Plataforma auxilia na mensuração e análise de ativos ambientais (Foto: Divulgação)
Dar suporte especializado e automatizado usando tecnologias digitais e uma metodologia própria para classificar o ambiente tendo em vista a necessidade crescente de integrar práticas sustentáveis no setor financeiro e corporativo. Essa é uma das metas propostas pela LandPrint, AgTech que integra o SNASH, hub de startups apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura
Ao perceber que muitas empresas enfrentavam desafios para medir, monitorar, relatar e, sobretudo, analisar o risco/retorno de investimento em programas de sustentabilidade que melhoram os ativos ambientais associados às suas operações e cadeias de suprimento, a empresa percebeu uma oportunidade de desenvolver uma solução que não só atendesse a essas necessidades, mas que também contribuísse para a sustentabilidade.
“Com o aumento da pressão por práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) transparentes e responsáveis, vimos a oportunidade de criar uma plataforma que tornasse essas mensurações sólidas, escaláveis e integradas às operações financeiras. Esses aspectos estão ganhando mais força a cada dia, à medida que as empresas precisam analisar a dupla materialidade de suas ações”, destaca o engenheiro ambiental com doutorado em engenharia de recursos naturais, fundador e CEO da LandPrint, Daniele Cesano.
A dupla materialidade, conforme explica o engenheiro, refere-se à avaliação tanto dos impactos financeiros das questões de sustentabilidade sobre a empresa quanto dos impactos que as atividades da empresa têm sobre o meio ambiente e a sociedade. No Brasil e na Europa estão sendo introduzidas legislações específicas para isso e a plataforma LandPrint, entre outros usos, tem como objetivo ajudar atender também esse mercado crescente.
Outros objetivos da startup
De acordo com o fundador da startup, o principal objetivo da LandPrint é oferecer uma plataforma robusta para mensuração e análise de ativos ambientais, que auxilie as empresas a construir um business case independente para investimentos que sejam positivos para a natureza.
“Embora a avaliação integrada do impacto financeiro versus o impacto ambiental ainda não esteja plenamente desenvolvida no setor agropecuário, esse é um passo crucial que permitirá a ampla adoção dessas mensurações no mercado”, avalia Cesano. “Isso, por sua vez, contribuirá para a melhoria do meio ambiente, seja para atender a regulamentações ou porque faz sentido do ponto de vista financeiro.”
Para atingir esse objetivo, o CEO informa que a solução da empresa se concentra em oferecer os seguintes serviços:
- Mensuração Precisa e Transparente de Ativos Ambientais: Garantir que as empresas possam monitorar e reportar seus impactos ambientais com confiança e exatidão.
- Integração de Sustentabilidade nas Operações Financeiras: Facilitar a incorporação de métricas de sustentabilidade nas estratégias e operações financeiras das empresas.
- Apoio ao Cumprimento de Regulamentações: Ajudar as empresas a atenderem às exigências regulatórias emergentes relacionadas à sustentabilidade e à ESG.
- Promoção da Economia Circular e Regenerativa: Incentivar práticas que maximizem o uso eficiente de recursos e promovam a regeneração dos ecossistemas.
“Esses são os pilares sobre os quais a LandPrint se baseia para ajudar as empresas a navegar e prosperar no cenário cada vez mais complexo e regulado da sustentabilidade”, pontua o engenheiro.
Impactos
Na avaliação do especialista, as soluções da LandPrint impactam o segmento de gestão de ativos ambientais e contribuem para a sustentabilidade em geral de diversas maneiras. Dentre elas, ele destaca a Análise de Investimento com Métricas Ambientais; Mensuração de Ativos Ambientais em Estruturas Financeiras como Títulos Verdes; Monetização dos Dados em Função das Melhorias nas Cadeias; Fornecimento de Insights para a Integração de Sustentabilidade nas Estratégias Corporativas. Além da Melhoria da Transparência e Conformidade Regulamentar.
“Ao fornecer dados claros e auditáveis sobre ativos ambientais, a plataforma facilita o cumprimento das regulamentações ESG emergentes, tanto no Brasil quanto em outros mercados. Isso não só ajuda as empresas a evitarem penalidades, como também melhora sua reputação e atratividade junto a investidores preocupados com a sustentabilidade”, explica Cesano.
Benefícios para o setor
Para o engenheiro, a importância das ações da empresa para o setor agropecuário é bem significativa, uma vez que ela fornece ferramentas que ajudam os produtores a monitorar e mensurar com precisão vários aspectos ambientais das operações deles e que impactam diretamente a sustentabilidade da cadeias e das empresas e financiadores, porque 70% do impacto ambiental na agropecuária está de fato nessa cadeia.
“Nosso foco é mensurar os ativos ambientais que são cruciais para garantir a sustentabilidade da atividade agropecuária como o uso de água, a qualidade do solo, e as emissões de carbono e a biodiversidade. Isso é super importante porque, com esses dados, eles conseguem entender melhor o impacto das práticas agrícolas e encontrar maneiras de melhorar e tornar tudo mais sustentável”, informa.
