Doença é uma das zoonoses mais graves para cães e seres humanos
Em 2021, mais de 150 mil doses da vacina contra leishmaniose visceral canina (LVC) foram distribuídas pela VetBR, número 50% maior do que o registrado em 2020. As vacinas contra a doença devem ser utilizadas em animais expostos ao risco ou que vivem em áreas endêmicas, como o Brasil.
Entretanto, menos de 3% dos cães chegam a ser vacinados contra essa doença no país. “O índice é baixo, mesmo em estados com maior prevalência da doença, como Minas Gerais e Ceará”, sinaliza a gerente comercial da empresa, Ivana dos Santos.
De acordo com a distribuidora, o incremento de 50 mil doses repassadas no ano passado é um efeito da pandemia da Covid-19, período marcado por um aumento no número de adoções de cães, associado ao maior tempo que os tutores passaram em casa e conseguiram dar mais atenção à saúde dos animais.
Etapas
No cronograma da vacina, a primeira aplicação em cães é feita com três doses da vacina aos quatro meses de idade. A partir daí, é recomendável a revacinação anual, com apenas uma dose, o que, na avaliação da distribuidora, deve interromper esse ‘boom’ já em 2022.
Para isso, é fundamental que os donos continuem vacinando os animais com o reforço anual. Outro fator de prevenção é o uso de pipetas com efeito repelente, que afasta o mosquito parasita, e pode ser feito a partir de sete semanas de vida ou 1,5 kg de peso, protegendo o filhote, bem antes da primeira dose da vacina.
Além disso, é preciso mais empenho dos órgãos de saúde pública no controle da doença e nas informações repassadas à população. A LVC é uma doença de notificação compulsória, sendo os veterinários responsáveis pelos animais obrigados a preencher a Ficha de Investigação Epidemiológica (FIE). Entretanto, muitas cidades não possuem um centro de controle de zoonoses ou local adequado para fazer essa notificação.
Outros cuidados
Outro ponto de atenção é o combate aos mitos sobre a eficácia da vacina. É obrigatório o exame sorológico negativo e exame clínico antes da vacinação, certificando que o animal não apresenta nenhum sintoma clínico da doença, porém, a soroconversão (janela imunológica) leva em média 3 a 5 meses pós-infecção em animais assintomáticos, podendo chegar a 2 anos ou mais. Sendo assim, o exame pode apontar um falso negativo para animais já infectados.
A transmissão da leishmaniose visceral canina ocorre principalmente pela picada do flebotomíneo, mais conhecido como mosquito-palha. “O cão é considerado o responsável pela manutenção do ciclo biológico no ambiente urbano, pois apresenta o maior número de parasitas, principalmente na pele”, explica a médica veterinária da VetBR, Larissa Barros Santos.
De acordo com a especialista, o diagnóstico é considerado difícil, pois há grande variedade de sintomas que não confirmam a doença, como crescimento exagerado das unhas, anemia, palidez da mucosa, dermatites, crescimento do baço e fígado, entre outros.
A prevenção é tratada como essencial pelos especialistas em saúde animal. Segundo dados do Ministério da Saúde, o país registra, em média, 3,5 mil casos da doença em humanos todos os anos.
De acordo com dados mais recentes, de 2018, cerca de 300 pessoas morreram vítimas de leishmaniose visceral no Brasil, o que leva a uma taxa de letalidade de 8%. A título de comparação, a relação de contaminados/mortes de humanos por outras doenças transmitidas por vetores, como zika, dengue e chikungunya não chega a 0,1%.
“Para os cães, há tratamentos contra a leishmaniose que aumentam a sobrevida e a qualidade dela para o animal infectado, mas não há cura”, conclui Larissa.