Na mata, a Cachoeira do Tijuípe refresca a paisagem e os visitantes.
Taboquinhas
Este distrito é terra de aventura, a começar pelo rafting nas corredeiras do Rio de Contas, garantia de adrenalina. Cruzando o rio de canoa e caminhando brevemente entre cacaueiros chega-se à bela Cachoeira do Noré, onde os mais ousados praticam rapel e tirolesa.
Itacaré
Dos vilarejos mais carismáticos do sul da Bahia, Itacaré emana um ar jovem e festivo. Seu litoral recortado exibe enseadas limitadas por montanhas verdejantes, muitas acessadas por trilhas, como Jeribucaçu, Engenhoca e Itacarezinho.
Península de Maraú
Os 50 km de costa pouquíssimo ocupada são um convite para explorar uma sucessão de praias maravilhosas. Não perca as piscinas naturais de Taipu de Fora, onde é possível praticar snorkel, as gloriosas ilhas da Baía de Camamu e os pores do sol inesquecíveis da Ponta do Mutá.
Turismo rural nas fazendas
Além do litoral paradisíaco, um das opções mais interessantes para quem visita a Costa do Cacau é conhecer as fazendas produtoras do fruto, aprendendo de perto como é o cultivo do cacau e seu beneficiamento.
Em algumas das fazendas é possível não só se hospedar para passar uns dias de descanso e fazer passeios agrecológicos, como também degustar os chocolates especiais, feitos com o cacau da própria fazenda.
Fazenda Santa Ana
A Fazenda Santa Ana tem as portas abertas para os amantes da natureza, chocolatiers, apreciadores da história do cacau, estudantes de cursos de chocolate e turistas de todo o mundo.
Está localizada no município de Itacaré, às margens do Rio de Contas, com numerosos atrativos naturais e navegável com pequenas embarcações, cachoeiras e quedas d´água.
Neste cenário é produzido o cacau para o Chocolate Morbeck e outros produtos como açaí, além da criação de gado com produção de leite e derivados.
Fazenda Provisão
A Fazenda Provisão está localizada no Km 27 da Rodovia Ilhéus – Uruçuca, às margens do rio Almada, aberta a todos aqueles que desejam ter uma experiência diferenciada junto à natureza, à história da região, à cultura cacaueira, em um clima típico de uma fazenda tradicional
A história da fazenda começa em 1818 quando foi concedida ao suíço Sr. Henri Borel a posse de uma área de terras incultas, medindo “uma légua em quadra”, bordejando o Rio Almada a qual ele deu o nome de Sesmaria do Engenho do Castelo Novo.
Em 1885, o Coronel Domingos Adami de Sá, em partilha de herança, assume o seu quinhão composto por terras produtivas de cacau e terras incultas pertencentes a esta Sesmaria, dando-lhe mais tarde o nome de Fazenda Provisão. Foi então o seu primeiro proprietário e, atualmente, a fazenda está em mãos da 4ª geração dos seus descendentes.
A Fazenda Provisão possui um conjunto arquitetônico que compreende a capela, construída no inicio do século XX, contendo objetos de arte sacra datados do tempo do Coronel Domingos Adami de Sá, além da casa sede e uma casa anexa.
Na fazenda, é possível agendar uma visita a uma roça produtiva de cacau para conhecer as várias etapas da colha e quebra dos frutos, passando à praça de beneficiamento do cacau composta de casa de coxo para fermentação das amêndoas, estufa e barcaças para secagem das mesmas.
Além de uma visita à Mata Atlântica, através de trilhas, entrando em contato com a sua flora e fauna, absolutamente preservadas.
Fazenda Yrerê
A Fazenda Yrerê está localizada as margens do Rio Cachoeira a sombra da Mata Atlântica do Sul da Bahia.
Parte antiga da sesmaria (sistemas que o rei de Portugal doava as terras em troca de plantios) foi doada pela coroa portuguesa á família de alemãs no ano de 1814.
Além da produção de Cacau, trabalha também com turismo rural, fabricação artesanal de móveis rústicos, flores tropicais, artesanato decorativo, patchwork e produz um chocolate de alta qualidade que tem por nome: “Chocolates Yrerê”.