Além disso, um ponto forte citado pelo CEO é a possibilidade de monetizar essas melhorias ambientais ao gerar informações que permitem transformar práticas sustentáveis em créditos de carbono, como ARR e REDD, ou trabalhar com instituições financeiras para montar estruturas financeiras que possam remunerar os produtores por seu esforço através de mecanismos de “blended finance”, por exemplo, ou incluindo uma analise de risco associada a melhorias ambientais.
“Isso significa que, além de cuidar do meio ambiente, os produtores podem gerar uma receita extra, o que é um grande incentivo para adotar essas práticas”, pontua.
Outro fator listado por Cesano é que a plataforma facilita a conformidade regulatória, que é cada vez mais exigente, tanto no Brasil quanto no exterior. “Nossas soluções ajudam os produtores a estar em dia com as normas ESG, o que é fundamental para operar sem problemas e ainda fortalecer a reputação no mercado”, comenta.
Além disso, ele acrescenta que a plataforma ainda promove a agricultura regenerativa, que vai além da sustentabilidade tradicional. A ideia é ajudar os produtores a regenerar o solo, aumentar a biodiversidade e capturar carbono, o que é crucial para a longevidade e saúde das propriedades agrícolas.
Por fim, conforme pontua o especialista, tudo isso se traduz em maior eficiência e redução de custos, pois, ao otimizar o uso de recursos, os produtores conseguem economizar e ainda melhorar a competitividade no mercado. “Então, no geral, o que a gente faz é impulsionar o setor agropecuário para um futuro mais sustentável e lucrativo”, destaca.
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Principais desafios do setor
Conforme avalia o CEO, o principal desafio do setor é que ele ainda é muito reativo. Um exemplo claro disso é o regulamento EUDR de desmatamento zero, que vinha sendo discutido há bastante tempo, mas, quando finalmente entrou em vigor, pegou muitos de surpresa e muitas pessoas reclamando, apesar de a ciência dizer que o desmatamento em áreas tropicais como o Brasil afeta diretamente o ciclo hídrico, as metas ambientais e a resiliência produtiva, e está hoje associado a uma péssima reputação no mercado. “Isso mostra que o setor ainda não internalizou a sustentabilidade como um fator estratégico chave”, afirma.
Segundo ele, é fundamental que as empresas entendam que a gestão sustentável dos recursos ambientais não está se tornando aos poucos apenas uma obrigação regulatória, mas um elemento essencial para aumentar a resiliência climática, reduzir riscos de investimento, melhorar a reputação e diminuir a exposição a riscos regulatórios.
“Infelizmente, a maioria das empresas ainda adota uma postura reativa, focada apenas no curto prazo e tentando repassar custos, em vez de ver a sustentabilidade como um investimento que trará benefícios concretos e monetizáveis ao longo do tempo”, lamenta.
Diante desse cenário, ele afirma que plataforma foi criada justamente para ajudar as empresas a fazer essa transição, oferecendo as ferramentas necessárias para que possam não só cumprir as exigências regulatórias, mas também ganhar competitividade no mercado ao adotar uma postura mais proativa e estratégica em relação à sustentabilidade.
“Estamos em busca de parceiros que já entenderam essa dinâmica e querem se posicionar em frente dos demais. Não tenho dúvida que isso trará uma grande vantagem competitiva para os primeiros ‘early movers’, aqueles que estão na frente do mercado e se destacando”, prevê.
Cenário atual e futuro
Para Cesano, o cenário atual do segmento de sustentabilidade e gestão de ativos ambientais está em uma fase de transição significativa, no entanto, muitas empresas ainda enfrentam desafios, especialmente no que diz respeito à internalização da sustentabilidade como um elemento central em suas operações.
“A postura reativa que domina grande parte do setor pode se tornar um obstáculo significativo, já que as mudanças necessárias para uma transição sustentável são profundas e exigem uma visão de longo prazo. Quanto às perspectivas para o futuro, acredito que veremos um aumento na adoção de tecnologias que possibilitem uma gestão mais eficaz e transparente dos ativos ambientais”, acredita o CEO
Para ele, ferramentas que oferecem dados precisos e que auxiliam na análise do impacto ambiental e do retorno financeiro desses investimentos terão um papel crucial. Além disso, a pressão regulatória deve continuar a crescer, forçando mais empresas a adotarem práticas sustentáveis para manter sua competitividade.
Um ponto importante destacado pelo engenheiro é que a mensuração de ativos ambientais substitui parcialmente o processo de certificação, pois oferece rastreabilidade em tempo real e fornece dados valiosos para a empresa, o que não acontece com a certificação tradicional, que delega a terceiros a garantia de consistência com algum critério de sustentabilidade. Além disso, são poucos no mercado que entendem o que os selos comunicam.
“A substituição de certificação por mensuração de ativos é uma abordagem escalável, clara e transparente, permitindo uma melhoria contínua na inteligência de negócios (BI), algo que as certificações, por si só, não conseguem proporcionar”, conclui o CEO da LandPrint.