Um container-fazenda pode chegar a produzir uma tonelada e meia de cogumelos ou 10 mil bandejinhas de microverde por mês
Pioneiros na América do Sul na produção de brotos e cogumelos em ambientes controlados, a Mighty Greens – que integra o Startup Hub apoiado pela Sociedade Nacional de Agricultura, o SNASH – , aposta em um novo modelo de negócios: fazendas modulares dentro de containers, que podem ser facilmente escaláveis e até mesmo móveis.
A startup, por meio da sua expertise ao longo dos últimos anos, vende a fazenda pronta e ainda ajuda a tocar a sua operação, por meio do controle remoto de variáveis como temperatura, umidade, entre outros.
“O container vai pronto, com toda a estrutura dentro dele”, explica Natale Papa Junior, CEO da Mighty Greens, em entrevista à Revista A Lavoura.
“Todo o controle das variáveis ambientais, garantindo essa produtividade elevada que a gente tem por metro quadrado, se dá remotamente. O produtor não precisa se preocupar”, completa.
Segundo Natale, um container-fazenda pode chegar a produzir uma tonelada e meia de cogumelos ou 10 mil bandejinhas de microverde por mês. Isso pode gerar para o produtor uma renda em torno de R$ 150 mil, em valores de mercado, ou até um pouco mais, dependendo da composição e do cultivo.
“Já temos mais de 70 produtos testados que podem ser produzidos nesse formato modular. De diferentes tipos de cogumelos, a folhas de maneira geral, e até pasto, que pode ser usado, por exemplo, para abastecer animais de áreas rurais, ou cavalos de um “jockey club”, diz o executivo.
Tipos de clientes
Hoje a Mighty Greens olha para três tipos de clientes para as fazendas em containers. Os empreendedores que queiram montar seu próprio negócio, operar e comercializar essa produção.
Os food service de maneira geral, que queiram montar fazendas para abastecer seus próprios clientes, a exemplo de um supermercado que pode instalar uma fazenda para abastecer as próprias unidades.
E o terceiro seria a indústria, que também pode eventualmente produzir insumos presentes na sua cadeia de produção para serem beneficiados.
“É um portfólio grande de possibilidades e, com esse modelo de fazenda modular, fica também fácil. Ele pode, eventualmente, levar o container, tirar de um lugar, colocar em outro. Então, ainda tem essa flexibilidade”, explica Papa.
A primeira fazenda neste modelo já está em construção, em um bairro da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro.
“Vai ser uma fazenda no Grajaú, de microverdes. Essa primeira fazenda em construção, já com licenciamento, já com um operador de Smart Farming, que é como a gente chama o nosso modelo”.
Produção sustentável
Além da fazenda operada por terceiros do Grajaú, a empresa já possui sua unidade própria de produção em outro bairro, em São Cristóvão. Nela, são produzidos cogumelos do tipo shitake para atender o varejo e restaurantes.
Natale destaca as vantagens ambientais e econômicas de uma fazenda instalada em uma área urbana, como a cidade do Rio, e estar perto do centro de consumo.
“Justamente por estar próximo ao centro consumidor, conseguimos reduzir o custo logístico e a emissão de CO2. Então, também essa pegada precisa ser sustentável”, pontua.
“Além disso, hoje aqui no Brasil, entre um terço e um quarto de toda a produção agrícola é desperdiçada, e a maior parte disso por questões logísticas. Sendo assim, também diminuímos esse desperdício por essa facilidade na distribuição”, diz.
Nas prateleiras a sustentabilidade também está garantida. A empresa desenvolveu uma embalagem 100% compostável. Outro ponto é a produtividade alinhada ao melhor uso de recursos hídricos e a ausência de defensivos químicos.
“É um produto totalmente natural, sem defensivos químicos Basta eu reproduzir a natureza ali. Tudo de uma forma artificial, em que reproduzo luminosidade, temperatura, umidade relativa”, explica o empresário.
Natale destaca que a energia elétrica utilizada é 100% renovável, por meio de compra de energia no mercado de livre, e a água do ar condicionado é reaproveitada na umidificação do ambiente, o que reduz o uso em 99%.
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Ao controlar essas variáveis, o empresário explica que é possível obter um cogumelo com menos água na sua composição.
“Isso deixa ele mais carnudo. Acaba sendo mais interessante para o consumidor, não só pela qualidade do produto, mas também pelo fato de que, com menos água na composição, ele demora mais a oxidar, consequentemente, tenho um tempo de prateleira até três vezes mais longo do que a maioria dos meus concorrentes. Isso, de novo, reduz o desperdício.”
Se não bastasse, por se tratar de um ambiente controlado, também é possível dar mais previsibilidade, seja do lado do produtor, como da demanda.
“É possível produzir conforme a expectativa de demanda. Então, o controle das variáveis e estar perto do centro consumidor, possibilita, de alguma forma, aproveitar dessa previsibilidade de demanda para ter a previsibilidade da produção”.