A Campo Capital busca melhorar a saúde financeira e governança das Fazendas para elas alcancem melhores condições de financiamento no mercado, diz a fundadora e CEO da empresa, Isadora Caixeta — na foto (Foto: Nayara Bontempo)
Nascida em uma das maiores regiões produtoras de café do mundo, Isadora Caixeta cresceu brincando entre sacas do grão nos finais de semana na fazenda da família.
Décadas depois, essa vivência no interior de Minas Gerais se somou a uma carreira no mercado financeiro, na Faria Lima, em São Paulo, para dar origem à Campo Capital — uma startup que conecta o agronegócio ao capital de maneira “justa, transparente e inteligente”, como define sua fundadora.
Criada em 2020 por Caixeta e duas sócias, Rafaela Caixeta e Bruna Aguiar, a startup — que integra o SNASH, ecossistema de inovação apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) — atua como uma ponte entre o produtor rural e as novas formas de financiamento disponíveis no mercado.
A empresa tem como principal serviço a assessoria consultiva de crédito, com foco em desenhar soluções sob medida para sua propriedade.
“Temos dois pilares fundamentais por aqui: entender sua necessidade de crédito e buscar na Faria Lima os fundos, CRAs, fintechs ou outras instituições financeiras que, por suas características de financiamento, se adequem melhor ao motivo, taxa, garantia, prazo, e outras características”, explica Isadora.
Conscientização financeira
Além de intermediar operações, a Campo Capital atua também na organização financeira das fazendas. A ideia é torná-las legíveis ao mercado de crédito privado e mais competitivas nas taxas de financiamento.
“Se entendemos que o produtor ainda não possui a gestão necessária para acessar o mercado de capitais, indicamos empresas de consultoria financeira ou uma contabilidade especializada para ele fazer as adequações necessárias e se tornar apto a tomar crédito com melhores condições”.
A informalidade no agro ainda é um entrave, e a startup quer repetir no campo o movimento que levou à educação financeira da população brasileira nos últimos anos.
“Queremos trazer a conscientização financeira para a cadeia do agro, que ainda trabalha de maneira informal e sem um profissional com conhecimento técnico em finanças na equipe. Em ano de taxa Selic tão alta, a conscientização da tomada de crédito responsável é fundamental para a saúde financeira dos nossos clientes”, ressalta a executiva.
Crescimento e metas ambiciosas
Em 2023, a meta da startup era intermediar R$ 60 milhões em crédito. Para este ano, o número subiu para R$ 100 milhões — e deve ser alcançado, segundo a fundadora.
“Até meados de 2024, tínhamos um único produto de crédito disponível na carteira, que se encaixava para clientes específicos com necessidades específicas. Hoje, com esse portfólio em construção com casas de financiamento parceiras, a ideia é poder atender a qualquer demanda de crédito que passe na análise”.

Time da Campo Capital: (da esquerda para a direita) Renata Rizzo, Bruna Aguiar, Rafaela Caixeta, Isadora Caixeta, Leticia Soares e Laura Lessa. Foto: Nayara Bontempo/Divulgação
Contas no verde e créditos também
A ambição da empresa vai longe: ser um “dos principais atores do crédito verde no Brasil”.
Para isso, Caixeta reforça a importância de melhorar a saúde financeira e governança das Fazendas.
“Fazenda no “vermelho” não acessa crédito verde. Assim como a alimentação saudável e com baixo impacto no meio ambiente depende de uma produção regenerativa escalável. Para isso se manter de pé, as fazendas precisam ter também consciência financeira”.
Nos primeiros anos, a Campo Capital buscou integrar certificações socioambientais às suas análises de crédito como estratégia para oferecer taxas menores. Mas a prática trouxe um aprendizado importante.
“Não existe responsabilidade socioambiental sem responsabilidade financeira”, afirma Caixeta.
Segundo ela, a sustentabilidade precisa também existir nos números da empresa. A partir dessa constatação, o foco do ESG dentro da Campo Capital passou a ser a governança, com ênfase na profissionalização da gestão rural.
Um dos caminhos encontrados pela startup também foi a combinação de produtos tradicionais de crédito com linhas de financiamento ESG — o chamado “blended finance”.
Um exemplo é o CRA Verde oferecido pela empresa, que financia soja no Cerrado com áreas de excedente de reserva legal e compromisso de desmatamento zero.
“Esse financiamento vem de bolsos estrangeiros e nós auxiliamos também na indicação da trava do dólar para a maior proteção do caixa da fazenda, assim como se contrata seguro para a lavoura. Além de mais sofisticada, é uma alternativa mais barata em relação ao barter e ao financiamento padrão na hora da compra de insumos”.
Educação financeira no campo
Outro diferencial da Campo é o programa Jornada Financeira, lançado em 2024. A iniciativa acompanhou dez produtores rurais no tratamento e análise dos dados de seus caixas.
Os resultados foram concretos: eficiência tributária, decisões de investimento mais precisas e até propostas de remuneração para membros da família.
“Isso traz mais clareza para o dia a dia dos produtores rurais, facilita nas próximas tomadas de crédito, seja no banco tradicional ou no mercado de capitais. Na vida pessoal, ajuda a prevenir conflitos familiares e insônias”, conta.