Saiba quais aperitivos seu pet pode ingerir sem causar problemas à saúde do animal
Tudo importa quando a questão é “o que entra na boca de nossos pets”. Assim, todos os tipos de alimentos, incluindo petiscos, água e brinquedos, merecem uma seleção atenta, já que a lista de ingredientes, a presença de aditivos químicos, o método de processamento e até o país de origem dos componentes podem conter algo não indicado para esses bichinhos.
Além disso, os tutores também precisam controlar a quantidade de petiscos dada aos seus pets, para que isso não contribua em calorias a mais ou até mesmo em ingredientes que possam desequilibrar a dieta dos animais.
“O ideal é estipular um máximo para esse consumo. Para isso, há uma regrinha que indicamos para os tutores. Calcular de 10% a, no máximo, 15% do total do alimento dado, em gramas, que esse animal recebe por dia, ou seja, se ele come cerca de 300 gramas diários, a quantidade de petiscos indicada é de 30 gramas, entrando como um extra”, explica a médica veterinária, especialista em nutrição animal e sócia fundadora da Cachorro Verde, Sylvia Angélico.
Frequência
Sylvia esclarece que os petiscos não necessariamente devem fazer parte da dieta diária dos animais. “Na verdade, eles são opcionais. Os tutores acabam se vendo ‘obrigados’ a dar esses aperitivos pelo fato de, hoje em dia, os animais não estarem mais fora de casa, mas sim no ambiente interno, participando das refeições e do convívio diário”, observa.
Outra característica destacada pela médica veterinária diz respeito aos petiscos que são dados aos animais para reforçar um comportamento, como aquele que é oferecido sempre que o pet faz xixi no lugar certo, por exemplo. É o chamado “reforço positivo”.
Ela acrescenta ainda que os petiscos podem ser considerados interessantes para animais que consomem apenas ração, pois, nesse caso, eles podem ser uma oportunidade de inserir um pouco de riqueza nutricional na alimentação desses pets.
“Pode-se, então, através dessa inserção, promover uma diversidade nutricional, com nutrientes vindos de alimentos frescos e não processados, como os presentes na ração. Ou seja, oferecer um petisco natural, nesses casos, é um enriquecimento considerável que o tutor consegue promover quando, por diversas razões, não consegue tirar a ração como alimento daquele pet”, reforça a fundadora da Cachorro Verde.
O que pode e o que não pode
Os petiscos mais indicados pela especialista são aqueles que, além de seguros, também contribuem nutricionalmente, como frutas variadas e ricas em antioxidantes e vitaminas, como, por exemplo, goiaba, kiwi, abacaxi. “As frutas cítricas são seguras para cães saudáveis, já que eles têm o PH gástrico muito mais ácido do que nós, humanos, capaz de tolerar esses pedacinhos de frutas cítricas”, informa.
Como dica, ela informa que variar também é uma boa forma de oferecer petiscos ao pet. “Ovos de galinha, de codorna, pedacinhos de queijos magros que sejam boa fonte de proteína, como cottage, ricota, queijo branco, além de carnes magras, e também os minimamente processados, como pedaços de vegetais como cenoura, pepino, brócolis, couve-flor, rabanete, aipo, pedacinho de abobrinha, folhas, entre outros”, lista.
Ainda entre os alimentos que podem ser oferecidos como petiscos, ela cita o iogurte, coalhada e o kefir, que são laticínios fermentados e, naturalmente, mais pobres em caseína e ricos em complexo B, vitamina K, além dos probióticos, que são boas bactérias intestinais.
“Também são recomendados pedacinhos de carnes magras. Enfim, esses são alguns dos petiscos que podem ser considerados seguros para a maioria dos pets”, sugere Sylvia, mas alerta que intolerâncias individuais podem acontecer.
Já nos petiscos que não podem, ela alerta sobre os produtos comerciais. “Esses petiscos têm de tudo. Tem alguns bons, com uma composição honesta, limpa, não há aqueles nomes impronunciáveis, com mil e um aditivos, como corantes, espessantes, preservantes, etc., e há aqueles somente com dois ou três ingredientes, que têm uma preocupação com a composição, da origem, se é nacional ou importado”, pondera.
Outros cuidados
Ainda em relação aos demais cuidados com os petiscos, Sylvia alerta que os tutores não devem, nunca, oferecer aos pets, alimentos muito condimentados, como os apimentados, nem os muito salgados ou gordurosos. “Osso cozido também não deve ser dado aos pets, pois o cozimento modifica a estrutura do colágeno, e isso dificulta a digestão e favorece o processo de perfuração da alça intestinal e de obstrução”, aponta.
Segundo ela, algumas frutas também não são recomendadas, como uvas e carambolas, por conta de substâncias que possam interferir no funcionamento dos rins dos animais. “Além disso, chás com cafeína, café, bebidas alcoólicas, entre outras coisas. As macadâmias também não são indicadas, porque podem causar problemas intestinais”, orienta.
Um petisco que a especialista informar ser totalmente proibido é o chocolate, que, dependendo da quantidade ingerida, pode levar o animal a convulsionar, perder a consciência, além de causar problemas cardiovasculares. “Enfim, também é preciso, além de cuidados, bom senso da parte dos tutores em relação ao que se oferece ou não para o pet”, orienta.
Fique atento
Nos últimos 15 anos, o FDA (Food and Drug Administration, agência federal nos Estados Unidos) recebeu mais de 6 mil de relatos de pets supostamente intoxicados por bifinhos. Em 2014, a entidade se uniu ao CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e verificou que bifinhos produzidos na China provavelmente eram a causa da intoxicação.
O elemento causador não foi isolado, mas a investigação encontrou contaminantes potencialmente prejudiciais, como resíduos de antibióticos e antivirais, traços de melamina, níveis excessivos de glicerina, além de erros de rotulagem. A situação alarmou os Estados Unidos e levou muitos consumidores e até grandes franquias de pet shops do país a recusar petiscos produzidos na China.
Sabe aqueles “ossos” de couro bovino? Um estudo científico finlandês, publicado em fevereiro de 2023, avaliou que filhotes de cães que roem esses “ossos” pelo menos duas vezes por mês têm risco significativo de desenvolver doença gastrintestinal. Isso, por conta da baixa digestibilidade do couro e da presença de substâncias tóxicas que detonam a mucosa digestiva. Em 2017, o FDA suspendeu a venda de petiscos de couro bovino contaminados com amônia quaternária.
Em 2022, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) encontrou monoetilenoglicol, aditivo de baterias e motores de carro e geladeiras, em petiscos para cães. A lei permite o uso do aditivo propilenoglicol em alimentos, para manter a maciez e a conservação, mas jamais o monoetilenoglicol, altamente tóxico aos rins e ao sistema nervoso se ingerido. Ao menos 54 cães morreram, mas o número real pode ter sido o dobro.
Como orientações finais, a veterinária lista mais alguns petiscos que devem ser evitados pelos tutores. “Recomendo fugir de ossos defumados, “ossos” e palitos de couro, subprodutos de milho, soja e trigo (farinhas alergênicas), nomes difíceis de pronunciar e siglas – como propilenoglicol, B.H.T. e B.H.A”, arremata Sylvia.