Ativos manipulados valorizam o papel desses microrganismos para promover saúde digestiva, imunológica e sistêmica em cães e gatos (Foto: Edjane Madza)
De um lado, o intestino. Do outro, o cérebro, o sistema imunológico, a pele e até o humor. Entre eles, um elo invisível e vital: a microbiota. Esse conjunto de trilhões de microrganismos que habita o trato gastrointestinal de cães e gatos está no centro de uma verdadeira revolução na medicina veterinária funcional, não apenas pela complexidade, mas pelo impacto que seu equilíbrio ou desequilíbrio pode ter sobre a saúde geral dos animais.
A microbiota intestinal desempenha papel essencial na digestão, na imunidade e na integridade da mucosa gastrointestinal. Quando em desequilíbrio (disbiose), pode desencadear manifestações gastrointestinais, dermatológicas e comportamentais, como diarreia crônica, flatulência, dermatites, queda de pelo, prurido, distúrbios comportamentais, entre outros.
“O intestino é mais do que um órgão digestivo. Ele abriga cerca de 70% das células imunológicas do corpo e se comunica diretamente com o cérebro, a pele e outros sistemas. Por isso, estratégias terapêuticas que incluem a modulação da microbiota têm se mostrado eficazes não apenas em distúrbios gastrointestinais, mas também em condições dermatológicas, imunológicas e metabólicas”, explica a médica-veterinária, Farah de Andrade.

O equilibrio e o desequilibrio da microbiota impactam a-saude geral dos animais. Foto: Melvin Quaresma
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Do laboratório ao intestino
Os probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro. Lactobacillus acidophilus, rhamnosus e plantarum, por exemplo, ajudam a restabelecer o equilíbrio microbiano intestinal, reforçar a imunidade e reduzir inflamações, especialmente importantes em pacientes com histórico de disbiose, infecções recorrentes ou uso prolongado de antibióticos.
Já os prebióticos são fibras não digeríveis que servem de alimento para essas bactérias benéficas, estimulando seu crescimento e atividade no trato intestinal. Compostos como os frutooligossacarídeos (FOS) e mananoligossacarídeos (MOS) são frequentemente prescritos para favorecer um ambiente eubiótico.
O uso conjunto de probióticos e prebióticos caracteriza a atuação simbiótica, com efeitos sinérgicos na restauração da microbiota e no suporte imunológico. Essa abordagem é particularmente indicada em quadros de enteropatias crônicas, alergias alimentares, colites e outros distúrbios digestivos.
Outra abodagem é trabalhar com ativos imunomoduladores e regeneradores da mucosa intestinal, como a glutamina, um aminoácido essencial para os enterócitos (as células da parede intestinal), especialmente útil em casos de lesões, inflamações ou recuperação pós-cirúrgica. Destaque também para o butirato de sódio, um ácido graxo fundamental para a regeneração da mucosa intestinal, com ação anti-inflamatória direta e papel na modulação do sistema imune.

Ativos manipulados ajudam a valorizar o papel da microbiota. Foto: Priscilla Fiedler
Ativos de origem natural como a berberina e a curcumina, apresentam propriedades antioxidantes, antimicrobianas e anti-inflamatórias e são frequentemente utilizadas em protocolos integrativos para cuidado do trato digestivo e manifestações dermatológicas associadas à disbiose. A composição se completa com os ácidos graxos de cadeia média e curta, que ajudam a regular o pH intestinal, inibir o crescimento de bactérias patogênicas e fortalecer as barreiras naturais de defesa do organismo.
Todos esses ativos podem ser manipulados em formas farmacêuticas adaptadas ao comportamento e às preferências do pet — desde biscoitos e caldas flavorizadas até pastas orais, sachês ou cápsulas, com sabores como frango, carne, salmão ou leite condensado. “Esse cuidado com a forma e o sabor não é um detalhe, mas um fator determinante para a adesão ao tratamento”, explica Farah, reforçando que medicamentos só fazem efeito se forem administrados corretamente, e isso depende da aceitação pelo animal.
“Embora o microbioma ainda seja um universo em expansão na veterinária, é evidente que o seu papel será cada vez mais central nos protocolos terapêuticos. E nós estamos prontos, com ciência, tecnologia e respeito às particularidades de cada paciente”, conclui a médica-veterinária.








