Cabaceiras se destaca pela ovinocapricultura e ainda serve de cenário para vários filmes do cinema nacional
O visitante que passar pela estrada que dá acesso à entrada da cidade de Cabaceiras, no Cariri paraibano, a 189 km da capital João Pessoa, terá uma surpresa: um imenso letreiro instalado identificando que o viajante acaba de chegar à “Roliúde Nordestina”.
Com pouco mais de quatro mil habitantes, Cabaceiras ganhou fama quando os diretores do cinema nacional brasileiro identificaram ali uma localização geográfica perfeita, reunindo as melhores condições naturais no Brasil para rodagens de um filme.
Isso porque Cabaceiras é considerada a cidade onde menos ocorre precipitação pluviométrica no país, ou seja, é uma cidade onde o sol está sempre em alta e o céu com pouquíssimas nuvens, o que garante maior tempo de filmagens e com uma melhor qualidade por oferecer luz natural por mais tempo.
Por lá, já foram rodadas mais de 30 séries, documentários, novelas e filmes como, por exemplo, “O Auto da Compadecida”, que é baseado na peça teatral de Ariano Suassuna. Uma das últimas produções foi a séria dramática “Cangaço Novo”, produzida pela Amazon Prime Video.
Além dos cenários cinematográficos, a cidade conta como um dos principais atrativos turísticos, o Lajedo de Pai Mateus. Lá os visitantes buscam como roteiro o ecoturismo – o turismo voltado para a natureza e contemplação.
O município também abriga umas das uma grandes atrações culturais da Paraíba, a Festa do Bode Rei, que acontece todos os anos com o objetivo de promover a cadeia produtiva da caprinovinocultura e estimular o turismo rural.
A diretora de Turismo de Cabaceiras, Mércia Francielle Vieira de Farias, explicou que os pontos de visitação foram divididos por rotas.
“Temos a Rota dos Lajedos, que é focada no ecoturismo, a Rota do Couro, em que o turista visita todo o processo do curtimento do couro, como é fabricado o artesanato até o produto final; a Rota Histórica Cultural, cujo destaque é o Centro Cultural, com prédios antigos na zona urbana e na zona rural, e a Rota Cinematográfica, mais conhecida como a Roliúde Nordestina, com destaque para a igreja que foi cenário para as filmagens do Auto da Compadecida”, explicou.
A rota do couro
Ao servir de cenário para grandes produções cinematográficas, Cabaceiras foi ganhando mais visibilidade e com isso recebendo cada vez mais visitantes interessados em conhecer a cultura local.
É neste contexto que surge, em 1998, uma cooperativa de curtidores e artesãos em couro, a Arteza, que hoje conta com uma significativa variedade de produtos oriundos do couro de ovinos e caprinos que buscam atender à demanda dos turistas que visitam a região.
Saiba mais sobre a Arteza no site: www.lojaarteza.com.br
O senhor José Carlos Castro, conhecido por senhor Carlinhos, com o intuito de preservar a profissão do artesão em couro que estava em queda, bem como trazer opções ao processo de êxodo rural e a falta de emprego no distrito de Ribeira, começou a planejar uma forma de fortalecer a produção do couro novamente e devolver a identidade da comunidade rural da Ribeira.
Da ideia para a prática, Carlinhos buscou parceiros para criar uma associação que só mais tarde se transformaria em uma cooperativa. Inicialmente ele contou com o apoio da prefeitura de Cabaceiras, e em seguida contou com o apoio do governo do Estado.
Posteriormente conseguiu o apoio do Sebrae e do Senai e, hoje, a Arteza conta com mais de setenta associados, beneficiando mais de 300 famílias, com destaque para os jovens da comunidade.
Além da organização da Cooperativa e seus avanços em termos econômicos e sociais, a Arteza desenvolve atividades que diminuem o impacto ambiental de sua atividade para o qual fazem o curtimento com matérias primas de origem vegetal.
