Além de atuar no setor de insumos na área medicinal, startup visa expandir ações para fazendas verticais com o objetivo de produzir alimentos em áreas carentes ou de climas extremos (Foto: Divulgação)
Trazer soluções de automação para o cultivo indoor residencial, e também auxiliar as associações de cultivo sem fins lucrativos a montar os sistemas de automação para garantir a qualidade dos produtos de safra para safra. Estes são alguns dos objetivos da Happy Flowers, startup que integra o SNASH, ecossistema de inovação apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA),
“Estamos comprometidos com uma política nacional de produção de insumos, principalmente na área de plantas medicinais, mas não unicamente. Além da busca obvia por lucro, a Happy Flowers possuiu uma preocupação social forte, participando de comunidades e associações sem fins lucrativos, e querendo expandir para fazendas verticais para produção de alimentos em áreas carentes ou de climas extremos”, explica o geneticista, PhD em Virologia, sócio-fundador e CEO da empresa, Matias Melendez.
Ele lembra que a ideia de criar a empresa vem de longa data, entretanto, ao priorizar a família e o trabalho, sempre faltava tempo para cuidar do seu próprio cultivo.
“Sendo um pesquisador rigoroso, a qualidade das flores e frutos do meu cultivo sempre foi importante, ainda mais se tratando do alimento e medicina para o meu próprio consumo. Por isso, comecei montando, como um hobbie, o meu próprio sistema de automação, que logo se transformou em uma startup”, relata o CEO.
De acordo com o geneticista, a Happy Flowers tem como compromisso a proposta de aproximar os conhecimentos de eletrônica, gerenciamento remoto, armazenamento de dados em nuvem, dispositivos IOT e inteligência artificial.
Impactos das soluções
Membro da União Cannabica Científica e do Instituto Cannavita, Melendez conta que as soluções da empresa estão baseadas em dispositivos IOT com diversos sensores digitais que permitem, desde qualquer lugar do mundo, modificar as condições climáticas do cultivo, para se adaptar à espécie cultivada, à genética ou à fase do cultivo de cada produção.
“Nossos dispositivos conseguem modificar, regular e manter constantes as melhores condições climáticas do cultivo, como umidade e temperatura ambiente, umidade do solo por meio de rega programada digitalmente ou periódica, quantidade de horas luz regulada por sensor de luminosidade”, ressalta.
Paralelamente a isso, ele acrescenta que, ao mesmo tempo que os dispositivos cuidam do cultivo de forma automatizada, a empresa armazena, no servidor em nuvem, os dados quantitativos de qualidade ambiental do cultivo para cada cliente.
“Dentre os dados armazenados estão o déficit de pressão de vapor, diferença de temperatura vertical, controle digital de altura do plantio, ponto de orvalho, índice de estresse térmico das plantas, temperatura média diária, humidade deficitária do ambiente, índice de resfriamento, índice de uniformidade climática, ponto de saturação de vapor, saturação de vapor, intensidade da luz, índice de luminosidade acumulada, eficiência do uso da luz, índice de saturação de luz, uso consciente de consumo elétrico para iluminação, temperatura da folha e muitos outros”, lista Melendez.
Expansão dos negócios
Inicialmente focados no pequeno produtor residencial, a Happy Flowers está expandindo para produtores e associações de cultivo, com sistemas de automação completos, baseados em tecnologia IOT, proprietária e base de dados próprios, que permite a privacidade dos dados de cada cliente. “Esses dados são disponibilizados para os próprios clientes por 30 dias no pacote de serviços mais econômicos, ou enviados por e-mail para os clientes Premium”, comenta o CEO.
Ele acrescenta ainda que os sistemas de automação digitalizada da startup podem ser acoplados a sistemas elétricos de redução de umidade ambiente, evitando a queima de carbono pelo uso de queima de lenha para cura, por exemplo, na secagem do café, da folha de tabaco, ou das folhas e flores de plantas medicinais. Essa automação, baseada em leituras de sensores digitais em tempo real, permite a manutenção constante de temperatura e umidade ambiente controlada, para uma secagem eficiente.
Além disso, ele destaca que o controle e a possibilidade de modificar as condições climáticas do cultivo permitem que os produtores de regiões áridas do Brasil consigam o máximo rendimento com o menor consumo de água, controlando e utilizando todas as variáveis e dados que nossos sistemas coletam.
“Do ponto de vista da sustentabilidade para o agricultor, as soluções da Happy Flowers têm o potencial de cobrir as demandas de uma agricultura moderna, que alia alta produtividade com a preservação dos recursos naturais, evitando desperdícios de recursos hídricos e reduzindo o impacto no ecossistema local”, complementa o executivo.
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Importância para o setor
Segundo Melendez, as ações da empresa têm um papel fundamental no desenvolvimento das atividades do setor, do pequeno produtor residencial e de associações, promovendo o desenvolvimento de inovação e tecnologia nacional, para aumentar a eficiência na produção e sustentabilidade.
“Por meio de investimento Bootstrapping em tecnologia de ponta e parcerias estratégicas com diversos, estamos contribuindo para uma transformação no setor, que inclui a digitalização e automação, reduzindo o impacto ambiental e otimizando os processos produtivos”, observa.
Além disso, de acordo com o sócio fundador, as iniciativas de participação em associações de cultivo e eventos do setor garantem o acompanhamento e a rápida adaptação às tendências e necessidades dos clientes, independentemente do seu perfil.
Para o executivo, o setor possui séculos de tradição e costumes, que muitas vezes passam de geração para geração, mas a incorporação de tecnologias digitais no pequeno produtor ou no campo tem sido lenta.
“Ainda, existe insegurança jurídica para determinados cultivos medicinais, como é o caso do cultivo de Cannabis, para uso medicinal ou no mercado de psicodélicos, que vem crescendo rapidamente. A ausência de acesso à internet nas propriedades rurais, que chega a 72%, é um fator limitante no desenvolvimento de dispositivos digitais no campo, o qual prejudica fortemente o setor”, relata.
Entretanto, o cenário atual, na visão do especialista, é promissor, com tecnologias de internet via satélite que revolucionarão o agro, principalmente em um país de dimensões continentais, assim como o Brasil.
“A flexibilização do cultivo residencial e associativo de plantas medicinais deverá seguir nos próximos anos a mesma linha de legalidade de vários países da América Latina, América do Norte e Europa, permitindo que produtos de boa qualidade cheguem aos pacientes com custos adequados, e inclusive permitir que os próprios pacientes cultivem as plantas medicinais para consumo próprio”, prevê o CEO da Happy Flowers.