Tecnologia da Green Track consiste em um identificador e rastreador com GPS acoplado à orelha do boi, capaz de registrar a localização do animal via satélite e cruzar esses dados com informações oficiais do Cadastro Ambiental Rural (CAR), mapas do Prodes e áreas embargadas do Ibama (Foto: Green Track/Divulgação)
Enquanto o Brasil recebia atenção internacional durante a COP30, um movimento menos visível — mas potencialmente transformador — ganhava força na Amazônia Legal.
No epicentro dessa mudança está a Green Track, agtech brasileira que desenvolveu uma solução de rastreabilidade inédita no país. A startup é uma das empresas que integram o SNASH, hub de inovação apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura.
A tecnologia da Green Track consiste em um identificador e rastreador com GPS acoplado à orelha do boi, capaz de registrar a localização do animal via satélite e cruzar esses dados com informações oficiais do Cadastro Ambiental Rural (CAR), mapas do Prodes e áreas embargadas do Ibama.
A tecnologia, concebida após um ano e meio de desenvolvimento e um investimento de mais de US$ 1 milhão, surgiu de uma dor clara identificada pela empresa que é a dificuldade de comprovar sustentabilidade na cadeia da pecuária na região Norte, onde a maior parte do desmatamento ocorre.
É um divisor de águas para a pecuária tropical”, afirma Antonio Victuri Júnior, CEO da Green Track, em entrevista à Revista A Lavoura.
“Pela primeira vez, temos uma forma simples, acessível e juridicamente sólida de comprovar que o gado não vem de áreas desmatadas”.
Segundo ele, enquanto no Sudeste a pressão do desmatamento já não é central, no Norte a expansão da pecuária sobre áreas ilegais continua sendo alvo de ONGs e de mercados internacionais.
Hoje, a principal ferramenta de rastreabilidade do país é a Guia de Transporte Animal (GTA), um documento em papel preenchido pelo produtor cada vez que o animal muda de propriedade.
Victuri conta que é um sistema frágil, sujeito a fraudes e incapaz de rastrear fornecedores indiretos, considerado um ponto cum ponto cego que expõe frigoríficos a riscos jurídicos e reputacionais.
Já com o identificador e rastreador GPS, a empresa diz conseguir manter até três anos de informações precisas sobre a movimentação de cada bovino, independentemente de conexão à internet — fator crítico em regiões como o Pará, onde propriedades chegam a 200 mil hectares e muitas sequer possuem energia elétrica.

Tecnologia permite manter até três anos de informações precisas sobre a movimentação de cada bovino, independentemente de conexão à internet. Imagem: Green Track
Competitividade no mercado
Segundo o CEO, a tecnologia funciona por satélite, sem mensalidade, e pode chegar ao mercado por US$ 10 por unidade, um valor muito abaixo de concorrentes internacionais que chegam a US$ 150.
A solução já atraiu atenção de grandes players do setor. Grandes frigoríferos acompanham de perto os testes conduzidos na AgroSB.
“Estamos com boa qualidade, com boa aceitação”, diz Antonio.
Paralelamente, a AgroSB, um dos maiores grupos pecuários do Norte, tornou-se o primeiro cliente a adotar o sistema em campo, inclusive em áreas de bioma amazônico, onde a legislação determina que apenas 20% da área pode ser usada para criação, enquanto o restante deve ser preservado.
“Mesmo a fazenda estando regularizada, existem áreas que ela não pode ter a criação do animal”, explica.
O sistema da Green Track cruza automaticamente a posição do boi com camadas oficiais de mapas, identificando se o rebanho entrou em áreas protegidas, de embargo, terras indígenas ou zonas de preservação.

O CEO Antonio Victuri ao lado da equipe da AgroSB, um dos maiores grupos pecuários do Norte, e primeiro cliente a adotar o sistema em campo, inclusive em áreas de bioma amazônico. Foto: Divulgação Green Track
Cumprimento de exigências internacionais
A corrida por soluções desse tipo também ganha urgência diante das exigências internacionais.
A União Europeia passa a exigir rastreabilidade individual e comprovação de origem livre de desmatamento a partir de janeiro de 2026, sob o regulamento EUDR (EU Deforestation Regulation).
“Empresas e governos tem todo o interesse também em poder ter um controle melhor”, afirma Antonio.
O projeto da startup tem o apoio de instituições de peso como a NWF (National Wildlife Federation), Fundação Gordon and Betty Moore e WWF Brasil.
Para o CEO, a tecnologia oferece uma alternativa concreta e escalável para corrigir esse gargalo histórico na cadeia da carne.
“É a união entre ciência, tecnologia e vontade política que pode transformar o Brasil em referência global em rastreabilidade climática”.
Com tecnologia validada em campo, apoio de organizações globais e alto interesse do setor produtivo, a Green Track está pronta para transformar a rastreabilidade no Brasil.
“A partir de 2026, quem quiser exportar com segurança — ou proteger sua reputação — vai querer estar conosco”, conclui o executivo.