As práticas convencionais utilizam o cromo que é altamente prejudicial à saúde e ao meio ambiente. Na técnica usada pelos artesãos locais, utiliza-se a casca do angico – considerada a árvore do sertão – de onde é extraída uma seiva chamada tanino, responsável por curtir o couro.
A produção de artesanato em couro conta ainda com o uso de placas solares entregues pelo Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Cariri, Seridó e Curimataú (Procase) – Programa que trabalha pelo desenvolvimento do Semiárido Paraibano e conta com financiamento do Governo do Estado da Paraíba e do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).
Mesmo com todas essas práticas, a Associação enfrenta um entrave que é a pouca integração entre o produto final e a produção de matéria-prima, que é o couro de caprinos e ovinos.
Apesar da região ser uma grande criadora de caprinos e ovinos, o couro destes animais ainda é tratado como um subproduto. Ou seja, o couro utilizado pela Arteza é quase todo vindo de fora. O que em certa medida torna o processo produtivo mais oneroso. Sem contar que a produção local desta matéria prima poderia gerar mais capital na comunidade.
Festa do Bode Rei
Falando em caprinos, são eles a maior estrela da principal festa da cidade: a “Festa do Bode Rei”. Ela marca a abertura do São João na região do Cariri e atrai multidões, entre os meses de maio e junho.
Na celebração, o bode se torna o grande Rei, inclusive com direito a receber a chave da cidade entregue pelo prefeito da cidade. Essa tradição tem mais de 20 anos e reúne toda a cadeia produtiva da caprinocultura, com feira, exposições e comércio de animais das mais variadas raças.
Ela se transformou em um festival com diversas atrações, a exemplo das exposições e feiras de animais, mostras de artesanato, gastronomia, desfiles, apresentação de danças folclóricas, competições, palestras, cursos e shows de forró.
Ao todo, são três dias de festas, cujo ponto forte é a “gastronomia bodística” com oferta de pratos típicos como a “bodioca” – uma tapioca recheada de carne de bode ou do “McBode”, um hambúrguer de carne de bode.
A diretora de Turismo de Cabaceiras, Mércia Francielle Vieira de Farias, conta que a festa é uma grande oportunidade para a cidade mostrar sua vocação para receber turistas e que vem constantemente incentivando ações empreendedoras que valorizem a cultura e tradições da região.
“Nós temos uma diversidade de hotéis e pousadas em Cabaceiras, são ótimos equipamentos de hospedagem e de alimentação com características de uma gastronomia regional única e relevante”, destacou.
A festa também passou a ser o roteiro turístico rural, com atrativos culturais e ecológicos, fazendo com todos acreditem que esse evento é uma oportunidade de impactar economicamente a região, tendo em vista a geração de cerca de 850 empregos diretos.
A média de visitantes no período é de 60 mil pessoas. Para muitos, o evento é considerado uma verdadeira tradução da resistência do bode em meio a seca e promete trazer discussões e experiências sobre o assunto para criadores e agricultores locais.
O festival ocupa três espaços principais: o Parque do Bode, onde é realizada a expofeira de animais e competições; o Arraial do Bode Rei, quando se apresentam atrações culturais mescladas de trios forró pé-de-serra, e ao seu redor barracas são montadas formando o Espaço da Culinária Bodística (Praça da Alimentação); e o da Praça do Artesanato, lugar onde é realizada a exposição de artesãos regionais que contempla uma praça de alimentação e um palco cultural, onde são apresentados várias atrações culturais.
A festa também promove o batizado do Bode Reil Hall, onde ocorrem apresentações das bandas de forró.
Ações com pequenos produtores
Paralelamente à festa, a Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), vinculada à Secretaria do Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), realiza serviços e orientação sobre acesso às políticas públicas voltadas para a agricultura familiar.
A gerência regional da Empaer em Campina Grande, este ano, mobilizou sua equipe de extensionistas para, durante três dias, oferecer serviços aos participantes da Festa do Bode Rei, como tem feito desde a sua primeira edição há 23 anos.
