Startup desenvolveu um produto capaz de aumentar a imunidade de plantas e promover o crescimento da produção (Foto: Tolveg/Divulgação)
Fundada por Mariana Bernardino e Caroline Montebianco, doutoras em Microbiologia, a Tolveg – empresa que integra o hub de startups apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura, o SNASH – desenvolveu um bioestimulador que age como um “fortalecedor” do sistema imunológico das plantas, ajudando-as a resistir melhor a doenças e aumentando a produtividade de forma sustentável.
A ideia de criar a Tolveg surgiu em 2019, no fim do doutorado da CEO da empresa, Mariana, a partir de um edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), o Doutor Empreendedor.
Segundo ela, “foi a oportunidade de mudar a chavinha, de uma pessoa que vivia na academia para uma pessoa empreendedora”, disse em entrevista à Revista A Lavoura.
A CEO conta que, apesar de o projeto já ter começado a ganhar forma em 2017 e 2018, só com o incentivo do edital foi possível fazer a transição do ambiente acadêmico para o empresarial. No entanto, a pandemia de Covid-19 trouxe dificuldades adicionais, fazendo com que o desenvolvimento da startup se estendesse ao longo de 2020 e 2021.
No início de 2021, a Tolveg pôde iniciar testes de campo. A primeira cultura a ser experimentada foi o maracujá, uma das mais afetadas pelo vírus do endurecimento do fruto (CABMV), que pode gerar perdas de até 60% na produção, devido a deformidades que comprometem a polpa e inviabilizam o uso comercial.
O bioinsumo criado pela Tolveg surpreendeu ao aumentar em até 80% a produtividade dessa cultura, além de ajudar a reduzir os efeitos do CABMV no maracujá. “A gente buscava um antiviral, mas descobrimos que o produto melhora a condição da planta, tornando-a mais resistente”, explica Mariana.
Eficácia em outras culturas
A Tolveg não se limitou ao maracujá e expandiu os testes para outras culturas, como fumo, milho, soja e algodão.
Em todas elas, o bioinsumo demonstrou eficácia, com resultados promissores. Segundo Mariana, “no fumo, conseguimos ver uma antecipação da floração de 10 a 15 dias e um aumento no número de flores”.
Além disso, os experimentos em abacaxi, realizados em parceria com a Embrapa, estão focados em acelerar o desenvolvimento de mudas cultivadas em laboratório.
O bioinsumo da Tolveg é descrito como um “bioestimulador de plantas”, que funciona de forma semelhante a uma vacina para os vegetais.
“Ele é uma estrutura purificada da superfície de um fungo fitopatogênico que entra em contato com a planta, desencadeando uma resposta imunológica. A planta cria mecanismos para se defender, respondendo de forma mais eficiente e rápida a ataques futuros, seja por fungos, seja por vírus”, explica Mariana.
Demanda crescente por bioinsumos
Para atender à crescente demanda dos produtores por alternativas não químicas, a Tolveg tem participado de feiras e eventos do setor, onde recebe muitas solicitações para testar o produto em diferentes culturas.
“Se tivéssemos produto para testar em todas as culturas que nos pedem, já estaríamos em um nível surreal”, afirma Mariana. Hoje, a startup realiza experimentos com maracujá em regiões como Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, e com algodão em Brasília, em parceria com a Embrapa.
Um dos principais atrativos do bioinsumo da Tolveg é a sua múltipla ação . Ele não combate diretamente o patógeno, mas estimula a defesa geral das plantas, oferecendo uma solução mais sustentável e ampliando o potencial de adoção do produto em várias culturas.
Segundo Mariana, “a planta não consegue diferenciar entre bactérias, fungos ou vírus, então o produto acaba gerando uma defesa inespecífica”.
Ainda em fase de certificação pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a Tolveg ainda aguarda a obtenção do registro de seu bioinsumo. O próximo passo da startup é expandir os testes em campo para outras culturas e aumentar a escala de produção.
O bioinsumo desenvolvido pela Tolveg não apenas abre novos caminhos para uma agricultura mais sustentável, como também promete auxiliar os produtores a atenderem a mercados que demandam produtos livres de agroquímicos.
A startup também já atraiu, inclusive, a atenção de indústrias do setor de sucos, que veem no produto uma alternativa para combater o greening, doença bacteriana que ameaça a produção de laranja no Brasil.
“Hoje tem um gap muito grande na questão da laranja, dos cítricos no Brasil, por conta da questão do greening, o que é uma oportunidade de negócio”.