A Yreré busca oferecer aos visitantes uma experiência única, provocando e estimulando seus sentidos, através da visão, paladar, olfato e audição em uma viagem diferente, uma experiência que vale para a vida. Os visitantes experimentam o “Tree to bar”, ou da “árvore até a barra”. Isto é, podem conhecer o cacau desde a sua produção, até a desgustação final em forma de chocolate.
O passeio na trilha da caipora leva os turistas até a roça de cacau. São belas paisagens, flores e plantas lindas, guiados por trabalhadores rurais da própria fazenda, e ciceroniano pelo casal Dadá e Gerson Marques. A visita na fazenda e trilha dura aproximadamente duas horas.
Na fazenda, o visitante pode degustar uma tradicional culinária tipicamente rural e regional, ao som dos sabiás e de canários da terra. Pode se apreciar lindas pinturas e belos arranjos.
Fazenda Primavera
A Fazenda Primavera é um caso típico de realidade que inspirou a ficção. O proprietário Virgílio Amorim abriu as porteiras para os turistas depois que a vassoura-de-bruxa quase acabou com a principal fonte de renda da região na década de 80.
No pequeno museu da sede, documentos, móveis antigos, fotos e objetos contam a história da família misturada com a saga do cacau. Tem a credencial do órgão que regulamenta os museus do Brasil e consta no Guia de Museus Brasileiros. Já é um museu registrado.
Esta fazenda conta com sete gerações com o mesmo tipo de cultura o que é muito raro ou não existe no Brasil.
As terras chegaram às mãos dos Amorim Portugueses e dos Berberth em 1816 ainda como uma sesmaria (sistema em que o rei de Portugal doava as terras em troca do plantio).
No começo do século XX, a Primavera já era uma das maiores produtoras da Bahia. O avô de Virgílio trouxe o primeiro telefone da região e ajudou a construir a estrada entre Ilhéus e Itabuna e era um dos típicos coronéis do cacau que viraram personagem de livro e novela.
A Fazenda Primavera foi um dos cenários da novela Renascer da Rede Globo que foi ao ar em 1993. Quem viu lembra-se da barcaça, este terreiro suspenso com teto móvel onde os grãos do cacau são secos após a fermentação.
Hoje além do Turismo Rural, a fazenda tem plantação de seringueira, pupunha, açaí, e lindas plantas ornamentais. Dá prá ver quase tudo a pé ou num passeio emocionante em charrete.
O próprio Virgílio acompanha os visitantes na visita à fazenda. Enquanto mostra todo o processo de produção do cacau, ele dá uma aula sobre a história da região.
Um lanche com doces e sucos regionais (inclusive de cacau) é servido após a visita. Também é possíovel comprar também os chocolates artesanais produzidos na fazenda. O visitante ali também pode conhecer o ciclo do cacau, desde a plantação aos processos realizados após a colheita.
Fazenda Vista do Mar
O nome não é licença poética. Localizada entre Ilhéus e Serra Grande, próxima à reserva ambiental do Parque Estadual da Serra do Conduru, a Fazenda Vista do Mar, é um lindo local com uma vista sem fim para o oceano. Em 2005, encantados pela vista do oceano e a paz que o ambiente de mata nos traz, os prorietários compraram os quatro primeiros hectares do que é a fazenda Vista do Mar hoje.
A pequena e antiga casa foi construída pelo senhor João Vieira, nativo do vilarejo do Outeiro, nos arredores da fazenda. Os novos donos aumentaram a propriedade após alguns anos e ainda adquiriram uma parte da terra com nascente que foi reflorestada.
Além dos pés de cacau já presentes na fazenda, foram plantados limão, coco, goiaba, manga, jaca, pitanga, em especial, mais cacau. A fazenda agora possui oito hectares e em 2018 iniciou a produção de cacau fino, certificado pelo CIC (Centro de Inovação do Cacau), e seus derivados como mel de cacau e o delicioso chocolate no conceito tree to bar, tendo a ideia do chocolate como um produto original da região.
Vila Rosa
Fontes: Governo do Estado da Bahia, Prefeitura de Ilhéus, Abrampa, Airbnb, Fazendas Boa Provisão, Santa Ana, Vista Mar, Villa Rosa,Yrerê, Chocolate Bahia Cacau, Chocolate Sul da Bahia, Correio 24h, Wikipedia e Ceplac.