Compreender as peculiaridades desses animais facilita a vida do tutor, além de colaborar com a qualidade de vida dos bichanos
Foto de Piotr Musioł na Unsplash
Por terem hábitos alimentares próprios e paladares relativamente sofisticados, os gatos ganham fama e incontáveis memes na internet, tanto que é comum encontrar alguma publicação de um felino reclamando que está passando fome em frente ao comedouro cheio, por exemplo.
Entretanto, embora esses comportamentos provoquem alguns risos, é preciso conhecer alguns mitos e verdades sobre o assunto e que entender as peculiaridades da espécie facilita a vida do tutor e colabora com a qualidade de vida dos bichanos.
A primeira verdade sobre os hábitos alimentares dos gatos destacada pela médica-veterinária e consultora da DrogaVET, Farah de Andrade, é que, assim como os felinos de grande porte (tigres, onças, entre outros), os gatos domésticos também são carnívoros obrigatórios, o que significa que sua dieta natural é composta principalmente de carne.
“Na natureza, a ingestão de folhas, grãos e vegetais é feita em menor proporção e por meio dos alimentos contidos no estômago das presas. Por isso, a alimentação natural e as rações incluem também legumes, verduras e até mesmo carboidratos, em menor proporção”, informa.
Segundo ela, algumas características do organismo dos gatos são exclusivas de carnívoros, como ter menos dentes molares e pré-molares, se comparados aos cães, e dentes caninos maiores para perfurar e rasgar a carne das presas.
“O sistema digestório é mais simples, pois há baixa ingestão de fibras e carboidratos, tendo o estômago menor e o intestino mais curto que outras espécies. Além disso, o gato não possui a enzima que dá início à digestão dos carboidratos na boca, a amilase salivar”, acrescenta Farah.
Outra verdade, além de ser uma característica curiosa, é que os gatos não conseguem detectar o sabor doce devido à ausência de um receptor específico e ao número de papilas gustativas reduzidas, cerca de 500, enquanto os humanos possuem mais de 9 mil. No entanto, os sabores amargo, salgado e ácido são percebidos pelos felinos.
“Embora o paladar não seja como o nosso, o olfato é o sentido mais utilizado: os gatos que têm três vezes mais células olfativas do que os humanos. Por isso, a alimentação deve ser bem cheirosa e a interferência de outros odores junto aos comedouros deve ser evitada, como o uso de produtos de limpeza e essências para o ambiente”, complementa a veterinária.
Mitos
A especialista também esclarece sobre alguns mitos relacionados à alimentação dos bichanos. O primeiro deles é que são seletivos para comer porque são mimados. “O que parece frescura, na verdade é o instinto de proteção dos felinos. A ração que fica exposta por muito tempo perde o frescor, o odor e pode até proliferar microrganismos, o que é interpretado pelo gato como um alerta de perigo”, comenta Farah.
Além disso, segundo a veterinária, eles não gostam de encostar os bigodes nos potes e podem se recusar a comer os grãos de ração que ficam nos cantos. Ela lembra também que o ideal é disponibilizar a alimentação mais vezes ao dia e na quantidade necessária para o período.
“Os gatos preferem fazer várias pequenas refeições, em vez de consumir grandes quantidades de uma só vez, assim como seus ancestrais selvagens, que capturavam pequenas presas diversas vezes ao dia”, ressalta. “Considerando ainda a ancestralidade, a preferência por alimentos úmidos e suaves vem da semelhança com carne fresca”, complementa.
Na avaliação da especialista, esse fator também pode ser considerado quando o gato precisa de um tratamento, uma vez que eles não costumam aceitar a ingestão de comprimidos, mas podem se adaptar facilmente com medicamentos manipulados em formas úmidas, como molhos e pastas orais, e se sentirem atraídos pelos flavorizantes de peixe, frango, carne e queijo, por exemplo.
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“Os hábitos alimentares adquiridos nos primeiros seis meses de vida também influenciam as escolhas quando adultos. Se experimentarem texturas e sabores variados quando filhotes, eles se adaptarão mais facilmente a dietas diversificadas”, acrescenta.
Outro mito é sobre a preferência dos gatos pelo sabor de peixe. Na natureza, de acordo com a profissional, os felinos caçam mais aves e roedores. Por isso, rações e alimentação natural com carne bovina, de cordeiro e, especialmente, frango costumam fazer muito sucesso.
“É preciso observar o apetite do pet com a ração ou alimentação. Se ele não parecer tão motivado a se alimentar, é importante testar um novo sabor, lembrando que a troca de ração deve ser gradativa para não afetar o sistema digestório do animal. Além disso, gatos não devem ficar longos períodos sem se alimentar. Então, nada de deixar o gato sem comer na tentativa de que ele aceite o sabor disponível”, alerta Farah.
A veterinária também revela que na rotina da farmácia o sabor frango é o mais pedido, seguido por salmão e atum. Sendo assim, conhecer o paladar e o que estimula o olfato do pet é crucial, não somente para a dieta do animal, mas também para quando ele precisa de um tratamento.
Por fim, ela comenta que, além das peculiaridades alimentares dos bichanos, é importante considerar os cuidados com a higiene para garantir a aceitação dos alimentos e a saúde dos pets. “É recomendável manter um local fixo para os comedouros, sempre longe da caixa de areia, e lavá-los após a alimentação para evitar a proliferação de microrganismos”, orienta a veterinária.