Na ocasião, foram entregues Declarações de Aptidão ao Pronaf, distribuição de mudas de plantas nativas e forrageiras da região semiárida, demonstração sobre fenação e silagem.
Ainda na programação da Empaer, acontecem palestras sobre crédito rural e crédito fundiário, além de distribuição de material informativo abordando os diversos serviços e ações desenvolvidas pela extensão rural.
“O evento movimenta não somente a cultura e traz atrações artísticas, mas promove a divulgação e debate sobre a produção caprina no Cariri, uma atividade que é a principal vocação da região”, afirmou o extensionista rural, Geneilson Evangelista da Silva, gerente da Empaer em Cabaceiras.
Geneilson destacou que municípios do Cariri trabalham para valorizar cada vez mais a atividade caprina e promovem a divulgação da cadeia produtiva da caprinocultura leiteira.
“A Empaer, junto com parceiros, como prefeituras municipais, universidade e a iniciativa privada, têm contribuído para esse crescimento. A festa é oportunidade para que os criadores possam mostrar seus produtos e busquem novos mercados”, comentou.
Belezas naturais
A cidade de Cabaceiras não se limita a encantar os turistas em razão de sua cultura cinematográfica e da caprinocultura. Essa região do Cariri Paraibano se caracteriza também pelas lindas paisagens rochosas, situadas em meio a mata de pequeno porte, denominada caatinga arbustiva.
O Lajedo do Pai Mateus é uma elevação rochosa de 1km quadrado, no formato de um “prato de sopa” invertido, sobre a qual estão dispostos cerca de 100 imensos blocos arredondados de granito, formando uma das paisagens mais inusitadas e belas do planeta.
“O Lajedo de Pai Mateus é uma formação raríssima, uma obra da natureza. Só existem três semelhantes em todo o mundo e acaba atraindo um olhar diferenciado de todos os visitantes. É, sem dúvida, o maior ponto turístico da cidade”, conta Mércia Farias
Das poucas regiões do mundo com características geológicas semelhantes estão Devil’s Marbles, na Austrália, Erongo Mountains, na Namíbia, e a região do Hoggar, na Argélia.
O Lajedo de Pai Mateus tem cerca de cem grandes pedras arredondadas, que chegam a pesar 45 toneladas, e se destacam sobre a superfície ligeiramente convexa e a vegetação escassa da região do Cariri Paraibano.
“Quem visita sempre comenta que lá tem muita energia positiva. Ao saírem de lá, as pessoas dão testemunhos afirmando que estão renovadas e com uma sensação de paz interior. Só quem vai lá e conhece a imensidão que é o lajedo, vendo as rochas, sente a energia que emana do local”, comentou Mércia.
A formação rochosa é fruto do desgaste do solo ao longo de milhões de anos, em função de fissuras naturais e grandes variações de temperatura. Um dos blocos mais famosos é a Pedra do Capacete, por seu formato peculiar.
Em algumas pedras são encontradas pinturas rupestres atribuídas aos índios cariris, que viveram na região há cerca de 12 mil anos. Conta a lenda que Pai Mateus seria um ermitão curandeiro que viveu naquela região por volta do século XVIII, destino de muitas pessoas que o procuravam para se consultarem.
“A pandemia provocada pelo coronavírus mudou os hábitos dos visitantes e os nossos. As visitas ao Lajedo de Pai Mateus, que aconteciam mais nos finais de semana, passaram a acontecer durante os dias úteis, provavelmente com as pessoas evitando aglomerações. O ecoturismo rural geralmente é feito por famílias que saem dos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo, entre outros estados. Todos em busca de tranquilidade”, frisou Mércia.
Fontes: Empresa Paraibana de Comunicação, Governo da Paraíba, Portal Semear, Cooperativa Arteza, Prefeitura de Cabeceiras, Empaer -PB